Sambas de chico e ivone lara viram histórias em quadrinhos

Sambas de Chico e Ivone Lara viram histórias em quadrinhos – 23/05/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Na Lapa dos anos 1980, o jornalista Fagundes vai detrás de um malandro profissional em procura de um furo para sua pilar social. Tito Navalha, sem gravata e sem capital, come cabrito com arroz de brócolis escoltado de um chope gelado enquanto dá detalhes exclusivos sobre os mais respeitados vulgos da cidade.

A cena é baseada na música “Homenagem ao Malandro”, de Chico Buarque, e está contida no livro “Samba – Música Popular em Quadrinhos (MPQ)”, que transforma sambas de sucesso em HQs.

As histórias não assumem uma tradução literal das canções. A proposta do livro é desafiar os ilustradores a contarem visualmente o enredo, o toque, a batida, o ritmo e o contexto das músicas sem necessariamente recitá-las.

Leandro Assis ilustrou “Homenagem ao Malandro” dando vida a Tito Navalha, um malandro típico do Rio de Janeiro. Em preto e branco, o protagonista narra a variedade da safadeza carioca, que vai de cabo eleitoral a salteador de velório.

O processo criativo de Assis nasceu da curiosidade e fascínio pelo tema, “desde filme de golpe americano até os malandros brasileiros”. “Essa vida à margem, essa preocupação por não trabalhar e perfazer tendo até mais trabalho do que quem trabalha, mas não querer ser o otário, o explorado.”

As ideias para seus personagens vieram das pesquisas em arquivos de jornais antigos na Livraria Pátrio. “Malagueta, Perus e Bacanaço”, de João Antônio, inspirou o responsável a variar as histórias e estilos dos vigaristas.

A potiguar Luiza de Souza, conhecida uma vez que Ilustra Lu, desenhou um triângulo amoroso ao som de “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa, em seu primeiro quadrinho encomendado. Ela dá vida a Naya, Gegê e Maria, inspirada por “fofocas absurdas de amigas”.

A música compõe a narrativa e integra o cenário, que evolui com o ritmo do pandeiro e “está ali uma vez que um componente para fazer você imergir na história”, conta Souza. “Eu tentei fazer uma história que eu ia querer ler, uma vez que uma grande fofoca que você está vendo ocorrer ali na sua frente.”

O som faz segmento da técnica da ilustradora. “Eu faço playlists para cada história. Eu construo os personagens, a narrativa ou a ordem das coisas pensando na trilha sonora.” Billie Eilish na música “Bitches Broken Hearts” inspirou a estética de Nayara, que “resume muito a vontade do clipe”.

Ela diz que “o quadrinho é uma instrumento muito democrática, tanto para quem lê quanto para quem faz.” Logo, escolheu descrever uma história “com representatividade de gente chata, de gente que não presta, que também é LGBTQIA+”.

Rafael Calça e Tainan Rocha trabalharam em conjunto no quadrinho “Zé do Caroço”, de Leci Brandão. O samba retrata a história do participador popular do Morro do Pau da Bandeira, no Rio de Janeiro. Calça criou o roteiro e Rocha ilustrou a HQ.

As páginas têm uma mistura de cores e sensações, que vão de quentes quando mostram a relação de pai e rebento até tons frios quando o Zé do Caroço sofre repressão por quebrar o silêncio imposto pela ditadura.

A dupla buscou entender a Vila Isabel dos anos 1970 para contextualizar o Rio de Janeiro da estação, sob Ernesto Geisel, e qual era a prestígio de Zé do Caroço. Segundo Calça, além de ele prestar um serviço social à comunidade, “fazia isso interferindo na romance das nove, num momento de grande distração das pessoas, que ele considerava uma desvario”.

Para Rafael, HQ é cultura popular e as pessoas gostam muito mais de quadrinhos do que pensam. “Secção de uma conversa também passa por emprestar um livro que é importante para você a outra pessoa. Pode ser literatura, pode ser uma história em quadrinhos. Às vezes a gente não tem mais palavras para amparar o outro. Você dá uma história, e ela vai completar tudo que a gente sente.”

A publicação reúne oito contos com 29 páginas cada e foi criada pelo Instituto Guimarães Rosa em parceria com a editora Brasa e a Bienal de Quadrinhos de Curitiba.

Também participam da obra Raphaela Corsi, a Karmaleão, adaptando a música “Alvorada”, de Cartola; Evandro Alves com “Coração Leviano”, de Paulinho da Viola; Odyr Bernardi com “Rabino-Sala dos Mares”, de Aldir Blanc e João Bosco; Christiano Mascaro com “Malandro”, de Jorge Aragão; e André Diniz com “Candeeiro da Vovó”, de dona Ivone Lara.

Folha

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