Sebastião salgado: 10 fotos que contam sua intensa relação com

Sebastião Salgado: 10 fotos que contam sua intensa relação com Amazônia

Celebridades Cultura

Fotógrafo brasiliano documentou histórias de mina proibido, conflitos com madeireiros, garimpeiros e autoridades locais, mortes por falta de atendimento médico e episódios de perseguição
Livro e exposição reúnem imagens feitas desde os anos 1990; Na foto, Ino Tamashavo mostra os colares típicos dos marubo e seu pássaro de estimação
Sebastião Salso | Taschen
Por trás das belas imagens em preto e branco de montanhas, rios e da floresta amazônica — e dos retratos de 12 das 305 etnias indígenas presentes na região exclusivamente no Brasil — Sebastião Salso documentou histórias de mina proibido, conflitos com madeireiros, garimpeiros e autoridades locais, mortes por falta de atendimento médico e episódios de perseguição.
O fotógrafo morreu nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, na França, onde vivia, em Paris.
Salso dedicou sete anos ao projeto Amazônia, transformado em livro (ed. Taschen) e exposição internacional — que passou por Londres, Roma, Paris e São Paulo.
“Os brasileiros têm que saber quem é a Amazônia e quem são esses indígenas, seus nomes. O brasiliano tem que principiar a olhar, ver, refletir e tomar posição. Aquilo tudo ali é nosso. Portanto temos que tomar conta da vivenda”, afirmou à BBC News Brasil a arquiteta Lélia Wanick Salso, curadora da exposição e parceira do fotógrafo, em 2022.
A seguir, confira algumas imagens do projeto.
Livro e exposição têm muro de 200 imagens de parques nacionais e povos amazônicos; na foto, a chuva intensa no Parque Vernáculo da Serra do Divisor, no Acre
Sebastião Salso | Taschen
A região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas, próxima à fronteira com o Peru, abriga sete povos indígenas de contato recente ou permanente, além de pelo menos 14 grupos isolados — oito com registros confirmados e seis em estudo ou sob investigação. Trata-se da maior população indígena não contatada do mundo.
Salso foi o primeiro a registrar os korubo, em outubro de 2017. Também fotografou os marubo — uma das maiores populações da região, com muro de 2.500 pessoas.
Os korubo iniciaram os primeiros contatos com não indígenas nos anos 1990, durante um surto de malária. Atualmente, são muro de 100 pessoas, vivendo em duas aldeias e com pouca interação com o mundo exterior.
Outros grupos permanecem em isolamento e, segundo a Instalação Vernáculo do Índio (Funai), enfrentam ameaças constantes de invasores, principalmente garimpeiros, em áreas uma vez que os rios Jutaí e Jandiatuba. Poucos falam português.
Pinu Vakwë Korubo (esq.), com um pássaro cujubi pendurado no ombro, e Xuxu Korubo, com flechas no ombro, foram fotografados por Salso em 2017
Sebastião Salso | Taschen
Ino Tamashavo mostra os colares típicos dos marubo e seu pássaro de estimação
Sebastião Salso | Taschen
Beto Marubo, da União dos Povos do Vale do Javari (Univaja), que acompanhou Sebastião Salso na expedição, relatou à BBC News Brasil, em 2022, os bastidores da viagem.
“Em 2017, Sebastião Salso me procurou querendo acessar os índios korubo. Na era, eu não sabia quem ele era e disse: ‘Não concordo. Esse tipo de trabalho tende a retratar os indígenas uma vez que se vivessem isolados e puros, o que não condiz com a veras. Eles estão vulneráveis diante de uma Funai que irregularidade em protegê-los e, muitas vezes, os coloca em risco. Não acho manifesto’.”
Segundo ele, a decisão foi precedida por semanas de conversa. “Ficamos um mês nessa discussão. Mas ele disse: ‘Beto, eu quero e posso ajudar você. Vou levar essa preocupação a todos os fóruns em que eu apresentar essas fotos. Não é só falar, é mostrar. Eles vão se sensibilizar’. E eu acabei indo com ele.”
Para Marubo, era fundamental que as imagens fossem acompanhadas de depoimentos dos povos retratados e explicações claras, “para quem não entende zero de índio”.
“Antes, as exposições do Sebastião Salso eram só ele e as fotos. Agora, têm esse componente de dar voz aos indígenas”, afirmou.
Segundo associações indígenas, o rio Cotingo, visto na foto, é um dos mais visados pelos garimpeiros ilegais que atual na TI Raposa Serra do Sol
Sebastião Salso | Taschen
A Terreno Indígena Raposa Serra do Sol, uma das primeiras e maiores áreas demarcadas no país, também foi retratada no projeto.
O território, símbolo da luta pelos direitos dos povos originários, teve a demarcação confirmada pelo Supremo Tribunal Federalista (STF) em 2009 — uma decisão histórica que estabeleceu diretrizes para processos posteriores.
Entre as condições fixadas pelo STF estão a proibição de ampliar terras já demarcadas, a possibilidade de instalação de bases militares e o livre aproximação da Polícia Federalista e do Tropa, sem premência de autorização da Funai. A decisão também vedou o mina por indígenas nos territórios.
Murado de 28 milénio indígenas vivem na Raposa Serra do Sol, entre eles macuxis, taurepangs, ingarikós, patamonas e wapichanas, distribuídos em 225 comunidades.
Garimpeiros têm voltado a se aproximar do monte Roraima, segundo Ivo Macuxi, depois serem expulsos da região nas décadas de 80 e 90
Sebastião Salso | Taschen
Salso fotografou terras indígenas até 2019, incluindo a comunidade yanomami de Piaú. Com a pandemia, viagens previstas para 2020, uma vez que o retorno à Raposa Serra do Sol, foram canceladas.
Sebastião Salso conseguiu fotografar terras indígenas até 2019, uma vez que no caso desta cerimônia yanomami na comunidade Piaú
Sebastião Salso | Taschen
Garimpeiros vão à TI Yanomami principalmente em procura de ouro e cassiterita, usada na fabricação do estanho; na foto, a serra do Marauiá, no Amazonas
Sebastião Salso | Taschen
O pico da Neblina, chamado pelos yanomami de Yaripo, será franco para visitantes em expedições guiadas pelos indígenas
Sebastião Salso | Taschen
O povo Yawanawá passou de 283 pessoas nos anos 1990 para muro de 1.100 atualmente; na foto, Kanamashi Yawanawá tem as costas pintadas por Keiá Yawanawá
Sebastião Salso / Amazonas images
Outro povo retratado por Sebastião Salso foi o Yawanawá.
Até os anos 1980, os Yawanawá viviam praticamente em regime de escravidão nos seringais do Acre. Homens trabalhavam alcoolizados, jovens fugiam das aldeias, e doenças uma vez que malária, tuberculose e sarampo vitimavam crianças e idosos. Pressionados por missionários evangélicos, muitos abandonaram suas tradições e a língua materna.
Na visitante ao território, Salso foi guiado pelo líder Biraci Brasil Yawanawá.
“Fomos o primeiro povo indígena a firmar um contrato mercantil com uma empresa norte-americana de cosméticos, em 1987. Ele está em vigor até hoje. Fomos quebrando vários tabus. Todos os que visitaram nossa terreno, de certa forma, nos devolveram a autoestima, a crédito, o paixão e a tranquilidade que nos tiraram. Hoje recebemos parentes desde o setentrião do Canadá até os Mapuche, no Chile”, disse à BBC News Brasil.
A retomada cultural dos yawanawá passou por reaprender suas próprias tradições artesanais, que já não eram praticadas pelas novas gerações; Na foto, Miró (Viná) Yawanawá confecciona adornos de penas
Sebastião Salso | Taschen
Hoje, os Yawanawá são reconhecidos por parcerias com grandes marcas, pela presença em fóruns internacionais e por festivais xamânicos que atraem centenas de visitantes brasileiros e estrangeiros — muitos interessados em ayahuasca e rapé, considerados medicinas sagradas pelo grupo.
Ao longo desse processo de transformação, conquistaram a demarcação de seu território, reinventaram práticas culturais e expulsaram seringueiros e missionários. Sua trajetória se tornou referência para povos indígenas vizinhos, que passaram a seguir caminhos semelhantes.
As imagens captadas por Salso revelam alguns dos rituais recuperados pela comunidade, uma vez que as pinturas corporais e o uso de penas de aves sagradas, principalmente a águia.
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Fonte G1

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