Sebastião salgado: foto em preto e branco foi sua arena

Sebastião Salgado: Foto em preto e branco foi sua arena – 23/05/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Na vivenda dos 20 anos, Sebastião Salso foi trabalhar porquê economista na África, em seguida ter saído do Brasil durante a ditadura militar —ele pertencia a um grupo revolucionário de esquerda e a perseguição política o forçou a tomar essa decisão. No continente africano, viu a face mais cruel do capitalismo, a exploração do varão pelo varão, a inópia, a intolerância, a facciosismo do mundo diante de tanto horror e iniquidade.

O tirocínio da economia unicamente ajudava a sedimentar ainda mais a desigualdade. Não bastava mourejar com números, cálculos e relatórios. Era preciso gerar um manifesto, mostrar para as pessoas aquilo que elas não queriam ver. Quiçá, gerar consciências, mudar realidades. E logo, ele fotografou.

Em poucos anos, a surpreendente desenvoltura de seu olhar transformou a sua moral em uma estética. A retrato em preto e branco passou a ser seu território de luta. Ao contrário da película colorida, que tenta mimetizar ao supremo a semblante do real, o preto e branco, que é em boa medida uma abstração da visão, lhe possibilitava levar aos limites o chiaroscuro, amplificar atmosferas, encontrar entre as tramas de grãos de prata cinzas, pretos e brancos a mais legítima e dramática forma de expressar a vida daqueles que vivem à margem do perverso projeto numulário.

Tamanha formalidade conceitual e formal o levou a tornar-se, em 1979, um dos membros da Dependência Magnum —o panteão dos fotodocumentaristas, criada por Henri Cartier-Bresson e Robert Envoltório entre outros. Numa reportagem encomendada para a Magnum, em 1981, ele teve a missão de fotografar por alguns dias a agenda do logo presidente norte-americano Ronald Reagan que completava 100 dias de governo.

Num deslocamento em Washington, um rapaz de 25 anos atirou tentando ajustar Reagan e matou um dos seguranças. Salso, que acompanhava de perto o presidente, conseguiu se jogar no pavimento sem ser atingido e disparou sua câmera fazendo 76 fotografias em um minuto. No dia seguinte as imagens estavam em todas as capas de jornais do mundo e Salso ficou globalmente publicado. Com o moeda conseguido com a venda dessas imagens, partiu para a África. Povos isolados e a natureza selvagem eram o seu foco.

A partir desse momento, Salso começou a dar feições aos seus projetos pessoais. E iria fazê-lo planejando em minúcias cada passo, cada uma das viagens para os tapume de 130 países que ele foi incontáveis vezes. Esse certamente é um dos seus maiores legados para a geração de fotodocumentaristas que nele se inspiram, a percepção de que, para ter recta a simbolizar pessoas, comunidades e países é preciso lucrar legitimidade, ter intimidade, convívio e dor. E isso tudo antes de sacar a câmera para fazer fotografias. Logo, tratava-se de projetos de longo termo, que podiam levar de sete a 10 anos para serem realizados.

Para tanto, Salso mostrou-se muito hábil politicamente para conseguir envolver instituições, fontes de financiamento, ONGs e estar do lado de quem realmente queria contribuir para uma mudança do estado das coisas. E nesses aspectos, o mineiro de Conceição do Capim trilhou um caminho único que culminou com seu trabalho sendo exposto em larga graduação nos cinco continentes, em museus e espaços culturais da maior relevância, mas também em praças, trens, estações de metrô, outdoors e onde fosse verosímil levar seu manifesto e sua rebeldia com os caminhos tortuosos da humanidade.

Em 1986 ele lançou seus dois primeiros livros, “Outras Américas”, com os povos indígenas da América Latina e “Sahel: O Varão em Pânico”, com imagens perturbadoras sobre a seca no setentrião da África, em sua primeira parceria com a ONG Médicos Sem Fronteiras.

Esses livros lhe deram definitivamente a percepção do caminho a seguir. Salso passou a planejar seus próximos projetos de longo prazo, que o fizeram percorrer o mundo algumas vezes e deram o perímetro definitivo de uma das carreiras mais sólidas, inventivas e politicamente engajadas já vistas até hoje. Entre 1986 e 1992, ele realizou o projeto “Trabalhadores”, voltado ao termo do trabalho manual, à crescente robotização das linhas de produção e à precarização do ocupação. A visão do economista sempre guiando as composições do fotógrafo.

Mais um ciclo de sete anos e surgiu o megaprojeto “Êxodos”, com o fenômeno global de desalojamento de pessoas em volume. Pungente porquê sempre, o longo tempo vivido com as pessoas nos campos de refugiados rendeu ainda um trabalho dos mais tocantes, “Retrato de Crianças do Êxodo”. Cá, Salso se voltou para a retrato direta, o retrato frontal, olho no olho com as crianças. Folhear esse livro e se deixar ser atravessado pelos olhares delas vale por milénio tratados de silêncio. Em 2000, 90 desses retratos ocuparam a ONU em Novidade York, representando 30 milhões de pessoas sem residência fixa no mundo. Em 2024, esse número havia saltado para mais de 122 milhões de pessoas refugiadas.

Mais oito anos de trabalho de campo e logo surgiu o terceiro megaprojeto, “Gênesis”. Tirando de foco as agruras do capital, porquê forma de pensar na trato de si próprio e do mundo, o fotógrafo voltou-se para redescobrir, entre montanhas, desertos, oceanos, animais e povos que resistem nas suas culturas ancestrais, a terreno e a vida de um planeta ainda intocado. “Murado de 46% do planeta ainda é porquê era no tempo do Gênesis”, disse Salso na quadra do lançamento. Em mais de 30 viagens —a pé, em aeronaves leves, embarcações marítimas, canoas e até balões, em meio a calor e indiferente extremos e em condições às vezes perigosas—, Salso criou uma coleção de imagens que nos mostram a natureza, os animais e os povos indígenas em sua formosura indômita.

No ano pretérito, prestes a completar 80 anos, o fotógrafo comentou a ensejo distópica que estamos vivendo. “Minha visão é pessimista em relação à minha espécie, o ser humano, que não evoluiu zero. Nossa espécie se isolou”, disse, em entrevista ao The Guardian, lamentando a facciosismo daqueles que têm o poder de tomar decisões globais, que “além de não conseguirem mourejar com as emissões, também ignoram dois outros problemas estruturais cruciais: a crescente escassez de chuva e a perda catastrófica da biodiversidade”. E completou: “Sou pessimista em relação à humanidade, mas otimista em relação ao planeta. O planeta vai se restabelecer. Está cada vez mais fácil para o planeta nos expulsar.”

Folha

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