Seis em cada dez quilombolas vivem em área rural, revela

Seis em cada dez quilombolas vivem em área rural, revela Censo do IBGE

Brasil

Diferentemente da população brasileira porquê um todo, em que a maioria das pessoas vive em áreas urbanas, a população quilombola habita majoritariamente regiões rurais: de cada dez quilombolas, seis vivem no campo. 

A constatação faz segmento de mais um suplemento do Recenseamento 2022, divulgado nesta sexta-feira (9) pelo Instituto Brasílico de Geografia e Estatística (IBGE).

Do totalidade de 203 milhões de brasileiros contabilizados pelo Recenseamento 2022, unicamente 12,6% moravam em áreas rurais. Já entre os 1,3 milhão de quilombolas, 61,71% viviam no campo. Isso representa 820,9 milénio pessoas. Pouco mais de 509 milénio (38,29%) moravam nas cidades.

O Recenseamento 2022 é o primeiro em que o IBGE coleta informações específicas da população quilombola, de forma que não é provável fazer comparativos para saber se a proporção de quilombolas no campo tem aumentado, minguado ou ficado firme ao longo do tempo.

O instituto já havia divulgado dados sobre a quantidade de quilombolas brasileiros e condições socioeconômicas, tais porquê pior chegada ao saneamento. 

A novidade desta divulgação é o retrato que separa a população quilombola em áreas urbanas e rurais. De combinação com o gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, Fernando Damasco, o resultado foi uma “invenção”.

“É um fator absolutamente novo, em termos de formação de grupos étnicos. A gente não vê isso se repetir em nenhum outro grupo. Os indígenas hoje têm a maior segmento da população em contexto urbano”, afirma.

Raízes históricas

Quilombolas são descendentes de habitantes dos quilombos, comunidades que resistiam à escravidão. Para qualificar uma pessoa porquê quilombola, o IBGE levou em consideração a autoidentificação dos questionados, não importando a cor de pele declarada.

A coordenadora do Recenseamento de Povos e Comunidades Tradicionais, Marta Antunes, acrescenta que a presença maior dessa população em áreas rurais é um fator de raízes históricas.

“Tem a ver com o histórico da ocupação pela escravização e de porquê foi essa resistência organizada ao longo dos séculos”, disse.

Fernando Damasco ressalta a identificação das comunidades quilombolas com a questão rústico.

“Na própria constituição do movimento social quilombola, a própria vinculação identitária associada a comunidades de ancestralidade negra, associada à vexação histórica sofrida, está profundamente vinculada à dimensão rústico”, pontua.

Regiões e estados

O IBGE identificou que as regiões Setentrião e Nordeste apresentam proporção de quilombolas em áreas rurais superior à média vernáculo:

  • Brasil: 61,71%
  • Setentrião: 63,40%
  • Nordeste: 65,01%
  • Meio-Oeste: 31,96%
  • Sudeste: 47,68%
  • Sul: 45,62%

Entre as unidades da federação, as maiores proporções são:

  • Piauí: 87,87%
  • Amazonas: 84,92%
  • Maranhão: 79,74%

Na outra ponta figuram:

  • Província Federalista: 2,95%
  • Rondônia: 18,39%
  • Goiás: 27,03%
  • Rio de Janeiro: 27,28%

Acre e Roraima não registram localidade quilombola, seja urbana ou rústico.

Territórios delimitados

O recenseamento traz também dados de população quilombola que vive em território oficialmente delimitado. Nessas localidades reconhecidas, 87,97% vivem em dimensão rústico. Já fora dos territórios delimitados, 58,01% estão no campo.

População e alfabetização

O suplemento do Recenseamento mostra ainda que a população quilombola, seja em dimensão rústico ou urbana, é mais jovem que a população universal do país. 

A mediana – número que separa a metade mais jovem da metade mais velha da população – do país é 35 anos. Já a dos quilombolas é de 31 anos, sendo 32 para os que vivem na cidade e 29 para os que moram no campo.

O IBGE já havia relevado que os quilombolas enfrentam mais o analfabetismo que a população porquê um todo. O novo levantamento aprofunda a estudo com dados relativos a campo e cidade. 

Assim porquê na média do país a taxa de analfabetismo no campo (18,16% da população) é maior que na cidade (5,44%), entre os quilombolas o padrão se repete: 22,71% na dimensão rústico e 13,28% na urbana.

Para chegar à taxa de analfabetismo, o instituto calculou a proporção de pessoas com 15 anos ou mais de idade que não sabem ler e ortografar pelo menos um bilhete simples.

Moradia

Ao racontar quantas pessoas moram nos domicílios, foi provável identificar que a média de moradores em lares com ao menos uma pessoa quilombola é maior que a da população brasileira.

No Brasil, a média é de 2,79 morador por lar, variando de 2,76 em dimensão urbana a 2,99 em rústico. Já entre os quilombolas, a média é de 3,17, sendo 3,07 na cidade e 3,25 no campo.

Os pesquisadores identificaram também que na população brasileira que vive no campo, 4,26% dos moradores não tinham banheiro nem sanitário. 

Em se tratando de quilombolas que viviam em dimensão rústico, esse percentual subia para 6,36%. A situação era pior ainda para os moradores de áreas rurais especificamente dentro de territórios quilombolas delimitados, chegando a 7,03%.

Precariedade no saneamento

Os pesquisadores buscaram informações dos domicílios de combinação com as condições de aprovisionamento de chuva, destinação de esgoto e coleta de lixo.

Enquanto nas cidades brasileiras, 18,71% dos habitantes moram em habitação com alguma forma de precariedade, essa proporção salta para 53,61% entre os quilombolas que vivem em áreas urbanas.

Já em relação à vida em dimensão rústico, a precariedade em domicílios atinge 87,20% da população brasileira e 94,62% dos quilombolas.

Foram considerados elementos de precariedade no saneamento: escassez de aprovisionamento de chuva canalizada até o habitação proveniente de rede universal, poço, natividade, nascente ou mina; ou escassez de destinação do esgoto para rede universal, pluvial ou fossa séptica; ou escassez de coleta direta ou indireta por serviço de limpeza.

A pesquisa destaca que em relação ao chegada à chuva em áreas urbanas, a precariedade é quase quatro vezes maior entre a população quilombola (9,21%) que entre a população brasileira porquê um todo (2,72%). No campo essa diferença é 43,48% (quilombolas) contra 29,35% (média Brasil).

De combinação com a coordenadora Marta Antunes, diferenciar as condições de quilombolas entre áreas rurais e urbanas permite direcionar melhor políticas públicas para essas populações.

“A valimento de separar urbano e rústico, tanto para chuva quanto para esgotamento, tem a ver também com as soluções de infraestrutura diferenciadas em relação ao suprimento desses serviços e que são diferenciadas entre o rústico e urbano”, aponta.

Políticas públicas

O gerente do IBGE Fernando Damasco enfatiza que políticas públicas para quilombolas têm que levar em consideração que é uma população “totalmente específica”, por ser majoritariamente rústico, mas com grande precário urbano.

“Pensar a ação pública, pensar efetivamente soluções para os problemas que afetam essa população, significa dialogar com a verdade do mundo rústico”, afirma.

“Eu [Estado] vou priorizar a política de crédito agrícola, habitação rústico, saneamento rústico, escolarização rústico”, sugere.

“Ao mesmo tempo, não posso deixar de considerar que tenho pouco mais de três a cada dez quilombolas nas cidades. Isso implica também em políticas públicas urbanas para essa população, política de habitação, de chegada à renda, a ocupação na cidade e por aí vai”, complementa.

O pesquisador indica ainda que é preciso aprofundar estudos sobre a mobilidade da população quilombola, porquê transmigração para áreas urbanas em procura de oportunidades de escolarização e renda, e transformações espaciais.

“Os territórios rurais que, muitas vezes, estão nas franjas das grandes cidades, com o progressão da urbanização, acabam se vendo engolidos pela situação urbana”, aponta.

“São dinâmicas que ocorrem, que afetam essa população e que são características e que precisam ser aprofundadas”, sugere Damasco.

Fonte EBC

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