Selo Dos Correios Celebra Luiza Bairros, Ex Ministra E Ativista Negra

Selo dos Correios celebra Luiza Bairros, ex-ministra e ativista negra

Brasil

Os Correios e o Ministério da Paridade Racial lançam nesta terça-feira (17) um selo em homenagem à socióloga gaúcha Luiza Bairros, ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Paridade Racial (Seppir) e uma das principais intelectuais do pensamento preto contemporâneo.

A iniciativa celebra o legado de Luiza, que faleceu em 2016 em decorrência de um cancro de pulmão. Durante sua gestão adiante da Seppir, entre 2011 e 2014, a ex-ministra lutou pela implementação de políticas públicas uma vez que as cotas nas universidades e no serviço público.

Luiza Bairros também iniciou a implementação do Regimento da Paridade Racial, criou o Sistema Vernáculo de Promoção da Paridade Racial (Sinapir) e atuou diretamente pelo reconhecimento da constitucionalidade das cotas no Supremo Tribunal Federalista (STF). 

Brasília (DF), 17/09/2024 - Selo dos Correios em homenagem à Luiza Bairros. Foto: Correios/Divulgação
Brasília (DF), 17/09/2024 - Selo dos Correios em homenagem à Luiza Bairros. Foto: Correios/Divulgação

Selo dos Correios em homenagem a Luiza Bairros. Foto: Correios/Divulgação

A retrato utilizada no selo dos Correios é do montão da Filial Brasil, sucursal pública de notícias da Empresa Brasil de Informação (EBC). A imagem de Luiza sorrindo foi captada em 2013 pelas lentes do repórter fotográfico Valter Campanato. A portanto ministra da Seppir estava nos estúdios da TV Brasil para a gravação do programa Brasilianas.org. “Fico contente e orgulhoso de dar essa tributo para homenagear a ministra”, diz Valter.

Sobrinha de Luiza Bairros, a epidemiologista e professora da Universidade Federalista do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fernanda Bairros, conta que recebeu com alegria a notícia do lançamento do selo. “Ela dedicou a vida toda em prol da paridade racial e do combate ao racismo. Fazer com que a memória e o legado dela não sejam esquecidos é de extrema valia”, ressalta Fernanda.

Mulheres negras

O presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, afirma que é uma honra comemorar o legado de Luiza Bairros e destaca que a empresa tem adotado ações para reconhecer publicamente a tributo de mulheres negras para o Brasil. Entre os selos já lançados estão os de Marielle Franco, Rebeca Andrade, Alcione e do Festival Latinidades.

“Temos trabalhado para seguir no campo da justiça. Implantamos a Política Corporativa de Pluralidade dos Correios e estabelecemos metas, em nosso projecto estratégico, de ter 40% de mulheres e 30% de pessoas negras em cargos de gestão em todos os níveis da empresa até o término deste ano”, ressalta Santos. 

“Fizemos também a adesão ao Pacto pela Pluralidade, Inclusão e Justiça nas Empresas Estatais da Sest [Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais], em mais uma ação afirmativa para tornar nosso envolvente de trabalho mais inclusivo e justo.”

Rio de Janeiro (RJ), 25/07/2024 – A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco durante encontro Estratégico de Combate à Fome no estado do Rio de Janeiro, no Palácio Guanabara, na capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 25/07/2024 – A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco durante encontro Estratégico de Combate à Fome no estado do Rio de Janeiro, no Palácio Guanabara, na capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Anielle Franco, ministra da Paridade Racial. Foto: Tomaz Silva/Registro Filial Brasil

A ministra da Paridade Racial, Anielle Franco, lembra que Luiza Bairros é uma referência histórica negra na consolidação da democracia brasileira, por sua militância uma vez que coordenadora do movimento preto unificado, trajetória acadêmica e intelectual e atuação política na gestão pública.

“Pensar em Luiza Bairros é reconstituir a trajetória de avanços conquistados pelo povo preto no Brasil. Ela foi uma intelectual vanguardista na resguardo das cotas raciais e ações afirmativas, nos deixou seu exemplo de moral e compromisso. É uma honra reverenciar a memória de uma de nossas ancestrais e com ela seguir na luta por paridade de direitos para a população negra”, ressalta Anielle. 

Depoimentos

A Filial Brasil ouviu outras quatro referências do movimento e intelectualidade negra que destacam a valia do legado de Luiza Bairros. 

>> Vilma Reis, socióloga, ativista, ex-ouvidora-geral da Defensoria Pública da Bahia e assessora próprio da Presidência dos Correios.

Brasília (DF), 17/09/2024 - Vilma Reis. Selo dos Correios em homenagem à Luiza Bairros. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação
Brasília (DF), 17/09/2024 - Vilma Reis. Selo dos Correios em homenagem à Luiza Bairros. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação

Vilma Reis, socióloga e assessora próprio da Presidência dos Correios. Foto: Registro pessoal/Divulgação

“Toda a trajetória de Luiza é impressionante e precisa ser reverenciada. Essa iniciativa dos Correios mostra a valia de uma mulher que, em quatro anos adiante da Seppir, mexeu com leis que mudaram o quadro do país. Ela foi decisiva na pronunciação pelo reconhecimento da constitucionalidade das cotas no STF e na aprovação da lei de cotas de 2012. É simbólico que esse selo venha quando estamos nos preparando para seguir nas cotas com a suplente de vagas para indígenas e quilombolas. Luiza é um nome que evoca e nos traz força.”

“Em 1979, Luiza veio do Rio Grande do Sul para Bahia contribuir na geração do Movimento Preto Unificado. Ela se tornou uma referência para as ativistas, mas também uma potência política e intelectual. Quando retornou do doutorado nos Estados Unidos, incentivou muitas de nós a seguir a curso acadêmica. Estava sempre presente nas bancas de defesas. Ela nos ajudou a organizar a luta em muitos campos.”

“Importante também lembrar o trabalho da Luiza na Secretaria da Promoção da Paridade do Governo Bahia (Sepromi) e no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), articulando o Programa de Combate ao Racismo Institucional e removendo as barreiras na saúde e na ensino. Ela também foi fundamental na construção do texto da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo (Durban). Luiza nos ajudou a erigir um debate de luta por narrativa negra, intelectual, posicionada no Sul do mundo.”

Brasília (DF), 12/05/2015 - Audiência Pública e Reunião Ordinária da CPI Violência contra Jovens Negros e Pobres. Professor, jornalista e militante da igualdade racial, Edson Cardoso. Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados
Brasília (DF), 12/05/2015 - Audiência Pública e Reunião Ordinária da CPI Violência contra Jovens Negros e Pobres. Professor, jornalista e militante da igualdade racial, Edson Cardoso. Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

Professor, jornalista e militante da paridade racial Edson Cardoso. Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

>> Edson Cardoso, repórter, jornalista e doutor em Ensino. Colega de Luiza Bairros, trabalhou uma vez que ela na assessoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Paridade Racial (Seppir).

“Luiza foi o melhor quadro da minha geração de militantes, de movimento preto. Ela foi a pessoa mais muito preparada para fazer o que fazíamos. Ela tinha tanto do ponto de vista intelectual, o estudo, a pesquisa, uma vez que ela tinha a iniciativa política, a capacidade de se associar, de se aproximar das pessoas, de estimular, de propor ação, de conduzir as coisas, de fazer mediação prática.”

“A presença da Luiza vai fortalecer essa coleção dos selos de figuras negras que os Correios têm e zero mais justo para uma instituição que é uma das primeiras a albergar a população negra.”

“Luiza foi uma pessoa entregue à luta, totalmente entregue e dedicada à luta.”

Rio de Janeiro (RJ), 16/03/2023 – A diretora-geral do Arquivo Nacional, Ana Flávia Magalhães Pinto concede entrevista à Agência Brasil. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 16/03/2023 – A diretora-geral do Arquivo Nacional, Ana Flávia Magalhães Pinto concede entrevista à Agência Brasil. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Diretora-geral do Registro Vernáculo, Ana Flávia Magalhães Pinto. Foto: Tomaz Silva/Filial Brasil

>> Ana Flávia Magalhães, historiadora, jornalista, professora doutora da Universidade de Brasília (UnB) e diretora-geral do Registro Vernáculo.

“Luiza Bairros foi uma das primeiras referências de intelectuais ativistas que tive, muito antes até que me fosse verosímil declarar essa forma de estar no mundo. Meu primeiro encontro com ela se deu ali em 1998, 1999, em Brasília, numa das primeiras reuniões de formação política do Movimento Preto de que participei. A voz de Luiza, em próprio, me impactou.  Era grave, muito firme, mas serena, embalava palavras extremamente muito articuladas e criava em mim a sensação de estar em frente a um espelho e querer ver minha imagem ali refletida.” 

“Nos anos que se seguiram, além de seguir sendo uma referência política, Luiza ganhou forma de pessoa humana, com virtudes e limites. Isso fez com que eu a considerasse ainda mais importante para nós que tínhamos o duelo de nos somar e dar ininterrupção à luta de gerações por justiça e pundonor em qualquer lugar que estivéssemos.”

“Prometer que Luiza Bairros seja compreendida hoje e pelas gerações futuras uma vez que uma bem-lembrada é precípuo para que rompamos com a falsa sentimento de que a cada geração estamos começando a luta contra o racismo do zero. Essa homenagem, portanto, é muito justa e precisa ser valorizada uma vez que segmento de uma ação permanente e necessária para estabelecermos regimes de memória que rompam definitivamente com o racismo, o sexismo e outros eixos de apagamento de amplos setores de nossa população.”

>> Dalila Negreiros, geógrafa, doutora em Estudos Africanos e da Diáspora Africana e integrante do grupo de Servidoras Públicas Negras. Trabalhou com Luiza Bairros na Seppir.

Brasília (DF), 17/09/2024 - Dalila Fernandes de Negreiros. Selo em homenagem à Luiza Bairros. Foto: MGI/Divulgação
Brasília (DF), 17/09/2024 - Dalila Fernandes de Negreiros. Selo em homenagem à Luiza Bairros. Foto: MGI/Divulgação

Dalila Fernandes de Negreiros, geógrafa, doutora em Estudos Africanos e da Diáspora Africana e integrante do grupo de Servidoras Públicas Negras. Foto: MGI/Divulgação

“Em 2005, o Enegreser, coletivo de estudantes negros do DF e Entorno, fez o Encontro de Estudantes Negros na UnB. Ela foi uma das pessoas que fez essa formação e foi uma das primeiras ativistas traduzindo o debate de interseccionalidade. Luiza foi uma das responsáveis por apresentar o trabalho da escritora Lélia Gonzalez, traduzindo seus livros.” 

“Vários programas e projetos de comitiva de políticas de ação afirmativa, questão das mulheres negras, da centralidade de políticas voltadas especificamente para mulheres negras é uma grande tributo do procuração dela uma vez que ministra e uma vez que intelectual também, portanto eu creio que ela seja uma importante referência para o movimento preto e para quem acredita na democracia no Brasil.”

“É muito importante que essas pessoas que são relevantes para o movimento preto, elas sejam relevantes para o Brasil também. A gente está falando dos Correios, empresa pátrio, tem distribuição no Brasil inteiro. É importante entender o papel do Estado brasílio na garantia do reconhecimento das pessoas que são relevantes. No meu ponto de vista, a principal valia é prometer uma política de memória.”

* Estagiária sob supervisão de Marcelo Brandão

Fonte EBC

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