Sergio Camargo era um construtivista à sua própria maneira. Se seus pares trabalhavam com matérias-primas de origem industrial, uma vez que chapas de ferro, o artista preferia lapidar esculturas em superfícies de mármore, material tão generalidade na antiguidade clássica. Com isso, ele emprestou força lírica ao rigor técnico que caracterizava o construtivismo.
“Ele era um construtivista porque seu trabalho não só partia da geometria, mas era realizado por uma combinatória estrita, mas essa combinatória não era mecânica uma vez que muitos concretistas pregavam. O Sergio perseguia a exceção e o inusitado em seu trabalho”, diz Ronaldo Brito, crítico de arte e curador da exposição “Moral e Estética”, em edital na galeria Raquel Arnaud, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo.
A mostra reúne 44 trabalhos de Camargo, morto em 1990, aos 60 anos. Secção das obras é feita a partir do mármore de Carrara e do preto belga.
Com esses materiais, ele criou esculturas marcadas por fendas e cortes em que se insinuam formas geométricas, uma vez que cubos, quadrados e triângulos. No mármore preto, feixes de luz escorregam sobre a superfície lisa, formando pontos e linhas luminescentes.
Embora se imponham pela sofisticação minimalista, as esculturas são mais que objetos decorativos. “Decoração é alguma coisa que parece dispensar a moral, porque vale pelo seu maravilha subitâneo. Ela é aquilo que labareda atenção pela formosura superficial, um tanto que o Sergio não era. O trabalho dele tem muita imaginação, mas não é uma fantasia”, diz Brito.
O manobra criativo proposto por Camargo fez dele um dos escultores mais celebrados do Brasil. Em 2013, uma obra do artista foi arrematada por R$ 5,4 milhões e outra por 3,6 milhões na moradia de leilão Sotheby’s, desbancando nomes de peso uma vez que o colombiano Fernando Botero e o chileno Roberto Matta.
Nascido no Rio de Janeiro, o artista estudou na Ateneu Altamira, em Buenos Aires, entre 1946 e 1948, período em que se aproximou do construtivismo. Posteriormente concluir o curso, mudou-se para Paris, onde estudou filosofia na Sorbonne. Ou por outra, foi pupilo do estatuário romeno Constantin Brancusi, influência importante em seu fazer artístico.
“Agora, a grande diferença entre os dois é que o Brancusi tinha uma artesania, enquanto o Sergio fazia tudo na máquina. Nesse sentido, ele era um construtivista radical. Tudo era feito na precisão anônima da máquina”, diz Brito. “A artesania ficou para trás, porque ela não seria capaz de atender a um raciocínio plástico tão abstrato.”
Depois do período na França, Camargo voltou ao Brasil em 1954, quando começou a produzir esculturas de bronze. São figuras roliças e voluptuosas que lembram a silhueta feminina. A partir dos anos 1960, ele começou a trabalhar com o mármore de Carrara e, posteriormente, com o belga preto.
Ao olhar para algumas das obras na exposição, o testemunha tem o impulso de desvendá-las. Longe da obviedade, os trabalhos nascem a partir de variações de formas geométricas tradicionais. Em um deles, por exemplo, o artista desconstruiu um cilindro ao dividi-lo ao meio.
“São esculturas muito abertas esteticamente. É uma vez que se elas interrogassem a gente: ‘Uma vez que eu sou?’ e ‘Uma vez que eu vim a ser uma vez que eu sou?’ Essa forma instável é um tanto próprio da grande arte”, diz Brito, para quem o artista não se repetia nem usava fórmulas.
“Por isso, eu chamo o trabalho dele de proeza poética sem temor. A prática do Sergio revela uma disciplina poética totalmente moderna que secção da pesquisa livre, da ciência e da filosofia moderna.”
Dona da galeria em que a exposição está em edital, Raquel Arnaud afirma que ficou encantada pelo trabalho de Camargo nos anos 1970, quando conheceu sua produção em uma mostra. Depois dessa ocasião, decidiu comprar cinco de suas obras.
“Aí ele quis me saber porque adorou saber que eu tinha comprado. A partir daí, a gente ficou muito companheiro, e eu comecei a representá-lo. Ele realmente era uma pessoa maravilhosa”, diz a galerista, acrescentando que um dos objetivos da exposição é festejar o legado de Camargo.
“Ele merece ter o supremo de visibilidade. Se você perguntar para qualquer artista sobre quem é o grande estatuário brasiliano, eles vão manifestar que é o Sergio Camargo. É lógico que existem outros. Mas ele está sempre no topo.”