Série De 'cidade De Deus' Põe Em Xeque Legado Do

Série de ‘Cidade de Deus’ põe em xeque legado do filme – 22/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Cidade de Deus” mudou o cinema brasílio há 22 anos ao mostrar a violência embrenhada na vida nas favelas do Rio de Janeiro. Mas o sucesso do filme —que chegou ao Oscar— também ajudou o Brasil a descobrir um filão nas guerras do tráfico. Depois do seu lançamento, o país se acostumou a recontar histórias nas telonas que reduziam os morros cariocas a um cemitério a firmamento desimpedido.

“Cidade de Deus”, a série, põe em xeque nascente legado da obra de Fernando Meirelles e Kátia Lund. A prosseguimento estreia neste domingo (25) na HBO com uma novidade trama sobre o delito na periferia carioca, mas desta vez destaca a comunidade e o seu esforço para melhorar a região. O subtítulo, “A Luta Não Para”, diz tudo.

A mudança envolve a jornada do protagonista Buscapé, que começa o programa da mesma forma que no filme de 2002 —perseguindo um troada com uma câmera na mão. Vinte anos depois, o personagem agora é um fotógrafo respeitado, que construiu curso no jornalismo com registros das vítimas dos enfrentamentos entre traficantes e polícia.

Esse status incomoda Buscapé. De novo narrador dos eventos, ele confessa no primeiro incidente que virou um jornalista cascudo, capaz de aturar qualquer coisa, mas sente a morte no cangote do seu trabalho. As suas fotos se tornam arma dos políticos e dos jornais, que incentivam o queima pesado da polícia na favela. Já a sua filha, uma novidade da série, a certa profundidade o labareda de carniceiro pela manipulação dos registros.

Para Alexandre Rodrigues, que volta ao personagem depois de duas décadas, esse choque guia o Buscapé de “A Luta Não Para”. “Ele se perdeu dentro do seu sonho, ele sonhava tanto em ser aquilo que acabou sendo demais”, diz o ator.

“O Buscapé da série até procura outros caminhos, incluindo na retrato, mas ele é tão reputado no que faz que ninguém permite que ele faça outra coisa.”

O programa passa por duelo parecido, na tentativa de desfazer os males alimentados pela imagem do predecessor. A proposta foi feita por Paulo Lins, responsável do livro que deu origem ao filme, e instigou o diretor Aly Muritiba. Depois de dar vida à violência sufocante de “Cangaço Novo”, o cineasta viu na sequência e no formato seriado a chance de se aprofundar em partes abreviadas pelo longa.

“A história que a gente conta na série é uma crônica do cotidiano de uma determinada comunidade no primórdio dos anos 2000”, diz Muritiba. “A teoria de mudar o foco me convenceu, porque sem isso eu só repetiria o filme. A gente tem a possibilidade de recontar outras histórias que acontecem nessas populações.”

Boa segmento do elenco do filme retorna para a primeira temporada da série, que conta com seis episódios. O número equivale a três longas na visão de Muritiba e das produtoras Andrea Barata e Silvia Fu, que dizem que não pensam na série por temporadas. Antes de tudo, a teoria de “A Luta Não Para” é reproduzir nas telas o gênero da crônica do livro de Lins de 1997.

Esse trabalho ganhou camadas no roteiro, que situa a série nos anos 2000, duas décadas em seguida a morte de Zé Pequeno. Segundo Muritiba, a história acompanha o prolongamento das milícias, mas também o fortalecimento de grupos minoritários nas periferias.

“A gente partiu da verdade para gerar o nosso universo ficcional”, afirma o diretor. “Essa atuação política muito possante nos interessou, logo trouxemos para a série e construímos nossos personagens em cima dela.”

O zelo da produção convenceu o elenco a participar dos episódios, que criam papéis com voz ativa na favela. Um exemplo é Berenice, que no original era a namorada do irmão de Buscapé, bandido morto pelas mãos de um Zé Pequeno ainda menino. Na série, ela atua porquê uma liderança informal da Cidade de Deus, que luta para impedir que os jovens virem peças no xadrez do tráfico.

Roberta Rodrigues, atriz que vive Berenice no filme e no seriado, diz que se preocupou muito com o caminho da personagem na trama. “Quando eu soube que a Berenice entraria na política da comunidade, eu falei para os produtores que não aceitava morrer”, ela afirma.

“Eu não voltaria para a série se fosse para ver mais uma barbárie que a gente infelizmente tem que conviver em nosso país. Mexer com ‘Cidade de Deus’ é uma tarefa delicada, as chances de errar são enormes. Mas quando me falaram desse novo olhar, que priorizava a comunidade, isso me deixou mais confortável. Foi aí que eu soube que faria a prosseguimento, porque eu senhor muito a Berenice.”

Folha

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