Aos 80 anos, a mãe do eletricista mineiro Jean Charles de Menezes —morto a tiros pela polícia em uma estação de metrô em Londres, depois ser confundido com um suspeito de terrorismo— diz que vai continuar a lutar por ele, e a “mostrar a verdade ao mundo”.
Jean Charles foi atingido sete vezes na cabeça e uma vez no ombro por dois atiradores da polícia na estação de metrô de Stockwell em 22 de julho de 2005.
A família dele viajou para Londres às vésperas do lançamento de uma novidade série britânica do Disney+, que aborda os acontecimentos que cercaram a morte do jovem de 27 anos.
A Metropolitan Police, a polícia de Londres, diz que os disparos são motivo de profundo tarar. “Nossos pensamentos permanecem com a família dele, e reiteramos nosso pedido de desculpas a eles.”
Às vésperas do 20º natalício da morte do rebento, Maria de Menezes afirmou à BBC News que não quer ver outras mães sofrerem porquê ela sofreu.
Ela espera que a série dramática de televisão, intitulada Suspect: The Shooting of Jean Charles de Menezes, retrate o verdadeiro caráter do rebento —e elucide sua história.
“Me garantiram que a verdade estava sendo contada”, diz ela. “Eles seriam verdadeiros em relação à história, diferentemente de outros meios de notícia e outras reportagens anteriores que contavam mentiras.”
Ela diz que queria que a história real fosse retratada depois relatos iniciais incorretos de que ele havia pulado as catracas do metrô e agredido a polícia.
“Isso realmente me irrita porque eu conhecia meu rebento. Ele nasceu de mim… Meu rebento sempre foi um menino educado, submisso, sempre respeitou as leis e a ordem.”
A série é contada a partir de várias perspectivas e analisa o que aconteceu com o eletricista antes, durante e depois de ter sido encurralado pelos policiais e baleado na cabeça.
O irmão dele, Giovani da Silva, diz que a família foi consultada durante a produção da série —e acredita que agora a história completa vai permanecer clara para o mundo.
“Estamos muito felizes que a verdade da vida do meu irmão esteja sendo contada. A vida de luta. Ele nasceu no interno, correu detrás e se mudou para outro país em procura de uma vida melhor.”
Jean Charles foi morto no dia seguinte a tentativas fracassadas de atentados a petardo na rede de transportes de Londres, duas semanas depois os ataques a petardo de 7 de julho de 2005 no meio da cidade.
Nenhum policial foi processado pelo assassínio dele, mas a Metropolitan Police foi multada por violar as leis de saúde e segurança.
Em 2016, a família do eletricista perdeu o recurso que apresentou perante a Galanteio Europeia de Direitos Humanos contestando a decisão de não processar nenhum policial pelos disparos fatais.
A Metropolitan Police afirma que as circunstâncias da morte dele “ocorreram em um momento de ameaço terrorista sem precedentes em Londres”.
Um porta-voz disse que a força policial havia sido submetida a várias investigações públicas, incluindo dois relatórios separados elaborados pela Percentagem Independente de Reclamações contra a Polícia (atual IOPC, na {sigla} em inglês).
“Nenhum policial sai para o trabalho com a intenção de rematar com uma vida. Nosso único objetivo é exatamente o oposto —a proteção e a preservação da vida—, e tomamos medidas abrangentes para abordar as causas desta tragédia.”
Homicídio de Jean Charles de Menezes
- 22 de julho de 2005 – Jean Charles de Menezes é morto a tiros pela polícia na estação de metrô de Stockwell;
- 17 de julho de 2006 – O Crown Prosecution Service (CPS), o Ministério Público britânico, afirma que nenhum policial vai ser processado, mas a Metropolitan Police vai ser julgada por violar as leis de saúde e segurança;
- 1 de novembro de 2007 – A Metropolitan Police foi considerada culpada de violar as leis de saúde e segurança, e multada;
- 22 de outubro de 2008 – Sindicância em curso — legista descarta o veredicto de homicídio injustificado (unlawful killing) um mês depois;
- 12 de dezembro de 2008 – Júri do sindicância anuncia veredicto inconclusivo;
- 16 de novembro de 2009 – A Metropolitan Police fecha consonância com a família para pagamento de indenização;
- 10 de junho de 2015 – A família de Jean Charles entra com recurso na Galanteio Europeia de Direitos Humanos;
- 30 de março de 2016 – A família perde o recurso que contestava a decisão de não processar nenhum policial pelos disparos.
“Demorou muito tempo, e há uma razão para isso, porque é uma responsabilidade enorme, e não era um tanto que pudesse ser evitado”.
“Foi um material incrivelmente difícil de debater, e de entender o que você queria manifestar. Foi extremamente importante conversar com o maior número provável de pessoas e fazer a pesquisa. Nos mínimos detalhes.”
A família diz que a perda de Jean Charles ainda ecoa em seus corações. Vivian Figueiredo, prima dele, começa a chorar durante a entrevista – e diz que a mãe do eletricista nunca vai desistir.
“É simplesmente a obrigação que ela sente de lutar por justiça para ele. Ela tem 80 anos, acabou de transpor de uma cidade pequena no Brasil, do outro lado do mundo, para vir cá só para lutar por ele.”
“A polícia deveria ser realmente cuidadosa, não simplesmente suspeitar e matar, porque uma vida não tem preço.”
Perto do final da entrevista, Vivian olha para a tia, e afirma que ela é corajosa. Maria a abraça e diz, “Não é que a gente é corajosa. É que, na verdade, a gente tem que ser possante, a gente tem que lutar para viver”.
A série “Suspect: The Shooting of Jean Charles de Menezes” vai ser lançada no Disney+ em 30 de abril de 2025.
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