Sertanejo Ostenta Herança E Verão De Luxo Em Camboriú

Sertanejo ostenta herança e verão de luxo em Camboriú – 16/01/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Um caubói recebe uma legado do pai em terras e manada, mas prefere “pé na areia do que pé no capim”. No termo do ano, pega a caminhonete para curtir o verão em Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

Essa história é narrada em “Descer pra BC”, música cantada por Brenno & Matheus com o DJ Ari SL e que se tornou o grande hit do país na viradela do ano. O sucesso, na risco do agronejo, tem batidas de música eletrônica e funk no sertanejo, e traz novas temáticas ao gênero —a figura do herdeiro e a praia, em próprio a catarinense, uma vez que libido.

“O pessoal do agro gosta da ostentação, né?”, diz Ari SL, que além de produtor também é um dos autores de “Descer pra BC”. “Geralmente o caubói é o faceta da fluente de ouro, caminhonete grande e no rolê todo mundo fica de olho nele. E Camboriú é um lugar chique, badalado, logo pensamos que o caubói indo à praia ficaria lícito.”

A letra da cantiga, diz o DJ, veio posteriormente ele ver postagens sobre desfiles de Dodge Ram —caminhonetes caras— na cidade. “Havia espaço para uma música que falasse disso e sermos abraçados pelos influenciadores, uma forma de entregar o nosso trabalho.”

“Descer pra BC” chegou ao topo da lista de mais ouvidas do país no Spotify, onde está há mais de um mês. Ela vem numa leva de composições de Ari SL com o parceiro João Dalzoto sobre caubóis, praia e ostentação. Começou com uma música ainda inédita, “Peão que te Sustenta”, retrato de um caubói que ganhou verba com bets e vai curtir o verão na praia bancando o luxo das mulheres.

Além dela, o DJ gaúcho assina “Litorando”, que saiu uma vez que secção da temporada de lançamentos de verão do selo AgroPlay. A empresa paranaense, criada para negociar Ana Castela, é o principal nome por trás do agronejo, e tem também Luan Pereira e Leo & Raphael.

“O primeiro AgroPlay Verão, de 2022, foi gravado em Camboriú”, diz Raphael, cantor e sócio da gravadora. “Tentamos unir o cenário do agro com a praia. Imergimos ali, não com a música falando diretamente de praia. Antes, não lembro de zero da nossa turma do chapéu tendo uma relação tão grande com o litoral.”

Nascente ano, um dos sucessos do AgroPlay Verão é um funk cantando por Ana Castela com o MC PH, “Jet em Balneário”, já com quase 6 milhões de plays no Spotify. É mais uma música a retratar caminhonetes caras e Camboriú.

“Principalmente a turma do Paraná e de Santa Catarina vai muito a Camboriú”, diz Leo, da dupla com Raphael. Ele cita a estrutura da cidade uma vez que engodo, e descreve o clima de sarau. “Hoje já está proibido botar caixa de som na areia, mas se você passar lá às 5h da manhã, ainda vai ter gente.”

É também o metro quadrilátero mais custoso do Brasil. “Nessa idade do ano, muitos moradores não ficam lá. Alguns alugam os próprios apartamentos que podem chegar, sei lá, a R$ 10 milénio a diária. Tenho amigos que compraram apartamento lá por R$ 700 milénio, deram uma reformada e, em dois anos, vale R$ 2 milhões.”

Balneário Camboriú é chamada de “Dubai brasileira” e tem os prédios mais altos do país. É célebre pelo turismo de luxo e nos últimos virou um reduto de eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além de ser considerada uma espécie de capital conservadora do Brasil.

Apesar de ser a segunda menor cidade do estado em espaço territorial, Camboriú sediou no ano pretérito o CPAC Brasil, a Conferência de Ação Política Conservadora, que se classifica uma vez que o “maior evento conservador do mundo no Brasil”. Ele é organizado pelo Instituto Conservador Liberal, presidido pelo deputado federalista Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Empresário ligado a esse campo político, Luciano Hang, possuidor da Havan, mandou um jato da empresa ir ao Paraná buscar Brenno & Matheus, os cantores de “Descer pra BC”, com quem gravou vídeos para as redes sociais. E a música também foi tema de uma participação de Ari SL no via do MBL, o Movimento Brasil Livre, no YouTube, em que o DJ afirma que a elaboração tem uma mensagem contra o comunismo.

“Tenho que falar sério agora que estou na Folha. Vi um incisão do Renan [Santos, do MBL] xingando a música, e mandei no Instagram um áudio cobrando”, diz Ari. “A gente combinou de eu entrar indómito na live, aí inventei uma história mirabolante, uma vez que se eu tivesse feito uma obra-prima. A letra é muito simples, nossa intenção era fazer um pouco risonho que o povo gostasse. Não pensei em zero de sátira social, foi totalmente na zoeira.”

Posteriormente a participação do DJ no vídeo, o integrante do MBL afirma que há um pouco de conservador na música —uma resguardo da legado. Ari, que despontou tocando funk em festas universitárias, diz que ele e Dalzoto não teorizaram muito. “Pensamos que seria um pouco dissemelhante de falar, que não tinha sido feito antes. Geralmente [nas letras] o caubói trabalha e conquista o verba para gastar em sarau. Só achamos dissemelhante e que valia a pena o risco.”

Eles exploraram a temática em outra música recente, “Tantão”, interpretada por Us Agroboy, também do estilo agronejo, e Brenno & Matheus. “O povo me pergunta uma vez que é que eu tô/ O vô deixou legado e nós triplicou/ Vários hectares lotados de plantação/ Tem apê na praia, tem gadinho e tem mansão”, diz a letra.

No sertanejo —e até mesmo no agronejo—, o varão do campo costuma ser retratado uma vez que um trabalhador. Na música “Roça no Topo” —que empresta as batidas e os signos do oração de superação do funk, em que alguém da favela subverte a falta de oportunidades para elevar socialmente—, Us Agroboy e Leo & Raphael cantam sobre alguém que trabalhou muito e “hoje é só cerveja e churrasco”.

“Pra quem já andou de pampa falhando/ Hoje tem caminhonete do ano/ Torrinha e whisky derramando/ Novinha descendo e o PIB subindo/ Produção de soja, passamo os gringo/ Agropecuária tá tinindo/ Viver no interno é lindo/ É a roça no topo vencemo de novo e os playba chorou/ É o nosso iguaria que enche a boca desses loquaz”, diz a letra.

Trovar sobre herdeiros, ainda mais nesse filão jovem e festeiro do sertanejo, parece oriundo. O Brasil é um dos países com maior concentração de terras no mundo. No último Recenseamento Agropecuário, divulgado pelo IBGE em 2017, os estabelecimentos com mais de milénio hectares, que representavam 1% das propriedades agrícolas do país, ocupavam quase metade da espaço rústico brasileira.

Ao longo dos anos, essa concentração tem desenvolvido. No estudo do IBGE, o Índice de Gini, que mede a desigualdade do tamanho das propriedades, foi o maior da série histórica, monitorada desde 1985. O processo também foi escoltado por uma crescente concentração de renda. Em relação a 2006, ano do recenseamento anterior, a receita totalidade dos estabelecimentos da cultura familiar cresceu 16%, contra 69% nos demais estabelecimentos.

Leo, da dupla com Raphael, e que também é possuidor de terras, defende que a ostentação do agronejo é “para mostrar que o povo da roça não é coitadinho”. “Não é para desabrochar, mas mostrar ao Brasil, ao povo que não tem esse conhecimento, que o agronegócio é um ramo milionário. Uma rancho é uma grande empresa.”

Uma caminhonete sempre custou custoso, ele diz, mas o agronegócio nos últimos anos cresceu demais. “A tecnologia evoluiu muito, e isso foi agregando nos preços. Hoje, é difícil um faceta se tornar quinteiro. Se você gastar R$ 20 milhões para comprar uma rancho, para ela te dar R$ 30 milénio por mês, qualquer negócio te dá mais. Porém, tem a valorização da terreno, né? Se pagou R$ 20 milhões, daqui a cinco anos ela já vale R$ 30 milhões. Cada vez tem menos terreno, e tem muita terreno na mão de poucos. É logo que funciona.”

Esteticamente, para Leo, o sertanejo incorpora as batidas do funk uma vez que uma evolução do gênero. “Antigamente, foram introduzidos metais no sertanejo, depois vieram as guitarras, e foi quebrando barreiras”, ele diz. “Hoje o sertanejo tem reggae, funk, eletrônico… É um ritmo popular porque não tem preconceito.”

Em relação às letras, diz o cantor, o sertanejo segue uma tradição de retratar o seu tempo. “Nos anos 1970, falava de carruagem de boi, de boiada, porque era o que tinha na idade. Agora, falar que as mulheres descem até o solo, e a gente falar do agro-ostentação, é o que a gente vive na atualidade” diz Leo. “O sertanejo mudou? Não, foi o mundo.”



Folha

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