Uma pesquisa realizada com uma exemplar de 300 empresas da indústria brasileira do audiovisual aponta a existência de uma demanda por profissionais especializados. O Estudo de Demanda Profissional do Setor Audiovisual foi desenvolvido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em parceria com o Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual (Sicav) e confirma a existência de subida demanda por mão de obra, mormente no atual momento de expansão vivido pelo mercado.
Segundo o estudo, contribuem para o cenário as recentes leis de quinhão para o cinema e para a TV paga, sancionadas pelo governo, garantindo mais espaço para as produções nacionais, somadas aos R$ 2,7 bilhões da Lei Paulo Gustavo, destinados especificamente para o audiovisual.
A maior segmento das empresas que participaram da pesquisa (86,7%) pertence à atividade de produção e quase a totalidade (91%) são microempresas. A maioria das empresas está situada no estado do Rio de Janeiro, com 46%, seguido por São Paulo (20%), Minas Gerais (9%), Paraná (5%) e Bahia (3,3%).
A pesquisa foi realizada entre os dias 27 de julho e 18 de agosto de 2023.
Mão de obra
De conciliação com a pesquisa, três a cada quatro empresas encontram dificuldades na contratação de mão de obra no Brasil, ou o equivalente a 76,7% do totalidade consultado. Para 72,3%, a expectativa é que esse repto permaneça no setor nos próximos três anos.
“A gente vê que as empresas do setor do audiovisual têm muita dificuldade na contratação de mão de obra, mas é importante realçar o período de que estamos falando, que é um período de expansão do setor e de retomada de investimentos em seguida a pandemia. Esse cenário pode contribuir para a demanda do período atual”, explica a consultora de Estudos e Pesquisas da Firjan, Joana Siqueira, em entrevista à Dependência Brasil.
Ela observa, no entanto, que essa demanda não está, necessariamente, relacionada à falta de cultura dos profissionais que se encontram no mercado, mas aponta para a urgência da formação de novos profissionais.
Os pesquisadores detectaram que há também um caminho para a requalificação, sobretudo em temas mais atuais, relacionados às transformações e tendências modernas do mercado de trabalho. “As empresas pontuam, por exemplo, a carência de profissionais mais preparados para mourejar com a Lei Universal de Proteção de Dados, novas funções exigidas pelo mercado, com funções relacionadas a tecnologia e digitalização. São esses dois caminhos que a gente percebe”, indicou Joana Siqueira.
Um totalidade de 48,4% das empresas consultadas que sentem alguma dificuldade aponta para a carência de profissionais para mourejar com novas tecnologias e digitalização, entre as quais a Lucidez Sintético (IA). “A gente entende que a mão de obra é um dos pilares principais para a manutenção e incremento dos setores. Entendendo que o cenário é positivo para o setor audiovisual e tende a crescer nos próximos anos, é importante olhar para essa questão, para ter cada vez mais profissionais qualificados para atuação nesse mercado”.
Desafios
Os principais desafios que as empresas já enfrentam ou vão enfrentar proximamente envolvem as chamadas soft skills, que são habilidades comportamentais e socioemocionais dos profissionais que estão no mercado, relacionadas à maneira uma vez que eles lidam com os outros e consigo mesmos em diferentes situações, apontadas por 71,7% dos entrevistados, e qualidade técnica (64,3%). Em seguida, aparecem segurança e proteção de dados (LGPD), novas funções exigidas pelo mercado, novas tecnologias e digitalização do setor, e condutas e legislações que impactam o setor, uma vez que assédio, racismo, discriminação e variedade.
Joana destacou que muitos dos desafios apontados são mais relacionados às tendências atuais. A demanda é bastante pulverizada, por cargos de gestão de pré e pós-produção (62,7%), por técnicos de pós-produção (61,9%), técnicos de pré-produção e produção (58,6%). “Os cargos artísticos e de desenvolvimento criativo são um pouco menos demandados no momento atual (48%)”.
A pesquisa analisou 48 ocupações do setor audiovisual e a demanda das empresas por cada uma delas. Observa-se que a dimensão de pós-produção parece ser um gargalo relevante para o setor, uma vez que das 11 ocupações em destaque identificadas na pesquisa, seis pertencem a essa categoria de profissionais.
Políticas públicas
O Sindicato Interestadual da Indústria Audiovisual (Sicav) está trabalhando com a Firjan em cima dos resultados apurados visando fomentar a formação de mão de obra para o setor que é bastante relevante para a indústria fluminense e vernáculo. Na avaliação de Leonardo Edde, vice-presidente da Firjan e presidente do Recomendação Empresarial de Indústria Criativa da entidade, depois da desaceleração provocada pela pandemia da covid-19 e pela falta de políticas públicas destinadas à indústria audiovisual, tornar o envolvente mais competitivo e autossustentável significa ir além dos investimentos retomados, focando na profissionalização e formação de quem atua na dimensão, mormente em um envolvente de demanda represada.
Segundo Edde, “a subida de novas tecnologias de informação e mídia, assim uma vez que diferentes formas de disseminação de teor, têm provocado mudanças estruturais na distribuição ocupacional dos profissionais do mercado, nas relações trabalhistas e nas habilidades técnicas e comportamentais demandadas pelo setor”. O estudo vai se somar às pesquisas feitas pela Firjan e Sicav sobre o setor audiovisual e a economia criativa que foram encaminhadas ao Ministério da Cultura no ano pretérito com o intuito de ajudar na formação de políticas públicas. O setor do audiovisual contribui com mais de R$ 27 bilhões ao Resultado Interno Bruto (PIB brasiliano, soma de todos os bens e serviços produzidos no país), destaca Leonardo Edde.
Joana Siqueira acrescentou que a pesquisa objetiva também fomentar o trabalho do Serviço Pátrio de Aprendizagem Industrial (Senai) para poder atender às necessidades desse setor audiovisual.
Impactos
Entre os principais impactos que a carência de profissionais já está provocando, a pesquisa destaca, no contexto da empresa, o encarecimento dos profissionais (65,2%) e a terceirização de serviços (63,9%). A consultora de Estudos e Pesquisas da Firjan salientou, porém, que existe um montante significativo de empresas que já relata desdobramentos que impactam diretamente o público: quatro em cada dez empresas relatam redução na qualidade das produções realizadas (39,8%) e três em cada dez já experimentam subtracção do volume de produções pela falta de profissionais (29,9%). “A gente vê que já tem desdobramentos que impactam o resultado que o público vai receber, o que reforça mais ainda a relevância de se olhar para a questão da mão de obra”. Aumento do tempo de realização das produções é relatado por 41% dos consultados.
O cenário dos próximos três anos é muito similar, destacou a consultora da Firjan. Na perspectiva das empresas, embora se esteja agora em um momento com potencial grande de recuperação para o setor, com a retomada dos investimentos, a veras de maior demanda por mão de obra não é um indumento só ou causado por um fator circunstancial.
“Na perspectiva da indústria audiovisual, essa demanda subida por mão de obra vai se manter nos próximos anos”. Ou seja, será preciso concentrar esforços para que a indústria se desenvolva da melhor forma.
Cenário fluminense
No Rio de Janeiro, estão 138 do totalidade de empresas entrevistadas no estudo. Entre as empresas fluminenses, 89,1% são de micro porte e 84,8% são empresas de produção. Setenta e dois vírgula cinco por cento se dedicam exclusivamente ao setor audiovisual. A procura por profissionais qualificados é sentida por 71% das empresas fluminenses, aquém do resultado vernáculo, muito uma vez que a expectativa para os próximos anos é mais otimista, apontada por 65,9% dos entrevistados.
Ainda entre as empresas fluminenses, 51,4% apontam para a urgência de mais profissionais preparados para mourejar com as novas tecnologias e digitalização do audiovisual. Outras dificuldades são apontadas para encontrar profissionais para atuar com segurança e proteção de dados – LGPD (48,6%) e com as novas funções exigidas pelo mercado (46,7%).