Show de lady gaga ganha ares históricos em copacabana

Show de Lady Gaga ganha ares históricos em Copacabana – 04/05/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Nos telões, vemos a imagem de Lady Gaga espelhada. Do lado recta, roupa clara e ar puro. Do lado esquerdo, rosto encoberto sugerindo mistério e terror. As duas declamam, em sincronia, um texto sobre dualidade, construção de identidade. Mais especificamente sobre a luta interna entre a personagem da direita e a da esquerda, identificada uma vez que a Mestra do Caos —ou “Mayhem”, nome do novo disco da cantora. As duas faces da mesma artista.

O vídeo abriu —às 22h10, com 25 minutos de detido— o show de Lady Gaga na Praia de Copacabana neste sábado, anunciando a espinha dorsal da grande ópera-pop sombria e superabundante que seria encenada ao longo das duas horas seguintes. Uma orla lotada de centenas de milhares de “little monsters” —uma vez que são conhecidos os fãs da cantora— pôde presenciar uma saga atravessada por angústias pessoais e doenças da sociedade contemporânea, uma vez que o doutrinado às celebridades e a projeção de ideias irreais de sublimidade.

A narrativa é amarrada à sublimidade, música e visual, afirmando que a artista tem o tamanho de uma Copacabana tomada de gente. Os músicos se integram cenicamente ao espetáculo —teclados e bateria são monumentais uma vez que a catedral que o cenário simula. Em “Killah”, a própria cantora espanca uma bateria desconstruída, com cada bailarino segurando uma peça. Já em “Die with a Smile”, ela toca um piano ornamentado com caveiras.

É inegável a prevalência do visual sobre o músico —uma vez que em todo espetáculo pop desse porte. Mas o repertório de hits com melodias sedutoras e temática deslocada é o que sustenta a estrutura de pé. As canções funcionam uma vez que trilha sonora da narrativa que se desenrola ali, e os arranjos —em maior ou menor intensidade diferentes dos originais ouvidos nos discos— reforçam a dramaticidade.

O script preciso foi interrompido somente num momento, mas por uma boa razão. Quando ela estendeu a bandeira do Brasil numa sacada do cenário e, com a ajuda de um tradutor, fez um longo exposição declarando seu paixão pelo Brasil. Comparou o povo à lua que brilha sobre o mar de Copacabana e agradeceu com lágrimas nos olhos. “De todas as coisas que eu poderia agradecer a que mais me toca é que vocês esperaram por mim mais de dez anos. Talvez vocês estejam se perguntando porque demorei tanto. Eu estava me curando para voltar quando estivesse pronta. Brasil, eu estou pronta!”

Dividido em atos, o espetáculo tem uma primeira secção marcada pelo visual gótico e grotesco e também pela simbologia cristã nos versos. Culpa, santidade, traição e sacrifício aparecem nas letras de canções uma vez que “Garden of Eden”, “Judas” e “Bloody Mary” —as três do álbum “Born this Way”, de 2011. Queimada, vermelho, preto, plumas colorem o cenário de colunas numa explosão visual e sonora sem pausas que arrebata o público —leques e mãos para o ar.

É aí também que aparece pela primeira vez “Abracadabra”, hit de seu trabalho mais recente. Nesse momento, ela faz o primeiro gesto aos fãs brasileiros, com uma mudança de figurino repentina que revela um vestido nas cores da bandeira do país. “Brasil!”, ela repete várias vezes. “Senti muito a falta de vocês”, ela disse já com novo figurino. “Vocês estão prontos para esta noite?”.

Tapume de uma hora depois, vestida com uma farda verdejante e amarela, ela foi cercada por bailarinos com a camisa da seleção brasileira —reafirmando a reconquista definitiva do uniforme pelos transgressores, uma vez que Madonna havia feito um ano antes.

“Abracadabra” pontua o show em diferentes versões, uma vez que que marcando a temperatura e as transformações de cada momento da trajetória de autoconhecimento e batalhas internas. Uma trajetória que inclui uma partida de xadrez entre as duas faces de Gaga, com ela e os bailarinos numa coreografia sobre um tabuleiro, simulando peças —e a vitória da Rainha do Caos.

O enterro da Gaga derrotada numa enorme caixa de areia no palco marca o início do segundo ato, que traz mais canções de “Mayhem”, uma vez que “Perfect Celebrity” e “Disease”. A cantora conduz a plateia pelo caminho lento da ressurreição. Impressiona uma vez que o show faz isso em transições que decorrem naturalmente, a despeito da opulência visual única de cada música.

Há alguma coisa na que o público brasílico pode reconhecer uma vez que familiar, de uma estética carnavalesca. O dança com esqueletos de “Zombieboy”, por exemplo, já no terceiro ato, não faria mal-parecido uma vez que percentagem de frente do Grupo Próprio. Uma coincidência que talvez revele mais dos caminhos do Carnaval do que da estética pop contemporânea.

O quarto ato é o mais evidentemente romântico, com a personagem de Gaga alcançando a salvamento pelo paixão em canções uma vez que “Blade of Grass” e “Shallow”. Esta foi precedida por novidade enunciação ao Brasil, com frases uma vez que “a primeira vez em que estive cá nos tornamos amigos, agora somos uma família”. Também é nessa a secção do show que ela inclui o hino de certeza “Born this Way” e “Vanish into You”, dedicada aos “superfãs, aos ‘little monsters'”.

Foi exatamente com “Vanish into You” que a cantora encerrou o show, indo até a grade para loucura da fileira do gargarejo. O bis veio depois de alguns minutos, com “Bad Romance”, timidamente antecipada pela plateia. A música, sozinha, marcou o último ato, no qual Gaga, empunhando suas garras, se levantou da maca onde havia sido dada uma vez que morta.

“Monstros nunca morrem”, diz a voz em off. Síntese do manifesto pelo teratológico —o estranho, o fora de padrão, o interceptação inusual de arte conceitual e pista de dança— que ela soube declarar no universo do pop. E que, no gigantismo da orla de Copacabana, ganhou ares de, uma vez que ela própria definiu, histórico.

Folha

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