Um sigilo tão grande quanto o da exórdio tapume a cerimônia de fecho dos Jogos de Paris, marcada para domingo (11), às 21h locais (16h em Brasília). Os participantes têm que assinar um contrato de confidencialidade com validade de dez anos, que proíbe “publicar qualquer informação ou imagem relacionada às cerimônias”.
Segundo o jornal gálico “Le Figaro”, a multa por descumprimento chega a 250 milénio euros (tapume de R$ 1,5 milhão).
Ao contrário da sarau inicial, realizada fora de um estádio pela primeira vez na história olímpica, o “grand finale” parisiense terá um palco mais convencional, o Stade de France. O que não muda é o responsável pelo show, Thomas Jolly, o diretor de teatro que tanto irritou a ultradireita e alguns cristãos com ideias audaciosas, porquê a participação de drag queens.
Jolly sofreu ameaças de morte, assim porquê uma das drag queens e uma DJ que participaram da exórdio. Todos prestaram queixa na polícia.
A expectativa agora, em relação à cerimônia de fecho, é se haverá o mesmo tipo de ousadia.
Poucos detalhes de “Records”, nome oferecido ao espetáculo, foram divulgados. Um trailer divulgado na TV e na internet mostra acrobatas ensaiando em uma roda metálica de tapume de 5 metros de fundura. É dada porquê certa a presença do ator hollywoodiano Tom Cruise, provavelmente no trecho relacionado à próxima sede olímpica, Los Angeles.
Entre as atrações musicais, fala-se na cantora americana Beyoncé e no compositor gálico Jean-Michel Jarre.
“Trabalhamos muito o visual e o sonoro, porquê eu faria no teatro ou na ópera”, limitou-se a expor Thomas Jolly.
Ao todo, tapume de 8 milénio pessoas participaram da realização da cerimônia de exórdio, o que dá uma teoria da dificuldade em vigiar sigilo.
O roteiro ficou pronto um ano antes dos Jogos, elaborado por Jolly e quatro colaboradores principais – o historiador Patrick Boucheron, a romancista Leïla Slimani, a roteirista Fanny Herrero e o dramaturgo Damien Gabriac. Foram pelo menos 47 versões até chegar ao formato final, em razão de restrições técnicas e financeiras. Nenhuma informação era impressa em papel; até as mensagens trocadas sobre o ponto eram criptografadas e se autodestruíam.
As apresentações de dança foram ensaiadas em hangares na periferia de Paris. Os 3 milénio dançarinos recebiam uma pulseira, com um codinome —”Projeto Aurora”— e o sítio só era informado poucas horas antes. Ao chegar, todos tinham que colocar o celular em bolsas de plástico seladas.
Alguns contratos de confidencialidade foram assinados dois anos antes dos Jogos. Foi assim com os bateaux-mouches, os barcos que fazem passeios turísticos ao longo do rio Sena e que serviram para o desfile fluvial dos atletas.
O cavalo prateado que “flutuou” sobre as águas do rio foi soldado em uma oficina de Nantes, no oeste da França. Ele se apoiava em um humilde trimarã (embarcação com três cascos) elétrico. Os ensaios foram feitos de madrugada.
As estátuas de dez mulheres marginalizadas pela história – porquê Olympe de Gouges, precursora do feminismo do século 18 – foram montadas em uma oficina de Corbehem, cidade de 2 milénio habitantes no setentrião da França. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, quer instalar as estátuas para sempre em qualquer ponto da cidade.
Unicamente Hidalgo e o presidente Emmanuel Macron tinham chegada aos detalhes mais sigilosos da cerimônia.
Mesmo assim, algumas informações confidenciais vazaram. “Na França, é impossível vigiar sigilo”, disse à Folha, em tom de risota, Tony Estanguet, o presidente de Paris-2024, três semanas antes da exórdio, em meio aos ensaios.
Vazamentos eram inevitáveis, pois alguns ensaios tinham que ser públicos, porquê as acrobacias aéreas da Sentinela da França, o equivalente gálico da Flotilha da Fumaça. Outros causaram polêmica. A cantora Aya Nakamura, nascida no Mali, foi vítima de ataques racistas quando vazou a notícia de que cantaria clássicos da “chanson” francesa.
O trabalho de Thomas Jolly não se esgota no próximo domingo. A missão seguinte será a cerimônia de exórdio dos Jogos Paralímpicos, na rossio de La Concorde, no dia 28 de agosto.
