Silvio Disse Que Colocaria A Cracolândia Ao Lado Do Oficina

Silvio disse que colocaria a cracolândia ao lado do Oficina em encontro com Zé Celso; veja vídeo – 17/08/2024 – Mônica Bergamo

Celebridades Cultura

O apresentador Silvio Santos, que morreu neste sábado (17), brigou na Justiça com o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, por mais de 40 anos. Eles travaram uma disputa por uma espaço em torno do Teatro Oficina, no bairro do Varíola, de propriedade do possessor do SBT.

O artista, que morreu no ano pretérito, reivindicava que o espaço abrigasse um espaço virente, e o empresário desejava erigir ali um empreendimento imobiliário. O imbróglio só terminou neste ano posteriormente a Prefeitura de São Paulo remunerar R$ 64,3 milhões ao Grupo Silvio Santos pela espaço de 11 milénio metros quadrados.

Em outubro 2017, o logo prefeito João Doria mediou um encontro dos dois. A pilar teve aproximação com exclusividade ao vídeo da reunião (veja aquém). A gravação se tornou uma peça histórica por mostrar os diferentes pontos de vista do empresário e do ator sobre São Paulo e o país.

Em evidente ponto da conversa, Silvio Santos se disse disposto a encontrar uma solução para fazer alguma coisa com o lote que comprou no entorno do Teatro Oficina. O apresentador, logo, afirmou: “Meu secretário deu uma boa teoria, a gente coloca lá a ‘drogalândia’, uma vez que é que é, a cracolândia, e o drogado que mais se evidenciar no dia ganha um prêmio”.

Leia, aquém, a íntegra da reportagem:

A disputa de 37 anos entre Silvio Santos e o dramaturgo Zé Celso, diretor do Teatro Oficina, ganhou novos capítulos. Na semana passada, o apresentador conseguiu virar no Condephaat, juízo estadual de patrimônio, uma decisão que o proibia de erigir um conjunto de torres residenciais no terreno vizinho ao teatro de Zé Celso, no bairro do Varíola, em SP.

O dramaturgo se opõe à construção. “É uma vez que se fosse um ‘putsch’, um golpe nazista. E muito parecido com o Estado Islâmico, porque visa à ruína de um monumento que é o Teatro Oficina”, diz ele ao repórter João Carneiro. A construção, que foi reformada nos anos 1980 pela arquiteta Lina Bo Bardi, é tombada. O teatro iniciou uma campanha para que o governo do Estado vete a decisão do Condephaat.

Em agosto, Silvio Santos apresentou seus argumentos numa reunião com Zé Celso e o prefeito João Doria na sede do SBT. O vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) também estava presente. A conversa foi registrada em vídeo ao qual a pilar teve aproximação.

As arquitetas do Oficina apresentam a Silvio o projeto de construção de um parque no terreno, com um teatro ao ar livre. O apresentador afirma que o lote “tem um possessor e esse possessor tem que fazer aquilo que ele deseja”. As imagens mostram que Zé Celso chega procrastinado ao encontro. Doria o conduz, com a mão em seu ombro, até a sala onde já estão Silvio e Suplicy. “Estou positivo”, afirma o prefeito.

“Zé Celsooo! Veio com um poncho, hein? Tá parecendo um dançarino mexicano! Você ainda canta?”, pergunta Silvio. “Quina, simples!”, responde o dramaturgo. “Eu vim para uma sessão ‘solenérrima’. Uma ocasião histórica!”

Suplicy pede licença a Silvio para que sua assessora participe da reunião. “Pode entrar quem você quiser! A gente faz um auditório cá e apresenta os artistas. O primeiro, fantasiado de mexicano”, diz o apresentador, apontando para Zé Celso.

O dramaturgo corrige: “Tarahumara [etnia indígena]! Eles não se consideram mexicanos, não”. “Você devia redigir um livro, Zé Celso! Tem uma série de histórias pra descrever”, comenta Silvio.

O prefeito toma as rédeas. Fala sobre o “bom sentimento” que os reúne: “Verificar se nós podemos encontrar um caminho que concilie todos”. Pede foco quando o grupo se perde em brincadeiras sobre a calvície de um dos assessores. Zé Celso bate palmas ritmadas. “Começou o espetáculo!”, completa Silvio.

O apresentador diz querer encontrar uma solução para que possa fazer alguma coisa com o lote, “que não foi de perdão”. “Embora eu seja um varão rico, não é um numerário para jogar fora ou dar auxílio a quem quer que seja.” E brinca: “Meu secretário deu uma boa teoria: a gente coloca lá a ‘drogalândia’, uma vez que é que é, a cracolândia, e o drogado que mais se evidenciar no dia ganha um prêmio”.

Zé Celso relembra que o Ministério do Planejamento chegou a assumir o compromisso de ceder um terreno para trocar com Silvio Santos, de forma a resolver o imbróglio.

“Mas o que você vai fazer com o terreno?”, pergunta o possessor do SBT a Zé Celso. “A-anhangá-anhangabaú da feliz cidade!”, responde o ator, cantando vinheta inspirada no “baú da felicidade”. É uma vez que ele labareda a proposta de um espaço público arborizado com um teatro ao ar livre no lugar.

Silvio questiona quem pagará pela implantação. “Zé Celso, não seja sonhador! Ninguém vai te dar isso cá de perdão. Deixa de ser artista, não sonha! A única coisa sua cá é o teatro.”

“Nem o teatro é teu?”, surpreende-se Silvio quando Zé Celso explica que, na veras, o prédio pertence ao Estado de São Paulo. “Mas eu estou lá há 60 anos!”, diz o dramaturgo. “Isso não quer manifestar zero! Tem favelado aí que tá há mais de 60 anos e, no momento que tem que tirar, tira no dia seguinte”, responde o apresentador.

“Você é um varão super-rico, supergeneroso!”, apela o diretor do Oficina. “Eu tenho culpa de ser rico? Eu dei sorte, e daí? Você não deu ainda, problema teu!”, diz Silvio em seu permanente tom de graçola.

O dramaturgo insiste: “A gente tem que pensar na cidade, rostro. Eu tenho 80 anos e ele [Silvio, 86] tem mais do que eu. Daqui a pouco a gente some do planta. No entanto, a cidade fica. Você sabe disso [voltando-se para Silvio]”. O apresentador brinca: “Eu não quero morrer. Não vou morrer!”. Todos riem.

“A verdade é esta: não tem cabimento você ou quem quer que seja ter qualquer coisa que não pertença a você. Tá inexacto. Mesmo que você me dê o duplo. Não é lógico, explicável”, diz Silvio.

“Não é justo alguém remunerar por um terreno e não poder permanecer com ele, mesmo que seja pra não fazer zero. Isso cá é uma democracia ou é um regime totalitário?”, completa. “Infelizmente não é [uma democracia], teve um golpe de Estado [impeachment de Dilma]”, responde Zé Celso.

Os representantes da construtora de Silvio tentam apresentar a sua proposta de torres residenciais para o lugar. Doria pondera que aquele “não é um bom momento”.

“Eu tô adorando isso cá. Mas, amores à secção, vamos tentar encontrar um bom caminho”, diz Doria, voltando a assumir o comando. Ele diz que o projeto apresentado pelo Oficina depende de aprovação da Câmara Municipal e de recursos que a prefeitura não possui. Zé Celso o interrompe a cada momento. “Relax!”, pede Doria. “Você viu que nós não viemos cá armados. [É] um ‘brainstorming’!” (reunião para discutir ideias).

Doria lança logo sua proposta: uma secção do terreno seria destinada ao Oficina; a outra, a um empreendimento de Silvio Santos que tivesse um componente cultural, uma vez que os que existem “na América”. O apresentador diz que “qualquer solução é melhor do que deixar uma vez que está” e que, se continuar vazio, o lote “vai finalizar sendo invadido”.

Uma arquiteta do Oficina diz que a proposta é “um caminho”, mas que a vocábulo “empreendimento” é “um pouco dura”. E Doria: “A gente procura um sinônimo, mas enfim…”

O prefeito segue: um empreendimento hoteleiro de Silvio Santos, por exemplo, poderia, com a venda de unidades, viabilizar um “funding” (financiamento), além de uma espaço de “retail” (varejo) em um pequeno “mall”. Zé Celso pergunta: “O que é um ‘mall’?” Doria explica: “É um shopping menor”. O vestuário de ter o Oficina em seu “backyard” (quintal), completa, criaria um “asset” (ativo) para os investidores.

Doria cita o exemplo de um teatro que fica dentro de um shopping. “[É] horroroso! Teatro de shopping é gaveta, rostro!”, reage Zé Celso. O prefeito sugere uma reunião para que as duas partes discutam o “draft” (esboço) do que ele sugeriu. E diz ter o “feeling”(percepção) de que sua proposta “fica em pé”.

A reunião caminha para o termo, com o compromisso de um novo encontro. (Um dia depois, Zé Celso acusaria Silvio de oferecer a ele “uma espécie de propina” de R$ 5 milhões para desistir da disputa. O possessor do SBT nunca se manifestou sobre a delação.)

“Sabor muito de ti”, diz Zé Celso ao se despedir de Silvio. O apresentador volta a folgar: “Você vai ver, você vai se ferrar. Vou transferir a cracolândia pra lá!”.

“Eu tiro de letra!”, diz o dramaturgo, e pede que Silvio consiga um sege para levá-lo embora. O possessor do SBT concorda: “Mas olha, vou te avisar, hein? O motorista que vai te levar é suicida. Ele bate com o sege pra todo mundo morrer!”. “Você não tá querendo me matar, né? Isso é questão de série da Netflix!”, diz Zé Celso, já em direção à porta de saída.

Folha

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