Silvio Santos Não Era Da Bola, Mas Batia Bolão No

Silvio Santos não era da bola, mas batia bolão no domingo – 18/08/2024 – O Mundo É uma Bola

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“Lá, lá, lá, lá! Lá, lá, lá, lá! Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá! Agora é hora, de alegria… vamos sorrir e trovar. Do mundo não se leva zero… vamos sorrir e trovar. Silvio Santos vem aí, lá, lá, lá, lá, lá, lá, Silvio Santos vem aí!”

Essa era a música tema de buraco do Programa Silvio Santos, no primórdio dos anos 1980.

E ele vinha. De terno e gravata, microfone “grudado” na fundura do pescoço, sorriso simples: “Oi, pessoal!!!”. “Oi, Silvio”, respondia, meio acanhada, a plateia formada por crianças.

“Eu disse: ‘Oi, pessoal!!!’”, ele insistia, sorriso ainda mais simples. “Oi, Siiiilviiiiooo!!!” Logo o apresentador se satisfazia e o show podia inaugurar.

Levante é um blog de futebol, predominantemente de futebol internacional, e foram raríssimas as vezes em que o tema de um texto não foi esse.

Levante é um deles, e a exceção foi oportunidade devido à influência do personagem que morreu neste sábado (17), aos 93 anos, e que fez a alegria de milhões de brasileiros, nascente responsável incluído entre eles.

Silvio Santos não era entendido nem entusiasta de futebol, não sabia zero de globo, e sua emissora, o SBT, estava muito longe de ter porquê carro-chefe jogos ou campeonatos de futebol. Fazia incursões eventuais.

Mas aos domingos, no primórdio dos anos 1980 (com a internet e a TV a cabo a anos de surgirem para nós), pode-se declarar categoricamente que o apresentador/comunicante batia um bolão na sua programação, com ele próprio onipresente, comandando todos os quadros.

Das 10h às 22h, não havia zero melhor para um garoto de 9, 10, 11 anos, escoltado invariavelmente pelo irmão três anos mais novo, ver na TV de tubo (hoje peça de museu) do que o Programa Silvio Santos.

O domingo geralmente começava na Mundo, com um daqueles seriados enlatados, “O Túnel do Tempo”. Na sequência, quando era dia de corrida, a F1, com Nelson Piquet representando, e muito, o Brasil –Ayrton Senna viria um pouco depois.

Depois, era automático. O seletor de canais (era seletor, ainda não tinha controle remoto) girava uma posição e passava do número 5 para o 4 (SBT), para o Domingo no Parque, a atração infantil que dava início à maratona de entretenimento que Silvio Santos proporcionava a cada sete dias.

Era uma disputa entre colégios públicos, no estilo gincana, e até tinha um jogo com globo: uma esfera gigante, de plástico. A gaiato de um lado deveria levar vantagem sobre a do outro lado ao puxar a redonda com as mãos para o gol opositor.

Também tinha, entre outras atrações, cabo de guerra –que esteve no programa das Olimpíadas no primórdio do século pretérito–, corrida sobre colchões para estourar balões com o bumbum e o jogo do foguete, que merece três parágrafos à secção.

“Você quer trocar esta linda bicicleta por uma bolinha de pingue-pongue furada?”, perguntava Silvio. E a gaiato, que ouvia música dentro de uma cabine em forma de veículo espacial, sem recta a escutar a pergunta e só podendo expor “sim” ou “não” quando acendesse uma luz vermelha, esganiçava-se: “Siiiiiiiiiiiiiiiim!!!”.

Divertidíssimo para Silvio Santos, que soltava o seu peculiar “arrá, irrí”, e para quem via de vivenda; frustrante, quase de chorar, para a gaiato que se deparava ao trespassar do foguete com o seu inglório prêmio.

Silvio tentava amenizar, sem nunca perder o sorriso: “Não fique triste, você vai lucrar um tênis Montreal, antimicrobial”. Acredito que esse padrão de tênis patrocinava o programa.

Acrescente-se a tudo isso o repto que o apresentador fazia às crianças da plateia, relatar até 30, substituindo um número a cada três pela termo “pim” (1, 2, 3, pim, 5, 6, 7, pim, 9, 10, 11 pim, e assim por diante), e quase ninguém conseguia atingir (quem chegava lá, faturava o tal tênis), mais desenhos do Pica-Pau (os originais, ótimos, não os da novidade tempo, péssimos) entremeando a gincana, o Domingo no Parque era puro divertimento.

Mas não parava aí.

Seguia-se a ele o Qual É a Música?, que eu também não perdia, com disputas entre famosos da música à idade, porquê Ronnie Von (recordista de vitórias seguidas, 25, uma primeiro de Sílvio Brito), Gretchen, Sidney Magal, Nahim, Agnaldo Timóteo, Trio Los Angeles, Dudu França e muitos outros. E com o memorável Pablo nas dublagens musicais.

Depois, não necessariamente nesta ordem, havia Namoro na TV, Porta da Esperança, Family Feud (família contra família), Roletrando (depois rebatizado para Roda a Roda), entre os que me lembro. Sempre com Silvio e suas “colegas de trabalho”, porquê se referia ao auditório 99,9% feminino, com caravanas vindas de vários pontos do estado de São Paulo.

Eu não via tudo, havia no domingo outras atividades, porquê almoçar às vezes nos meus avós paternos (onde a TV, em um esquina da pequena sala, exibia o Programa Silvio Santos). E, por volta de 15 horas, era praxe vincular o rádio para escutar o principal jogo do Campeonato Paulista (ou do Brasiliano).

Mas dava quase sempre para, depois do global Os Trapalhões (com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias), já à noite, antes de ver os Gols do Fantástico (com Léo Batista ou Fernando Vanucci), observar ao Show de Calouros.

Não era das minhas atrações prediletas, porém havia interação lúdica entre Silvio Santos e os jurados (Mara Maravilha, Nelson Rubens, Décio Piccinini, Pedro de Lara…), em próprio a cantora Aracy de Almeida, ranzinza dos pés à cabeça.

Quando não apertava a chocalho para ejetar do palco um calouro em seguida uns 15 segundos de reputação, ela, ao determinar o desempenho, bradava enxurro de um delicioso mau humor: “Vai levar deiz paus!”. Vaias da plateia. “Deiz paus” eram dez cruzeiros ou cruzados –a moeda da idade–, o valor mínimo a ser ofertado.

“Mas Aracy de Almeida!”, rebatia Silvio, sem nunca deixar o sorriso. “Francamente, Aracy de Almeida! O rapaz estava indo tão muito!” A resposta, seca e definitiva: “Ele é péssimo!”.

Encerrada a maratona de 12 horas –ressalte-se que os quadros não eram ao vivo, mas gravados ao longo da semana–, Silvio Santos, realizado em sua profissão, despedia-se com um: “Até semana que vem! Tchau, pessoal!”.

Tchau, Silvio. Você se divertiu e nos divertiu demais. Obrigado, foi muito lítico.

Folha

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