Sintonia Encerra Com Trama Que Une Periferia, Fé E Música

Sintonia encerra com trama que une periferia, fé e música – 06/02/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Sintonia” chega ao termo nesta quarta-feira (5) porquê a maior franquia original da Netflix no Brasil, a única produção brasileira da plataforma a chegar às cinco temporadas. A série foi a primeira da Netflix a abordar a periferia de São Paulo a partir da relação entre transgressão, religião evangélica e música, com um enredo que aproxima a veras do público da vivida pelos personagens.

Para a diretora de séries de ficção da Netflix, Haná Vaisman, a longevidade da produção se dá ao retorno do público e sua identificação com o trio de amigos. Além da repercussão nas redes sociais, a resposta apareceu na audiência —em 2023, “Sintonia” se tornou a série de língua não-inglesa mais assistida do serviço.

A teoria era simples: KondZilla, Felipe Braga e Guilherme Quintella fizeram uma apresentação para a Netflix oferecendo a história de três personagens que cresceram juntos na favela, cada um vindo de um universo. A empresa bancou a aposta para ter uma produção que abordasse essa temática. A direção ficou a função de Johnny Araújo.

“Em ‘Sintonia’, queríamos um olhar de dentro para fora, e nunca de ser voyeur da periferia. A religião está muito presente na periferia, o transgressão também, por falta de oportunidades. Logo, a gente sempre tomou muito zelo para não entrar em julgamento”, diz o diretor.

Agora, seis anos em seguida a surpresa com a primeira temporada, “O Último Corre” consolida a relação entre os universos de Nando, papel de Christian Malheiros, Rita, interpretada por Bruna Mascarenhas, e Doni, de Jottapê, tendo o maduração porquê fio condutor do desfecho das personagens.

De conciliação com Vaisman, a decisão de fechar a série na quinta temporada se deu pelo entendimento de que estender a trama poderia comprometer a verdade da história. “Desde o início, a gente sentia que a série não ia ter um roda tão extenso pela própria natureza de vida dos personagens, principalmente o Nando, que tem uma vida no transgressão”, conta.

Na novidade temporada, que se passa quatro anos depois dos últimos aconteciementos, as escolhas de Nando serão atravessadas pelo libido de liberdade e o sonho de voltar a estar com a família —o traficante é recluso na quarta temporada. Ao se encontrar em lugar extremo, com sua vida posta em risco, o personagem vê desabrocharem emoções que não costumava mostrar.

“O Nando está nesse lugar da possibilidade da morte, e isso faz com que ele se sinta frágil. Foi maravilhoso poder mostrar um lado que em quatro temporadas a gente viu pouco, porque a gente descontrói esse lugar do bandidão. Esse rosto tem pânico! A gente humaniza um personagem preto que tem tudo para ser visto pelo estereótipo”, afirma Christian Malheiros, 25.

O ator foi criado na periferia de São Vicente, em São Paulo, e diz ter se inspirado em amigos e familiares para erigir o personagem.

“Com o Nando, consegui trazer essa sensibilidade, esse lugar de reflexão no público. Muitas pessoas me abordam e falam: ‘Nossa, mas eu tô torcendo pro bandido, me sinto mal’. Mas é porque ele não é só um bandido, ele é o pai, o camarada, o marido.”

A vivência Rita, por sua vez, traz a religião à tona. Dessa vez, a personagem já construiu os pilares de sua fé e parece ter incorporado alguns ensinamentos da igreja sem se prender aos dogmas. “Agora a gente vê uma Ritinha madura, que não dá as costas para os seus, mas põe sua índole em primeiro lugar nas escolhas”, afirma Mascarenhas, de 30 anos.

A atriz foi criada na Igreja Católica e já frequentou religiões porquê umbanda, budismo e espiritismo ao longo dos anos, mas teve conflitos em entender as mudanças de Rita na série ao se tornar evangélica. “Para mim, era muito importante entender quando falava sobre o perdão. Eu achava meio clichê”, diz.

Ela teve ajuda do irmão, que é evangélico, nesse período. “A Bíblia também me ajudou a transpor do estereótipo e entender o que a Rita tava sentindo. O ator precisa trabalhar sua empatia.”

Para o produtor executivo Caio Gullane, a verdade transmitida pela trama se deve também à formação de uma equipe diversa, com consultores sobre os mais variados temas —prosódia (para a linguagem do transgressão), formação do sistema penitenciário, vivência evangélica, termos jurídicos, além da música.

O lado músico, aliás, tem grande peso na história. Além de simbolizar o sonho de Doni, a música valoriza a cultura periférica e faz secção da narrativa de uma favela menos estereotipada, geralmente associada unicamente à criminalidade e aos problemas sociais.

“Desde a primeira temporada, junto com DJ Zegon e o Lounge, e com o olhar do KondZilla, a gente construiu hits especificamente para a série. Isso é muito bacana, porque a gente vê um personagem hipotético inventando uma música e ela vira chiclete”, afirma Gullane.

Cantor, compositor e ator, Jottapê, de 24 anos, afirma ter levado para seu personagem uma vivência com o processo de constituição. Outro paisagem compartilhado entre os dois é a fé. “Eu sou cristão e é a mesma crença do Doni. A gente ficou muito desempenado espiritualmente também. Consegui trazer muito do que eu acredito para o personagem”, diz.

Durante sua apresentação no festival “Sintonia: O Último Dança”, realizado pela Netflix no Memorial da América Latina, Jottapê, que é evangélico, anunciou sua aposentadoria do funk. O evento gratuito reuniu mais de 10 milénio pessoas.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *