'sobre um herói' põe werner herzog em filme feito com

‘Sobre um Herói’ põe Werner Herzog em filme feito com IA – 03/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Na seleção do 30º Festival É Tudo Verdade, há um filme que tem gerado polêmica: “Sobre um Herói”, do dinamarquês Piotr Winiewicz. Seu roteiro, segundo informação dos próprios produtores, foi parcialmente produzido por perceptibilidade sintético.

Na trama, um operário chamado Dorem Clery, da cidade de Getunkirchenburg, morre sem que haja uma explicação plausível. Acidente com a máquina? Mal súbito? Suicídio? Homicídio?

Quem viaja para investigar é Werner Herzog. O cineasta germânico? Não, uma instância algorítmica com sua voz e sua maneira de indagar as coisas, sob sua autorização.

O primeiro espanto representa um caminho sem volta. Abriram as portas para o ignoto na tecnologia e a IA veio para permanecer, substituindo, aos poucos, maneiras mais artesanais de confecção de diversas coisas, incluindo partes de um roteiro e —por que não?— direção de cinema.

O espanto é minguado quando se nota que muitos filmes atuais já parecem uniformizados, seja por alguma plataforma de streaming, alguma exigência de festival ou qualquer outro nicho de consumo. Ou por outra, muitos já contaram com IA moderadamente em alguma lanço de sua produção. Talvez levante marque um uso mais pronunciado, mas não é muito isso o que importa.

Ao buscar a uniformização do cinema, o estilo próprio, que faça a diferença, acaba sendo relegado ao segundo ou terceiro projecto. Em textos jornalísticos ou acadêmicos, a IA é um fenômeno mais gritante, que pode se expandir para diversas áreas da geração artística.

O que faremos com isso, é de nossa responsabilidade. Sabendo da capacidade de devastação do ser humano, é muito capaz que iniciaremos uma espécie de hecatombe do imaginário. Por enquanto, a moral manda que se avise quando houver uso de IA em alguma lanço da produção. É o que “Sobre um Herói” faz. Será sempre assim?

O segundo espanto é mais diretamente relacionado aos meandros do filme. Werner Herzog, um dos maiores diretores de cinema em atividade, aparece em suas imagens? Na ficha técnica não constam o seu nome. Portanto, quem é ou o que é Werner Herzog? Um deep fake tremendo.

Logo vemos que a IA, chamada, por sinal, de Kaspar, numa menção a “O Esfinge de Kaspar Hauser”, um dos filmes mais celebrados do diretor germânico, desenvolveu um roteiro a partir da voz e das obras de Herzog, com autorização dele e o aviso de que vai demorar muito —4.500 anos— para um computador fazer um filme tão bom quanto os dele.

Com o percurso do filme, vem uma certa esperança. Não a de que seja bom, mas de que vai demorar muito mesmo para um computador produzir um filme digno de nota. Seria bom que o peso dessa evidência provocasse um travanca tão grande que qualquer tentativa seja abortada num porvir próximo.

Uma vez que a curiosidade humana é inacabável, para o muito e para o mal, o mais provável é que continuem brincando de demiurgos, ignorando que arte sem psique não existe.

Talvez não seja por eventualidade que em oferecido momento o filme entre numa discussão sobre a inalterabilidade da psique em contraposição à previsibilidade do computador. O que se quer mesmo, salvo raras exceções, é o previsível, porquê apontam as listas de filmes mais vistos no streaming ou dos best-sellers em livrarias. Triste término.

Mas temos ainda um terceiro espanto: a IA Kaspar só é capaz de fazer isso mesmo, um filme modorrento sem qualquer teoria cinematográfica mais inteligente? Não é pouco para a propagada teoria de substituição do esforço humano pela tecnologia? Os humanos que participam do roteiro não conseguiram melhorar o resultado?

Essa compreensão coloca o filme porquê uma das grandes picaretagens já feitas. O que, por si só, poderia o definir porquê interessante, na risco dos falsos documentários de quem “F for Fake” de Orson Welles é um dos mais ilustres representantes.

“Sobre um Herói”, porém, pode ser considerado um documentário do uso de IA em partes do roteiro, porquê facilitar. Mas essas partes se tornam ficcionais. Está muito mais para ficção disfarçada de documentário.

Há ainda o caminho da autocrítica, que reafirma a picaretagem. Foi-se o tempo em que um Jean-Luc Godard fazia suas autocríticas e nos levava a pensar. Nascente filme nos leva mais a lamentar que o próprio Herzog não esteja envolvido na direção e no roteiro.

A não ser que, ao perceber o fracasso, tenha tirado seu nome dos créditos e inventado essa história da IA. Seria uma reviravolta mais interessante que o próprio filme.

Beco sem saída? É o que parece. Mas talvez o maior fracasso artístico de “Sobre um Herói” seja menos o despertar do enfado do que permanecer muito distante, na força do estilo, do que seria uma obra média de Werner Herzog, quando mais de seus melhores filmes.

Folha

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