Antes de embarcar para sua mais longa jornada solo até hoje, Tamara Klink, 26, foi desencorajada.
Quando a velejadora contava para caçadores, pescadores e navegadores do Ártico sobre o seu projeto de passar o inverno sozinha e isolada na região —seguindo os passos do pai, Amyr Klink— ouvia que se tratava de um projecto perigoso e que devia ser reavaliado.
As dúvidas mexeram com Tamara. “Se até pessoas que vivem na região, são mais velhas, mais fortes e experientes achavam que se tratava de uma proeza audaciosa, será que estou sendo audaciosa demais? Será que deveria dar ouvidos a elas?”
Portanto, ela decidiu fazer alguma coisa que não costuma: não ouvir os locais e seguir o projeto. Foram 15 meses de preparação e mais oito até satisfazer o objetivo de viver em autonomia no mar gélido durante o inverno polar. Seu isolamento terminou em meados de junho deste ano.
A missão começou na França, de onde partiu em julho do ano pretérito. Depois, navegou sozinha por 20 dias até a baía Disko, na costa oeste da Groenlândia. Ela lidou com icebergs, neblina, correntes fortes, ventos, cartografias precárias e problemas técnicos.
Lá, escolheu um fiorde inabitado e, em outubro, começou o período de isolamento a bordo de um pequeno veleiro de aço, chamado de Sardinha 2. Ela reconhece que seu isolamento pode ser estranho para as pessoas, mas diz que o período foi libertador.
“Temos a teoria de que o isolamento é ruim, repugnante, indesejado e uma espécie de punição”, diz ela, que entende o transe, mas considera que a solidão em um envolvente porquê o que estava não aumenta a exposição ao risco, mas a “dificuldade de solução de problemas caso isso aconteça”.
Tamara reflete que o período foi recreativo e foi um duelo encontrar um lugar para permanecer só. Para isso, teve que velejar para um lugar distante e remoto.
“Minhas preocupações eram minha sobrevivência e meu prazer”, diz. “Para uma mulher, isso é muito libertador. A gente coloca tanta força em deleitar para ser ouvida, para ser namorada, respeitada, que ter que deleitar somente a mim foi muito fácil.”
O preparo de Tamara para o período de isolamento incluiu uma equipe com nutricionista, médicos, psicóloga, meteorologista, além de gestores de projeto, teor e artista plástica —ela encaminhava e-mails à sua equipe durante a jornada, e os textos foram posteriormente publicados nas redes sociais acompanhados de pinturas da artista Maria Klabin.
A velejadora conta que percebeu ao longo do período que estava preparada para enfrentar o duelo a que se propôs e imaginou uma dificuldade ainda maior do que aquela que enfrentou. O escuro não foi tão escuro, ela estava com equipamentos necessários para o insensível e descobriu que tinha mais recursos do que imaginava.
Ao todo, ela passou três meses sem ver o sol, quatro meses sem ver nenhum ser humano e seis meses presa no gelo. No período mais insensível, as temperaturas variavam entre -20°C e -40°C. Durante os passeios, seus cílios e nariz ficavam com pedras de gelo.
Para consumir, o estoque incluía grãos, féculas, sementes, conservas de legumes e frutas desidratadas. A termo de evitar a produção de lixo, ela pescou e, quando o mar congelou, as raposas roubavam os peixes.
No período, ela lembra que tinha que se reparar às roupas que usava para manter o corpo aquecido e à forma porquê ela se movimentava também.
“Eu sabia de que maneira andejar para o meu corpo se aquecer e o que não fazer também. Não podia permanecer paragem e exposta ao vento ou meu corpo ia esfriar muito rápido. Se eu parasse, tinha que ser por períodos curtos, e tinha que continuar andando”, lembra ela, que também não podia aquecer demais a ponto de transpirar porque, se isso acontecesse, o corpo esfriaria muito rápido.
Entre os desafios enfrentados, ela descobriu que tem urticária ao insensível. A exigência médica desculpa alergia quando exposta às temperaturas baixas e, além da pruído, também levava inchaço nos dedos dos pés. Tamara também caiu no mar gélido.
Mesmo com um kit completo de primeiros socorros, não tinha um grande estoque de antialérgicos. “Preparar um navio é fazer escolhas, e o duelo é esse.”
Diante da exigência, teve que se apropriar, e um dos hábitos que adquiriu foi nunca pisar no soalho do navio. Para evitar a urticária, estava sempre andando pelas beiradas dos móveis para manter os pés aquecidos e mais para o eminente.
No navio, a temperatura variava. Mas, se estava 10°C na profundidade do pescoço, no pé podia chegar a -5°C. Por isso, evitar o contato do pé com o soalho foi a solução. Também costumava pendurar o pé em cima do aquecedor e, em alguns momentos de lapso, deixava o pé tombar e criou alguns furos nas meias. Na hora de dormir, manteve uma bolsa de chuva no fundo do saco para manter o aquecimento dos pés.
Já em relação ao incidente em que ela caiu na chuva congelante, Tamara afirma que não foi “zero demais esse evento”, mas que é importante lembrar que existem perigos e riscos.
Ela conseguiu trespassar da chuva fazendo buracos no gelo para conseguir trespassar da chuva, uma técnica de escalada. Levante momento, diz Tamara, foi uma confirmação do seu preparo. “O que aconteceu depois [da queda], para mim, foi alguma coisa muito positivo. Conseguir trespassar desses acidentes e não vivê-los duas vezes é o mais importante.”
Com a chegada da primavera, o mar descongelou, a fauna e flora do lugar mudaram e ela teve que mourejar, por exemplo, com a chegada de mosquitos —muitos deles. Foi neste período que voltou a se encontrar com pessoas.
Entre os primeiros encontros, Tamara reviu os caçadores, alguns daqueles que tentaram a desencorajar do projeto. Mas, naquele momento, eles questionavam porquê foi o inverno para ela e onde estavam os animais. Neste novo encontro, ela era a pessoa que conhecia o lugar, já eles, os visitantes.
Agora, a velejadora está passando um tempo em um vilarejo na Groenlândia, ainda sem data para voltar. Não há registros de que outras mulheres passaram pela invernagem sozinhas. Por isso, é tida porquê a mulher brasileira e a mais jovem navegadora do país a cruzar o Círculo Polar Ártico em uma jornada solo, seguindo os passos do pai, Amyr Klink.
“Talvez, se eu tivesse tido um relato feminino para usar de referência, eu teria duvidado menos de mim, perdido menos força me questionando se era uma loucura, se eu era capaz e se meu gênero era uma limitação.”
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