Som nosso de cada dia cada vez pior 14/03/2025

Som nosso de cada dia cada vez pior – 14/03/2025 – Gustavo Alonso

Celebridades Cultura

À medida que envelhecemos, ficamos mais chatos com algumas coisas. Minha mania é o som. Embora eu tenha melhorado meu paladar sonoro, a sociedade parece caminhar na direção contrária, buscando voluntariamente o som de pior qualidade.

Quando levanta-se o tema sonoridade, quase sempre limita-se a discutir gêneros musicais supostamente melhores e piores. Mas a discussão é mais complexa. Pode-se ouvir música da qual não se gosta com qualidade, assim porquê é verosímil ouvir música clássica ou jazz nos piores suportes.

É até verosímil indicar um inimigo principal: o celular. Oriente aparelho de tela maravilhosamente rica é quase sempre lastimoso no vista sonoro. Pois as ondas sonoras precisam de espaço para reverberar, alguma coisa que, pela sua própria construção, o celular não pode oferecer.

Há ainda o traje de que a cultura do dedo privilegiou democratizar o som a aumentar a qualidade que já tínhamos antes dos smartphones.

Antes do celular, o MP3 foi uma revolução da qual participei entusiasticamente. Troquei meus discos e CDs pela mobilidade do MP3 no término dos anos 1990. Maravilhado, ouvi coisas que nunca ouviria se não fosse por essa maravilha da internet ladra.

Depois veio o bluetooth, essa outra ambígua maravilha que se popularizou nos nos anos 2000 e trouxe a maior portabilidade que já tivemos desde o vinda do walkman em fins dos anos 1970.

Apesar de toda a revolução que MP3 e bluetooth representaram para a democratização e mobilidade da música, a qualidade caiu. Nossos ouvidos se acostumaram a um som médio, sem camadas, uma maçaroca que distorce todas as ricas possibilidades da música em sons comprimidos e cansativos. E não importa de qual gênero músico estamos falando, todos padecem desses limites, pois seu suporte de disseminação tornou-se o mesmo.

Há ainda a questão da arquitetura em voga atualmente, que quase sempre despreza o som. Os mais abastados de hoje preferem casas “clean”, muito brancas com paredes lisas e frias, pisos gelados de mármore, móveis de vidro e objetos de metal. Tudo isso é péssimo para o som. Poucos são os que hoje ainda têm piso de taco (madeira é sempre bom para o som), tapetes que ajudam a sofrear os graves que viajam próximos ao solo, estantes com livros e cortinas pesadas, que ajudam a sofrear os excessos sônicos, garantindo uma equalização originário para o envolvente.

E, para premiar, há as indefectíveis caixinhas de som portáteis. Elas juntam tudo que há de pior em nossa escuta músico. Nelas escutamos MP3 transmitido via streaming ou bluetooth em mono. É um completo passo detrás na escuta músico.

Desde os anos 1960 vínhamos desenvolvendo uma série de tecnologias que foram melhorando nossa escuta. Sistema de subida fidelidade (os hi-fi) e o som estereo foram inovações de uma quadra em que a indústria apostava também na qualidade sonora. No início dos anos 2000, os DVDs players ainda apostaram nos home-theater 5.1 porquê experiência de qualidade sonora. Foi o quina do cisne do som nas casas brasileiras.

Hoje em dia, quando se visitante casas das classes média e subida, vê-se uma televisão enorme, mas quase nunca um som à profundidade da TV. Curioso paradoxo, dos anos 1960 para cá a TV melhorou profundamente a qualidade da imagem. Cores, VGA, telas planas, HDMI, 4K, 8K, LCD, Oled, Amoled e tantos outros formatos que surgem a cada dia prometem imagens com cada vez mais imersividade. Mas, em relação ao som, fomos empobrecendo.

Para os cinéfilos, a Netflix promete o áudio espacial 5.1 no projecto premium. O Tidal é um serviço de streaming de música que oferece áudio sem perdas, ao contrário do Spotify ou Deezer, por exemplo. Mas a maioria das pessoas simplesmente não quer isso. E por que deveriam quando as TVs de hoje, a caixa do celular e o bluetooth não têm a qualidade sonora conciliável?

Se a retrocesso que vivemos no campo sonoro fosse vivida no campo da imagem, estaríamos cutucando celulares de telas em preto e branco e com os fantasmas das primeiras TVs. Tornamo-nos cada vez mais uma cultura da visualidade e cada vez menos do som. Não precisava ser assim.


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Folha

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