Estreou na semana passada no Globoplay a série “Sullivan e Massadas: retratos e canções”, dirigida por André Barcinski e produzida pelo núcleo de documentários capitaneado por Pedro Bial. É uma ótima oportunidade para as gerações recentes conhecerem porquê funcionava o mercado da música através da obra de dois dos compositores mais populares dos anos 80 e 90.
Quem viveu aqueles anos lembra o quanto os nomes do pernambucano Michael Sullivan, nascido Ivanilton de Souza Lima, e do carioca Paulo Massadas eram onipresentes. A série de Barcinski consegue dar a correta dimensão do tamanho da reputação e da roda-viva do sucesso da dupla, que compunha em ritmo industrial para diversos artistas.
Labareda a atenção no documentário porquê Sullivan e Massadas compunham os mais diversos gêneros: de música infantil a samba, de pop a pagode, de boleros a baladas. Isso é explicado pelas origens de ambos, que se formaram artisticamente nas bandas de dança dos subúrbios cariocas da dez de 70.
Habituados aos gostos musicais das multidões, compuseram para uma infinidade de artistas de todos os naipes. Foram gravados por Roberto Carlos, Tim Maia, Gal Costa, Alcione, Sandra de Sá, Xuxa, Fagner, Ivete Sangalo, Joanna, Fafá de Belém, Angélica, Trapalhões, Trem da Alegria, José Augusto, Elson do Forrogode, bandas Absyntho e Roupa Novidade, entre outros.
A série poderia ter investido mais no papel da sátira à dupla, que merecia um incidente. O tema foi abordado em meio a outras questões, mas exclusivamente dois críticos aparecem nominalmente: Carlos Mudo e Sérgio Martins. Leste último, espécie de narrador do documentário, faz um mea-culpa em relação a sua sátira no pretérito.
A utilização de Sérgio Martins é interessante porquê saída narrativa. Temos visto uma enxurrada de documentários musicais nos quais não há narrador a conduzir a história. O risco de tal falta é a história ser direcionada ao sabor das memórias, que muitas vezes traem a verdade dos fatos passados.
A escalação de Martins, embora menos explorada do que deveria, pontua pontos importantes da trajetória da dupla e faz um balanço interessante de cada período.
A série se divide em cinco capítulos. O primeiro trata do surgimento da dupla. O segundo dá um passo detrás e conta a trajetória prévia de Sullivan e Massadas, antes do sucesso massivo. O terceiro lida com os dramas da indústria fonográfica dos anos 80 e 90. O quarto mostra a mina de ouro da dupla, as canções infantis de sucesso na voz de Xuxa. O quinto mostra artistas atuais regravando suas canções.
Apesar do sucesso quase certeiro, gravar Sullivan e Massadas era aventuroso. O artista poderia ser cândido de críticas por estar se popularizando demais. Foi o que aconteceu com Tim Maia e Gal Costa quando cantaram o dueto “Dia de Domingo”, uma das mais singelas canções de paixão desbragado da dez, esculhambada pela sátira especializada da quadra.
Uma das qualidades da série documental é a reflexão sobre o papel da indústria fonográfica para explicar o sucesso da dupla. Não se nega o papel do jabá e da indústria fonográfica no sucesso de canções populares.
A transformação de muitas músicas em trilhas sonoras de novelas catapultou o sucesso de Sullivan e Massadas. A ponto que seria praticamente impossível fazer o documentário sem o registo da Orbe. Ao mesmo tempo, fica clara a qualidade pop da obra da dupla. Gravar para as multidões não é, no caso de Sullivan e Massadas, mera banalização.
Apesar da boa partilha temática dos episódios, muitos deles não são explorados porquê poderiam. Assuntos interessantes são atravessados e acabam sem a desfecho necessária. Outro problema, esse mais grave, é a grande quantidade de repetições de imagens e falas. Fica a sensação de que a série foi mais alongada do que deveria.
As biografias de Sullivan e Massadas também poderiam ter sido mais muito exploradas. Os compositores embalaram o romantismo e os conflitos apaixonados de muitos brasileiros, mas praticamente zero sabemos sobre suas vidas pessoais. Porquê é a vida de quem compõe tanto o paixão? Quais dramas pessoais e amorosos tornaram-lhes na dupla que foram?
Nascidos em 1950, ambos viveram as mudanças nas relações amorosas da segunda metade do século. Porquê a experimentaram? Casaram? Tiveram filhos? Inspiraram-se em experiências pessoais para inventar suas músicas de corno? Alguém que compõe o paixão é amoroso na vida privada? Infelizmente, exclusivamente as vidas profissionais de Sullivan e Massadas foram abordadas.
O termo da dupla é mostrado porquê uma decisão pessoal —por motivo do cansaço da roda-viva do sucesso— e profissional —devido à procura por novos caminhos individuais. Enfatiza-se que não houve brigas e Massadas deixa simples que a porta para a volta segue ocasião.
O que não foi dito é que a dupla que apostava no sucesso massivo começou a perder espaço no cenário vernáculo diante da explosão da música sertaneja a partir de 1989. Apesar de Leandro & Leonardo terem gravado “Talismã” no início da curso, a dupla Sullivan e Massadas teve inexpressiva participação no sucesso massivo sertanejo. A música sertaneja decretou o termo mercantil da dupla, um tanto não abordado no documentário.
Mesmo com esses pontos críticos, o documentário “Sullivan e Massadas” é louvável. Para as gerações atuais, fica impossível não ter a referência histórica de uma das duplas mais bem-sucedidas do mercado fonográfico brasílio.
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