Sumô Luta Contra Preconceito Para Ganhar Adeptos No Brasil

Sumô luta contra preconceito para ganhar adeptos no Brasil – 02/02/2024 – Esporte

Esporte

Esporte milenar de origem japonesa, o sumô ainda é comumente —e erroneamente— associado a uma luta praticada somente por pessoas muito supra de seu peso.

Enquanto no Japão o sumô é um esporte profissional para os homens, sem categorias nem limite de peso, em que os maiores lutadores realmente acabam levando vantagem contra os adversários, no Brasil e em outros países em que a modalidade é amadora, os atletas competem separados por divisões.

Luciana Watanabe, 38, campeã brasileira e sul-americana e vice-campeã mundial (2023), por exemplo, atua na ramificação dos leves ou dos médios —seu peso costuma oscilar dentro de uma tira entre 70 e 80 quilos.

Apesar dos troféus em exuberância, para financiar as viagens para competir no exterior, ela precisa recorrer às vaquinhas e à venda de rifas, para completar o restante com as próprias economias. “É difícil conseguir visibilidade com o esporte, até por desculpa do preconceito das pessoas”, afirma.

Além da visão equivocada quanto ao perfil físico necessário para a prática do sumô, a vestimenta usada durante as lutas, chamada de “mawashi”, utilizada para alcançar o oponente, muitas vezes é comparada a uma espécie de fraldão por quem não está tão habituado com o esporte, afirma Tooru Kosaihira, 47, técnico da seleção brasileira. “Esse é um preconceito ainda muito presente no Brasil, mas quase não existe no exterior”, diz o treinador.

“As pessoas têm muito preconceito quanto à roupa do sumô, fazem piadas, e às vezes quem está começando acaba desistindo por desculpa de alguns comentários”, afirma Luciana.

Formada em instrução física e pedagogia, a lutadora procura fomentar o propagação da prática por meio de aulas para jovens de escolas públicas. Professora concursada, ela é a idealizadora do projeto “Lutas uma vez que forma de instrução”, que ensina o sumô em escolas municipais de Suzano e Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo.

“A luta me abriu diversas portas e hoje em dia também é o meu trabalho”. Segundo ela, é nítido o impacto nos alunos, que aprendem a ter mais disciplina e paciência.

Séries e documentários em plataformas de streaming têm contribuído para que, gradualmente, a luta alcance um público maior.

Em outubro de 2019, estreou na Netflix o documentário “Ela Luta Sumô”, sobre a história da lutadora japonesa Hiyori Kon. A produção acompanha a trajetória da jovem desde a puerícia até a disputa do Mundial amásio.

“O sumô feminino vem crescendo no Brasil e é muito respeitado no exterior”, afirma Luciana, que mantém um meio no YouTube em que publica vídeos de lutas e treinos.

Em maio de 2023, mais uma produção apareceu na plataforma de streaming: a série dramática “Santuário do Sumô”, que conta, de maneira bem-humorada, a história de um jovem e rebelde lutador em subida no esporte.

Segundo Valéria Dall’Olio, 40, campeã brasileira e a única árbitra internacional da modalidade no país, na esteira das recentes produções, foi provável notar um aumento no interesse do público em universal pelo esporte. “As pessoas acabam tendo mais conhecimento a saudação do esporte. Em Capão Bonito [município do interior paulista onde ela mora e treina], a quantidade de atletas aumentou”.

Pessoas que já tinham alguma afinidade com a cultura japonesa, mas sem experiência prévia com práticas esportivas, começaram a frequentar as academias para aprender a saudação do sumô, observa o treinador Kosaihira.

O londrinense Rui de Sá Júnior, 29, um dos principais atletas de sumô do Brasil na atualidade –foi vencedor brasílio, sul-americano, pan-americano e vice-campeão mundial (2019)– conta que, em meados de 2020, chegou a receber o invitação de um produtor para participar da série da Netflix.

Na ocasião, a teoria era que a história fosse sobre um lutador de sumô de fora do Japão, que iria ao país oriental em procura de novas experiências. Com a pandemia e o fechamento das fronteiras, os planos mudaram, e os produtores precisaram elaborar um novo enredo, com atores predominantemente japoneses no elenco.

Júnior —que pesa murado de 180 quilos e compete na categoria dos pesos-pesados— afirma que, devido à falta de patrocínios, deve permanecer distante dos torneios em 2024.

Com uma dieta de 5.000 calorias diárias em épocas de competição para manter o peso, o lutador sofreu uma lesão muscular no término do ano pretérito, quando disputava os World Combat Games, em Riad, na Arábia Saudita. Mesmo já sentindo as dores provocadas pela lesão, o brasílio conseguiu voltar com um bronze.

No retorno ao Brasil, ele teve de permanecer distante do trabalho na empresa de montagem de tendas de um tio por conta das dores. Com isso, a situação financeira, que já não era confortável, ficou ainda mais apertada.

“A secção financeira é o maior duelo” para os atletas de sumô no Brasil, afirma. Para participar das competições internacionais em 2023, entre elas o Mundial, em Tóquio, além de tirar verba do próprio bolso, Júnior também fez vaquinhas virtuais e vendeu rifas para parentes e amigos. Ele estima que gastou murado de R$ 20 milénio com as viagens.

“Quem sabe as coisas melhorem para as próximas gerações e eles não tenham tanta dificuldade uma vez que a gente teve.”

Folha

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