Logo no primícias de “Código Preto”, seis pessoas se reúnem para jantar em uma vivenda, porquê segmento de uma confraternização do trabalho. Eles se dividem em três casais, em relacionamentos que vão do himeneu de anos até uma relação de semanas.
A conversa da noite se dá de forma bastante informal, mas da plateia o público observa nervoso os desdobramentos. Finalmente, todos os personagens são agentes da lucidez britânica e, pouco antes, descobrimos por um deles, o anfitrião, que um dos convidados traiu o país. Aquele encontro, tão ligeiro, é um interrogatório osco —mesmo a mulher do protagonista está na lista de suspeitos.
A situação daí em diante se desenrola mal, muito porque o anfitrião atiça os convidados de propósito para solucionar o caso. Ele tem renome por seu faro para a patranha e aquele grupo, em pessoal, é técnico em falsidade, logo vale alguma ração de desconforto. Todos trabalham em missões do tal código preto, uma categoria tão secreta da espionagem que mesmo o envolvimento do agente vira informação privilegiada.
O trabalho logo vira uma desculpa ótima para viver da patranha, porquê um deles muito aponta, mesmo que isso cause incômodo aos mais próximos. Ao filme, o que mais interessa é o clima de suspeição emocional, mas a graduação da mágoa surpreende. O ressentimento entre os convidados é tamanho que até o termo da noite a mão de um deles acaba esfaqueada —não porque ele traiu a pátria, veja muito, mas por desculpa de uma crise conjugal.
Esse olhar emocional dá fôlego à trama de espiões e traidores, que, em universal, alicerça o gênero. O público já está avezado a histórias que curtem o lado humano da lucidez de Estado, mas não tanto a homens e mulheres frios que precisam mourejar com suas emoções. Cá, a conspiração engole aos poucos todos os agentes na paranoia dos dilemas pessoais, que se confundem com os seus interesses no trabalho.
No meio dessa peneira estão os anfitriões do jantar, interpretados por Michael Fassbender e Cate Blanchett, que vivem situação pessoal de suspeição. Enquanto dela zero sabemos, ele luta contra o tempo para encontrar o culpado do vazamento e, assim, desenredar a verdade sobre a sua mulher.
Do lado do público, resta saber se a preocupação do marido é por paixão ou pelo cumprimento da missão. Ambos são muito calculistas até demais. Um ingresso de cinema encontrado no lixo, por exemplo, pode valer uma traição não só do parceiro, mas do Estado.
O diretor Steven Soderbergh conduz todo o suspense de maneira eficiente. Adiante também da retrato e da montagem, o cineasta constrói um mundo insensível e asséptico para os personagens se digladiarem verbalmente. As cenas são tão precisas nos cortes e planos quanto os agentes nas negociações e nas informações que repassam.
Essa abordagem calculada é mais ou menos esperada do diretor, que construiu sua curso com temas mirabolantes. O que é curioso, porque ele foi um dos principais nomes do cinema independente americano dos anos 1990 e sempre preferiu a renome de forasteiro à de protagonista em Hollywood.
Mas os melhores trabalhos de Soderbergh tem muito do artesanato do cinema americano, em peculiar na segmento da operação. Os seus filmes posam de trivial, mas são espertos na proposta e na realização. O seu sumo de exibicionismo são os experimentos estéticos, porquê os dois longas que fez com a câmera do celular, “Distúrbio” e “High Flying Bird”.
Essa incoerência de Soderbergh, entre o operário esteta e o do contra nato, é o que dá vida a uma produção porquê “Código Preto”. O filme concentra forças na trama cabeçuda, que pede por uma direção sagaz para dar conta das tantas reviravoltas.
Nisso ajuda o roteiro de David Koepp, veterano de “Jurassic Park” e de “Missão: Impossível” que mantém a trama em movimento, evitando situações enfadonhas. O bom elenco também dá o seu melhor, tirando humor das atuações mais sérias —um mero teste do polígrafo, por exemplo, de repente ganha insinuações sensuais com a atriz Marisa Abela.
O mais importante, porém, é que Soderbergh segura a narrativa na impaciência do protagonista diante da suspeita da mulher. A frieza da história ora ou outra prenúncio essa tensão, arriscando tornar “Código Preto” em um mecanismo de causas e consequências.
Mas o filme se dá muito ao dar vazão a esse conflito entre lógica e emoção, que alimenta crises em qualquer relacionamento. É mais fácil uma faca cravada na mão que uma suspeita fincada na cabeça, e você nem precisa ser um espião para concluir isso.