Tadeu Jungle tem 68 anos e acabou de virar avô. Sua única filha, Íris, nome que significa “divindade que traz notícias do firmamento por meio de um círculo”, de seu segundo tálamo, agora é mãe de Maria, de quatro meses. E o vovô Tadeu está todo feliz com o novo predicado.
No meio da entrevista, na sala toda ocasião, colorida e enxurrada de obras de arte e objetos de trabalho, em um apartamento no 15º marchar de uma rua nos Jardins, em São Paulo, ele atende a uma chamada de vídeo por WhatsApp. É Íris, perguntando o que ele acha da teoria de ela levar a neném na mostra retrospectiva do trabalho do artista Carlito Carvalhosa, seu camarada, que morreu aos 60 anos, em 2021. Ele diz que sim, evidente, e que depois explica melhor.
Tadeu é assim com quase todos os assuntos de que falamos em uma tarde quente na semana passada: otimista, empolgado, curioso. Parece o mesmo garoto que eu via na TV desde os anos 1980. E com quem tive aulas de vídeo, olha que coisa vintage, há mais tempo do que dá coragem de revelar. Elas eram ministradas na The Liceu Brasileira de Vídeo, que ele fundou com um colega para ensinar outros jovens a entender melhor as maravilhas daquela tecnologia revolucionária.
“Eu sempre fico fascinado quando surge uma coisa novidade. Lembro até hoje da primeira imagem que gravei em vídeo, uma torneira ocasião, pingando chuva. Aí tinha que tirar a fita, rebobinar, e botar em outro aparelho para ver na TV. Na mesma hora, era incrível!”, lembra ele, porquê se a coisa estivesse acontecendo ali, na nossa frente, pela primeira vez. “Quando vi o primeiro fax chegando, nossa! Parecia mágica. Porquê isso é provável?”.
Agora, está tomado pelas novidades que a perceptibilidade sintético vai tornar possíveis. Já pensa em porquê usar no seu trabalho de geração e estuda porquê aproveitar melhor esse novo agente. Porque essa, diz ele, é a grande novidade. A perceptibilidade sintético não é uma utensílio, é um agente.
“A perceptibilidade sintético é um tanto dissemelhante de tudo o que a gente já criou em termos de tecnologia. Várias tecnologias mudaram o mundo, desde a eletricidade à prensa. O cinema na internet, né? Mas a IA vem pensante, é um agente. Ela aprende e vai poder nos ensinar também”, afirma. “É um retrovisor, evidente, mas que vai refletir de volta de maneira elaborada tudo que for aprendendo”, completa.
“Preciso aprender porquê isso funciona e ver que partidos eu posso tirar na minha arte para a minha geração. Estou alerta, estudando tudo. E me fascina, evidente”, diz. Tadeu não teme a perceptibilidade sintético, pelo contrário, confia que essa tecnologia pode nos facilitar. “Depende de nós, ela vai fazer o que a gente pedir.”
“O maior risco do nosso tempo são as fake news. E a perceptibilidade sintético pode nos ajudar a detectá-las e combatê-las”, afirma. Agora, porquê a gente vai prometer que os seres humanos vão usar a perceptibilidade sintético só para coisas boas? A resposta está em três palavras: “Ensino, instrução e instrução”, diz Jungle.
Insolente, risonho, de fala rápida e pensamentos que vão por milénio caminhos, Tadeu Jungle – sobrenome adequado de Junges, seu sobrenome real, de origem alemã —sempre esteve, de uma maneira ou de outra, ligado a inovações. Ele já foi pai de programa de TV, apresentador de programa de música na TV Cultura que revelou bandas e músicos novos, hoje clássicos, porquê Titãs, Barão Vermelho, Ira!, Capital Inicial, Arrigo Barnabé.
Poeta visual e artista, já pixou muito muro pelas ruas de São Paulo. Mas, depois, novidadeiro que é, descobriu que podia passar sua mensagem de maneira muito mais elegante e efetiva, com poemas visuais adesivos que até hoje ele cria e cola em lugares inusitados, nos quais possivelmente não teria autorização para fazer.
“Você Está Cá”, num quadradinho vermelho, é um dos mais conhecidos, que volta e meia a gente encontra colado em um lugar inesperado, que faz pensar e rir. O novo poema visual adesivo, que também vai batizar uma exposição de seus trabalhos, é mais profundo. Em um quadro preto, lê-se “Tudo Pode”, em letras brancas, grandes. Embaixo, entre parênteses, em letras miudinhas, está escrito “perder-se”. “Tudo pode perder-se”, é a mensagem. Leia porquê seu coração mandar.
Também dirigiu um programa de entrevistas com Bruna Lombardi nos anos 1990, em que viajavam pelo mundo falando com celebridades de todas as áreas. Além de centenas de filmes publicitários e até um longa-metragem, “Amanhã Nunca Mais”, com Lázaro Ramos, em 2011. Mas tudo isso ficou para trás. “A publicidade ficou sem perdão, foi risonho por muito tempo, ganhei numerário, trabalhei muito, mas cansei”, disse ele. “E longa-metragem de ficção lentidão muito, é um processo longo demais, entre você ter a teoria e debutar a filmar leva anos, não é para mim”.
Falando assim parece que Jungle está naquele momento da vida em que alguns privilegiados podem determinar diminuir o ritmo de trabalho para passar mais tempo com a família, ou só à toa mesmo, coçando a bojo, sem mudar o estilo de vida. Mas, conversando com ele, parece o contrário. Ele está a milénio, e olhando para a frente.
Na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2024, que acaba na próxima quarta (30), oito de seus filmes feitos em verdade virtual foram exibidos. Foi o primeiro ano em que a Mostra de São Paulo teve filmes em verdade virtual, prática que já acontece em outros festivais de cinema do mundo, principalmente o de Veneza, pioneiro no tema.
Para assisti-los, o testemunha precisa botar uns óculos daqueles estilo videogame, e, apesar de o filme ser exibido ao mesmo tempo para quem estiver na sala de cinema, cada testemunha tem uma experiência única.
“A experiência de ver um filme de verdade virtual é individual, o óculos VR funciona porquê se fosse o seu ponto de vista, se você mexer o rosto e o olhar, vê o que estiver em cima, em inferior, de um lado, de outro. Pode fixar o olhar em uma personagem em movimento e acompanhá-la porquê se estivesse dentro daquele envolvente”, ensina o diretor.
Esses filmes são captados por câmeras especiais, que filmam 360 graus, e, depois, projetados também por aparelhos diferentes. É uma mídia ainda em período de experimentação, mas enigma quem já domina a tecnologia? Jungle, evidente, que fez seu primeiro documentário em verdade virtual em 2016 em Mariana, cidade histórica de Minas Gerais que foi praticamente destruída pelo rompimento de uma barragem que continha os rejeitos da mineração da empresa Samarco, em novembro de 2015.
“Eu fui pra Mariana porque tudo que eu via era marrom, marrom, marrom, tudo marrom, o jornal marrom, as fotos marrom. Aquilo estava perdendo a força, o impacto daquelas imagens já não era suficiente. E aí o jornal dizia ‘morreu mais um, morreu mais dois’, e tava ficando normal”, lembra o cineasta. “Logo decidi ir pra lá com o equipamento de RV e uma equipe pequena. E a gente ficou chocado com o que viu, o pé afundava na limo até o joelho, podia ter gente morta ali embaixo. Foi uma das coisas mais intensas que vivi na vida em termos de filmagens”.
O documentário, chamado “Rio de Vasa”, é uma experiência intensa mesmo para quem só assiste. O filme, aliás, pode ser visto no YouTube, plataforma do dedo que também está apostando na verdade virtual. Basta procurar pelo título “Rio de Vasa”, vão manar algumas opções, clique na que tiver 4K ao lado do título e assista no celular, para conseguir movimentar a tela e entender porquê funciona a tal verdade virtual.
Depois dele veio “Queimação na Floresta”, de 2017, sobre uma lugarejo indígena que corria risco de ser extinta por pretexto das queimadas nas terras vizinhas. Em seguida, Tadeu dirigiu “Ocupação Mauá”, de 2018, que mostrava porquê era o dia a dia de uma comunidade que morava em um prédio desprezado, em São Paulo.
Logo o cineasta fez “Fazedores de Floresta”, em 2020, uma viagem em procura da chuva no Brasil medial. “Muito-vindes”, do mesmo ano, é uma uma ficção sobre a inclusão de pessoas com Síndrome de Down no mercado de trabalho. “Eu Sou Você”, do ano seguinte, trata do assédio sexual em empresas.
“Maravilhas Naturais do Brasil”, de 2022, mostra parques nacionais do nosso país. E “Cativeiro”, lançado nascente ano, é uma ficção sobre o tráfico de animais silvestres no Brasil, em que o testemunha vê a história do ponto de vista do bicho recluso.
A produção em verdade virtual de Tadeu Jungle tem uma coisa em geral: todos os filmes defendem uma pretexto. Pergunto se isso pode ser influência de sua mulher, a cineasta Estela Renner, uma das sócias da produtora Maria Farinha, que tem a missão de promover mudanças sociais. Renner tem filmes sobre os primeiros anos da vida de um bebê, a epidemia de obesidade infantil e, na TV Mundo, criou e dirigiu a série “Jovens Inventores”.
“Nunca tinha pensado nisso”, diz Tadeu. “Mas acho que sim, a proximidade com a Estela me fez olhar um pouco mais claramente ou mais de perto essa questão do uso do audiovisual para a transformação”. Estela é a quarta mulher de Jungle, “e com quem eu vou passar o resto da vida”, ele diz. Os dois se conheceram trabalhando, ela era uma jovem diretora em início de curso, e ele um possessor de produtora de filmes publicitários e autorais.
“Mas nós dois estávamos envolvidos com outras pessoas na idade, só começamos a namorar anos depois, quando nos reencontramos, solteiros, também no trabalho”. Estela tem três filhos, e quando ela e Tadeu decidiram morar juntos, de repente ele tinha uma família grande. “Foi uma farra”, ele conta, sempre entusiasmado. Hoje em dia os meninos estudam nos Estados Unidos, e Estela vai e volta com frequência para ver os filhos.
No apartamento em que conversamos, mora também Faísca, uma Yorkshire Terrier de 12 anos que ficou cega. “Mas continua muito carinhosa, é uma companheirona”, diz Tadeu, quando ela se aproxima e pede pescoço. Ele passa o resto da entrevista gesticulando com uma mão só, enquanto, com a outra, acaricia o pelo da cadela.
“Eu me sinto o mesmo menino da ECA dos anos 1970, que acreditava que ia mudar o mundo com uma câmera de vídeo e um poema adesivo”, revela Jungle, no termo da conversa. Pelo que eu vi naquela tarde, e durante todos os anos em que o trabalho dele surge em todos os canais, talvez ele seja.