Tarsila: Artista Ganha Ampla Retrospectiva Em Paris 09/10/2024

Tarsila: artista ganha ampla retrospectiva em Paris – 09/10/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Exatamente um ano detrás, Picasso estava em papeleta no Museu do Luxemburgo, por ocasião do 50º natalício da morte do gênio andaluz. Isso dá uma teoria da relevância de “Tarsila do Amaral: Pintar o Brasil Moderno”, mostra que abre nesta quarta-feira (9) no mesmo museu, um dos principais de Paris.

Não que Tarsila (1886-1973) precise da validação europeia para que sua relevância na arte moderna seja reconhecida. Mas a retrospectiva parisiense é mais um sinal de sua valorização crescente. Outros indícios foram a badalada exposição no nova-iorquino MoMA, em 2018, os lances cada vez maiores por suas obras em leilões e até a polêmica sobre a autenticidade de um quadro, caso revelado pela Folha em abril.

Tarsila já tivera obras apresentadas no Luxemburgo, somente dois anos detrás, na exposição “Pioneiras: Artistas na Paris dos Anos Loucos”. A novidade mostra inteiramente dedicada a ela é um tributo a uma artista que não teria sido o que foi sem a influência francesa. Sendo o Luxemburgo um museu estatal, o patrono da exposição é ninguém menos que o presidente da França, Emmanuel Macron.

“Ela viveu cá, fez sucesso cá, depois foi embora e foi injustamente esquecida. Mas agora as coisas estão mudando, e Paris se interessa muito mais por tudo que esqueceu ou viu por pouco tempo. A história de Tarsila conta isso também”, diz a comissária da mostra, Cecilia Braschi.

Estarão no Luxemburgo até 2 de fevereiro muitas das obras icônicas de Tarsila: os autorretratos de 1923 e 1924, o retrato do portanto companheiro Oswald de Andrade (1923), “A Negra” (1923), ” A Caipirinha” (1923) —que em 2020 bateu o recorde para uma pintura vendida em leilão no Brasil: R$ 57,5 milhões -, “A Cuca” (1924), “O Touro (Boi na Floresta)” (1928), “Urutu” (1928).

Mas também está exposto muito material menos publicado, de fases posteriores em que a artista explorou novos temas, porquê as transformações da São Paulo onde viveu.

O grande ausente é o “Abaporu”, que o Museu de Arte Latino-americano de Buenos Aires (Malba) se recusou a ceder. “Fizemos de tudo”, relata Cecilia Braschi. “Ele não sai daquele museu. É, porquê eles dizem, a ‘Mona Lisa’ deles.” A obra-prima, diga-se, foi cedida ao Masp em 2019 para a exposição “Tarsila Popular”, onde provavelmente bateu o recorde pátrio de selfies.

Os parisienses terão que se contentar com dois pequenos estudos do “Abaporu” em nanquim. O desvio em zero diminui o interesse pela retrospectiva.

Também ausente está “A Lua”, adquirido pelo MoMA logo depois da exposição de 2018. Curiosamente, o quadro não fazia segmento da mostra novaiorquina, mas o MoMA se sentiu na obrigação de incorporar ao pilha pelo menos um réplica da brasileira.

“A Lua” tornou-se a primeira pintura de Tarsila em um museu norte-americano. Na França, essa realce cabe à “Cuca”, que desde 1928 está no Museu de Grenoble. Exposta em um salão parisiense em 1926, ela não recebeu lance em um leilão ulterior e foi incorporada ao pilha do Estado gaulês.

Porquê revérbero dessa quase totalidade inexistência no Primeiro Mundo, o nome de Tarsila ainda é novidade para a prelo europeia, que procura naturalmente referências que sirvam de confrontação. Em um tour guiado para a prelo, as perguntas dos jornalistas à curadora Cecilia Braschi eram reveladoras. “Ela conheceu Georgia O’Keeffe?” (Não.) “Ela veio um pouco antes de Frida Kahlo, não?” (Veio.) “Ela encontrou Josephine Baker?” (Certamente.)

Esta é somente a terceira exposição individual de Tarsila em Paris, e a primeira que abrange toda a curso. A primeira foi em vida, em 1926, na renomada galeria Percier, onde também expuseram Picasso, Max Jacob e Alexander Calder. A segunda, em 2005, na Maison de l’Amérique Latine, abrangia os períodos em que ela morou na capital francesa, nos anos 1920.

Tarsila chegou a Paris em 1920 pela porta “errada”. Estudou pintura na Ateneu Julian, “acadêmica” no mau sentido; e expôs no salão da Sociedade dos Artistas Franceses, prestigioso, mas visto porquê retrógrado. Em razão disso, seus primeiros trabalhos parisienses, mesmo de qualidade indiscutível, passam longe do que já havia de moderno nos anos 1920.

A filha da escol cafeeira paulista se emendou com louvor, porém. Depois de um breve retorno ao Brasil em 1922, logo posteriormente a Semana de Arte Moderna, e influenciada por Anita Malfatti, ela volta a Paris disposta a se tornar a “pintora do Brasil”. Aproxima-se de Blaise Cendrars e Constantin Brâncusi, frequenta o ateliê de Fernand Léger, arrisca-se no cubismo e encontra uma novidade voz.

“Tarsila fundou, com Malfatti, uma tradição de presenças femininas marcantes, pioneiras até, na história da arte moderna brasileira: de Maria Martins a Lygia Clark, de Anna Maria Maiolino a Beatriz Milhazes, de Adriana Varejão a Sonia Gomes, para referir somente algumas”, diz Cecilia Braschi, historiadora profissional em arte sul-americana do século 20 e francesa de português fluente.

Um dos méritos da exposição do Luxemburgo é conferir grande relevância à obra tardia de Tarsila. Cecilia Braschi quer desfazer a sensação de que esse período menos publicado da curso da artista seja subalterno: “Para mim, interessava mostrar todas essas evoluções da obra dela. Porque na verdade Tarsila não é somente a artista incrível dos anos 1920, mas atravessa um período mais longo, até os anos 1960, com todas as mudanças políticas, econômicas e culturais que ocorreram no Brasil.”

O período filocomunista da artista está representado pelo clássico “Operários” (1933). O óleo sobre tela “A Metrópole” (1958), pertencente a uma período de paisagens urbanas e raramente exposto, retrata uma São Paulo assustadoramente atual, de arranha-céus azulados, onde o verdejante é confinado ao rodapé e mal se vislumbra a luz do sol.

A partir dos anos 1950, Tarsila revisitou temas da primeira período modernista. Exemplos claros presentes em Paris são “Paisagem com Flores Rosas” (1963) e “Passagem de Nível III” (1965), ambos pertencentes a coleções dos filhos do magnata das comunicações Roberto Pelágico. As casinhas e árvores remetem inevitavelmente a “E.F.C.B.” (1924) e “Palmeiras” (1925).

Na visitante guiada para jornalistas, uma repórter fez uma confrontação pouco lisonjeira dessa período tarsiliana com a obra do italiano Giorgio De Chirico (1888-1978), que na vetustez “autoplagiou” suas obras-primas da juventude, um pouco por provocação, um pouco por mercantilismo. Embora seja sabido que Tarsila passou por dificuldades financeiras na meia-idade, a curadora não crê que a motivação principal fosse financeira. “O espírito era dissemelhante, as cores eram diferentes”, analisa Cecilia Braschi.

Outro préstimo da exposição é não ignorar as contradições do bem-intencionado projeto do movimento antropofágico, formado por privilegiados cuja legitimidade porquê arautos da multiplicidade étnica brasileira era discutível.

A ficha técnica na parede ao lado de “A Negra”, hoje objectivo de críticas pela representação estereotipada, expõe esse incômodo de forma elegante. O quadro, diz o texto, “reata com a iconografia muito brasileira da ‘mãe preta’, estetizando a figura das mulheres afrodescendentes no papel de amas-de-leite a que foram relegadas por muito tempo”.

De Paris, a exposição vai para o Guggenheim de Bilbao, na Espanha, onde ficará de 28 de fevereiro a 8 de junho do ano que vem.

Folha

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