Tarsila Do Amaral De R$ 100 Milhões Fica Presa Em

Tarsila do Amaral de R$ 100 milhões fica presa em Paris – 31/12/2024 – Plástico

Celebridades Cultura

De olhos muito abertos, delineados pelo lápis preto, a boca vermelho sangue, sua assinatura em tantos quadros ao longo da vida, Tarsila do Amaral nos encara em frente aos galhos de uma laranjeira contra fundo azul profundo. “Figura em Azul”, autorretrato da modernista pintado no mesmo ano do clássico “Manteau Rouge” e da recordista em leilões “A Caipirinha”, também está para combate.

O quadro, hoje meio das atenções na retrospectiva de Tarsila no Musée du Luxembourg, em Paris, de novo ela, artista que teima em não trespassar dos holofotes mesmo mais de meio século depois de morta, passou décadas na sala de estar de Ilde Maksoud, viúva do fundador do hotel que levava o sobrenome da família, em São Paulo, vetusto endereço de luxo e sofisticação que já viu trovar Frank Sinatra.

O autorretrato da modernista foi vendido anos detrás em circunstâncias agora claro de disputa de seus herdeiros e hoje valeria um pouco em torno de US$ 8 milhões a US$ 15 milhões, ou de R$ 49 milhões a R$ 93 milhões, de tratado com estimativas do mercado e no rastro da subida da artista ao cânone modernista mundial, em próprio depois de sua retrospectiva blockbuster no Masp há cinco anos e da última Bienal de Veneza, organizada neste ano pelo diretor artístico do museu da avenida Paulista, com presença maciça de artistas do tal sul global.

Documentos, aliás, atestam a valorização vertiginosa desse trabalho específico da modernista. Quando exibida na mostra dedicada à artista no Masp há cinco anos, “Figura em Azul” teve um seguro de R$ 12 milhões, apólice que tinha porquê beneficiário Acácio Lisboa, pronunciado proprietário da tela. O “séjour” de Tarsila em Paris, o leilão de “A Caipirinha” por mais de R$ 57 milhões anos depois e outros que tais fizeram disparar os valores da pintora, sem racontar a polêmica em torno de uma de suas telas apontada porquê falsa pelo mercado.

Desde a morte da matriarca dos Maksouds, divorciada de Henry Maksoud numa partilha de bens concluída há 15 anos e morta, aos 90, há quatro anos, a tela anda envolta em mistério. De tratado com um recibo reconhecido porquê legítimo tanto por um dos herdeiros quanto pelo fruto da compradora, a dona atual da obra é Marisa de Oliveira, ex-mulher de James Lisboa, leiloeiro médio na cena paulistana.

Oliveira, segundo o documento, pagou R$ 2,8 milhões pelo quadro em 2017, num negócio, de tratado com pessoas próximas à transação, realizado entre as duas, sem intermediários, embora conste no recibo a assinatura de Roberto Maksoud porquê testemunha.

Os dois irmãos, herdeiros do velho predomínio do clã Maksoud, notório por brigas familiares que tomaram as manchetes, estão no meio desse embate. Roberto Maksoud, que, segundo testemunhas, chegou a viver com a mãe e herdou a maior secção de sua riqueza, teria convivido mais com a peça. Cláudio Maksoud, o irmão mais novo, diz, por meio de representantes, do escritório LUC Advogados, que o irmão mais velho se apropriou do patrimônio da mãe e vendeu o quadro à sua revelia, embora o recibo da venda mostre a assinatura de Ilde Maksoud.

Quando se divorciou de Henry Maksoud, Ilde, de tratado com pessoas próximas à família, teria recebido muro de R$ 50 milhões e recta a uma pensão que bancasse a manutenção de propriedades de luxo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Também segundo consta no processo em curso, deixou mais de R$ 21 milhões aos herdeiros, entre imóveis e um viatura, porém sem a especificação de obras de arte de valor, porquê a Tarsila agora claro de mais uma combate —o inventário da matriarca, aliás, dedica mais espaço a seus óculos de sol, bolsas e malas de grife e pratarias do que aos quadros hoje tão valorizados.

É outra, no entanto, a situação registrada nos papéis de seu divórcio de Henry Maksoud. O tratado entre os dois destinou a Ilde muro de R$ 10 milhões só em joias, a lar onde vivia, um apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro, alguns terrenos em bairros valorizados de São Paulo e uma centena de obras de arte de mestres do surrealismo e do modernismo, entre eles Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Antonio Bandeira, Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Flávio de Roble, Marc Chagall, Max Ernst, Salvador Dalí e Victor Brecheret.

Mais notável privação, “Figura em Azul” agora é o nó da partilha. Tanto no divórcio do par quanto no tratado selado pelos irmãos na repartição dos bens deixados pela mãe, o quadro não aparece. Os advogados de Cláudio Maksoud levantam a suspeita de que Roberto Maksoud tenha controlado as finanças da mãe, chegando a ouvir funcionários da lar de Ilde que relataram um estado de vigilância metódico no imóvel, sugerindo coerção na venda da Tarsila e uma verosímil apropriação indevida do valor da obra por secção do irmão mais velho.

“Todo o patrimônio dela foi dilapidado, e o Cláudio acredita que o Roberto teria se oportuno dos bens. Essa é a celeuma”, afirma Ricardo Zamariola, jurisperito do irmão mais novo. “Nos últimos anos de vida de dona Ilde, o Roberto foi morar com ela e passou a praticar controle totalidade sobre a mãe. Esse é o contexto.”

Rebento da compradora, Acácio Lisboa afirma que as acusações de ilegitimidade na venda do quadro por secção de Cláudio Maksoud são fantasiosas e sem fundamento. “Tem recibo, tem comprovante de pagamento”, ele diz. “Sei que o Cláudio é uma pessoa meio polêmica, está envolvido em discussões. Eu não sei o que ele procura. Imagina se cada venda de obra vem um herdeiro expor que o pai vendeu barato. Isso você perde a segurança jurídica. Acaba com o mercado de arte.”

“Figura em Azul” é uma obra da tempo mais importante de Tarsila do Amaral, pintada em Paris quando a artista frequentava o círculo da mais subida vanguarda da cidade e assimilava o geometrismo de Fernand Léger. Embora menos cubista em seus contornos, a tela não deixa de pertencer ao caldo daquele momento em que forjou suas raízes plásticas mais reconhecíveis, tão aclamadas pela sátira quanto cobiçadas por um mercado fissurado na obra de artistas latino-americanos protagonistas de uma diáspora modernista no mundo.

Essa mesma tela da modernista chegou a ser roubada há 15 anos num assalto à lar de Ilde Maksoud, na rua Estados Unidos, nos Jardins, em São Paulo, junto de obras de outros artistas, porquê Candido Portinari, incidente que detonou outra série de acusações entre os herdeiros —Cláudio Maksoud disse à era que o roubo fora encomendado.

De tratado com o processo movido pelo herdeiro mais novo, a tela de Tarsila é claro de um novo sequestro. Não poderá deixar Paris, onde está exposta, para as próximas etapas da turnê da exposição, que seguirá para o Guggenheim de Bilbao, na Espanha, em fevereiro do ano que vem, até que um proprietário legítimo seja nomeado pela Justiça. O sequestro em Paris, no entanto, é rejeitado pelos donos da obra, que dizem já ter expirado a liminar movida por representantes de Cláudio Maksoud. Procurado, o Musée du Luxembourg não se manifestou.

Folha

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