Do aeroporto às estações de metrô, do McDonald’s aos restaurantes mais finos, Taylor Swift transformou a paisagem de Toronto nos últimos dias com sua turnê, a “The Eras Tour”, que chega ao término na próxima semana, em Vancouver. Suas músicas dominaram as trilhas sonoras dos principais pontos turísticos e inspiraram exposições de fotografias e figurinos das apresentações.
No entanto, enquanto no Canadá a estrela do pop exclusivamente decorou as cidades, no Brasil, onde se apresentou há um ano, ela deixou um impacto mais profundo, inspirando mudanças na legislação que regula os shows e festivais no país, com propostas que animaram os fãs, ávidos por mais conforto e segurança nesses eventos. Mas eles agora temem que nenhuma mudança se concretize.
É o caso da “Lei Taylor Swift”, uma vez que ficou publicado um projeto de lei criado posteriormente confrontos entre fãs e cambistas com mediação policial nas bilheterias, e uma portaria que obrigou os produtores a distribuírem chuva gratuitamente em eventos de grande porte, uma resposta à morte de uma fã da artista americana num de seus shows por complicações do calor no Rio de Janeiro.
‘Lei Taylor Swift’
A “Lei Taylor Swift” está há seis meses paragem na mesa do senador Randolfe Rodrigues, do PT, que precisa enunciar um relatório antes de o projeto seguir para sanção do presidente Lula. Questionado por telefone desde terça-feira, Rodrigues não respondeu quando pretende apresentar o parecer ou se vai delegar a tarefa a outro parlamentar.
O projeto de lei, que também impacta eventos esportivos, quer tornar transgressão a revenda de ingressos a preços superiores ao que é cobrado nas bilheterias oficiais, com pena de um a dois anos de detenção, além de multa correspondente a centena vezes o valor da ingresso.
Nos Estados Unidos, onde também houve caos nas vendas, novas regras impedem a transferência de titularidade de ingressos nos três dias anteriores aos shows de Swift. Aliás, a produtora Live Nation, responsável pela turnê no país, está sendo investigada por suspeita de monopólio, já que controla a Ticketmaster, encarregada das bilheterias, numa estrutura que se assemelha à da Time for Fun e de sua afiliada Tickets for Fun no Brasil.
Chuva de perdão
Já a distribuição gratuita de chuva iria falecer em dezembro. Em seguida o contato da reportagem nesta quarta-feira, o Ministério da Justiça prorrogou a medida pela terceira vez —agora ela vale até junho— e indicou a intenção de tornar a obrigatoriedade fixa, por meio de um decreto a ser publicado no ano que vem.
Mas a iniciativa é considerada insuficiente pelo público. A norma não especifica uma vez que a chuva deve ser disponibilizada —se em bares onde também é comercializada ou em pontos específicos— e deixa ao resistência dos produtores a decisão sobre quais garrafas ou copos podem ser levados aos eventos.
O secretário vernáculo do consumidor, Wadih Damous, reconhece que as regras precisam ser mais específicas e diz que ainda está debatendo quais fatores caracterizam um evento de grande porte, que deve se subordinar ao decreto, e de quais materiais podem ser feitos os recipientes com chuva, com “zero que possa machucar outras pessoas”.
Outra queixa recorrente é a intervalo entre os bebedouros dos estádios, localizados sob as arquibancadas, e o gramado, onde a maior secção do público se concentra. Para reabastecer uma garrafa, os espectadores precisam encruzar uma povaléu, o que torna a tarefa incômoda e demorada, enquanto para comprar bebidas, inclusive copos de chuva, há diversos bares pelo espaço e vendedores ambulantes.
Morte de fã
Também incomoda os fãs de Swift que a investigação sobre a morte de Ana Clara Benevides Machado, aos 23 anos, não foi concluída e ninguém foi responsabilizado pela tragédia, que aconteceu na estreia da turnê no Brasil.
Segundo o jurisconsulto da família Benevides, João Paulo Sales Delmondes, a polícia teria justificado o delongado na apuração por conta de uma mudança no comando do 24º Região Policial do Rio de Janeiro, responsável pelo caso.
A corporação afirma ter ouvido testemunhas e analisado laudos periciais. “Essa vagar gera suspicácia e a sensação de que um caso que chocou o mundo não está sendo tratado com seriedade”, diz o jurisconsulto.
Caso de Justiça
Enquanto isso, a Time for Fun, a T4F, produtora que trouxe Swift ao Brasil, enfrenta uma vaga de processos judiciais. O público pede indenizações de R$ 10 milénio a R$ 30 milénio por desculpa do cancelamento da apresentação marcada para o dia seguinte à morte de Benevides, suspensa a menos de duas horas do início previsto, devido ao calor.
À quadra, em vídeo publicado nas redes sociais, Serafim Abreu, CEO da T4F, reconheceu que a empresa poderia ter tomado atitudes uma vez que gerar áreas de sombra nas zonas externas no estádio do Engenhão, no Rio, onde os fãs aguardam por horas a introdução dos portões, ou mudado o horário dos shows.
Embora os casos ainda estejam em tramitação na Justiça, uma jurisprudência favorável à T4F tem ganhado força. Os tribunais têm determinado que o cancelamento ocorreu em circunstâncias fora do controle da produtora, o que a isenta do pagamento de indenizações.
Segmento dos fãs de outras cidades e estados que viajaram ao Rio insistem em seus prejuízos, já que não puderam permanecer na cidade para presenciar ao show, remarcado para dois dias depois. Eles alegam ter corcovado com custos uma vez que passagens, hospedagem e alimento sem a chance de ver Swift.