Taylor Swift: Show Prova Que Só Há Cancelamento Nas Redes

Taylor Swift: Show prova que só há cancelamento nas redes – 24/11/2023 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Oi, sou eu. Eu sou o problema. Sou eu.” Taylor Swift está prestes a encerrar o primeiro de seus três shows em São Paulo neste fim de semana quando canta “Anti-Hero”, um single de seu último álbum de inéditas, “Midnights”.

Talvez não passe por sua cabeça que os versos podem ter ganhado outra interpretação após a estreia caótica de sua turnê no Brasil, com a morte de uma fã e o desmaio de mil pessoas devido ao calor no Rio de Janeiro há uma semana.

Para parte do público brasileiro, Swift é mesmo o problema. No entanto, para quem assistia na noite desta sexta-feira à sua primeira apresentação no estádio Allianz Parque a cantora americana era mais uma vítima do que uma anti-heroína.

Ao menos foi o que indiciou o fôlego da plateia, que cantou cada uma das 45 músicas da setlist de três horas de duração a plenos pulmões, mesmo depois de enfrentar horas de fila debaixo da chuva e assistir a outro show de meia hora, o de abertura, com Sabrina Carpenter, uma novata do pop que tem Swift como madrinha.

Os fãs não culpam Swift pela morte da estudante de psicologia Ana Clara Benevides, de 23 anos, mas eles se incomodam com o silêncio que a artista fez diante da inação da T4F. Sem assistência, a família de Benevides precisou fazer uma vaquinha para levar seu corpo de volta a Mato Grosso do Sul, onde vivia.

A impressão é de que, no show, isso são águas passadas. Não parece justo, no entanto, culpar os fãs por serem fãs. Eles gastaram milhares de reais com a compra de um ingresso, transporte, hospedagem e alimentação, custos que normalmente não podem ser reembolsados em caso de desistência.

Não foi difícil. Em termos de produção, o show é um espetáculo difícil de comparar, em que Swift revisitou todos os seus dez discos e trocou de roupa, junto com seus dançarinos, 16 vezes, se não falha a memória deste repórter. Tantas transições poderiam prejudicar o ritmo, mas, rápidas ao ponto de o público mal sentir, acabam por conferir dinamismo à apresentação.

Para isso, a artista recorreu a tudo o que a tecnologia pode oferecer, dos tradicionais e batidos fogos de artifício, holofotes e pulseiras de LED a projeções cinematográficas, mais ou menos como fez Rosalía para sua tour do disco “Motomami”.

Ainda que sem um videografista que acompanhasse cada um de seus passos no palco, uma série de câmeras fixas espalhadas pelo estádio ofereciam aos editores diferentes opções de corte, ora exibidos sozinhos, ora interpolados com cenários de alusão a cada composição.

Outro trunfo foi o palco, que atravessa o estádio com uma passarela de uma ponta à outra, com diferentes plataformas que elevam Swift alguns metros de altura em determinadas canções e tem projeções até no chão, para as tomadas áreas que vão para o telão.

Incomoda, no entanto, que, para além das duas músicas surpresas que são uma tradição em todo show, Swift tenha seguido tão à risca o roteiro da apresentação, sem apresentar nenhuma diferença em relação não só aos três shows, mas também aos que já fez no Brasil, mas a todos os outros que fez nos Estados Unidos, no México e na Argentina, os países pelos quais já passou com a turnê.

É compreensível o receio de extrapolar o plano ao ter que entregar uma apresentação tão longa e com tantas trocas de looks e cenários, algo que exige não só que ela vá de uma ponta do palco à outra, mas suba em uma casa colocada em cima do palco, para a era do disco “Folklore”, e pule de cabeça dentro de uma área do palco que se abre para reaparecer em outro local e apresentar as canções do álbum “Midnights”.

Swift não precisava rasgar o roteiro, porque isso artista nenhum de seu porte faz em uma turnê de mais de cem shows. Mas, mesmo sem fazer nenhuma homenagem à fã que morreu, o que seria de bom tom para todas as apresentações no Brasil, ela poderia, por que não, convidar ao palco Paula Fernandes, uma artista que ajudou a cultivar sua fama no Brasil, ao gravar um dueto em “Long Live” para o álbum “Speak Now” em 2010.

Ou quem sabe ter ao menos mudado uma frase ou outra que diz ao interagir com a plateia. O público de São Paulo, por exemplo, ouviu o mesmo “nem fodendo” que ela disse no Rio ao cantar “We Are Never Ever Getting Back Together”, um de seus hits do disco “Red”. Não foi tão legal a mesma piada pela quarta vez no país.

Nada disso, porém, pareceu ser um problema para os “swifties”, como seus fãs chamam uns aos outros.

Prova disso foi a apresentação da regravação de “All Too Well”, quando o show já tinha passado de uma hora e meia de duração. Por nada menos do que dez minutos, foi difícil ouvir a voz de Swift, de tão alto que a plateia cantava.

Se havia dúvida se Swift precisava sair do roteiro nesta noite para reaver a empatia de seu público, agora não há mais.

Talvez tenha ajudado o fato de que o público teve mais conforto do que o usual. Embora seja difícil caracterizar isso em números, havia mais policiamento nas ruas, mais organização nas filas, com brigas curtas e rapidamente contidas, além de distribuição de água em todo canto, o que pode parecer o mínimo, mas é surpreendente para o público costumeiro de shows deste porte e principalmente para os fãs que assistiram à estreia da “The Eras Tour” no Rio.

O tempo também deu uma brecha para o público. A chuva e as baixas temperaturas que estavam previstas nos dias anteriores ao show não se concretizaram. Garoou na chuva, mas assim que Swift subiu ao palco a chuva cessou.

Apesar de espaços vazios ao fundo da pista e de o palco ocupar parte da área, a T4F divulgou que a apresentação desta noite bateu o recorde de público do Allianz Parque para um show, com mais de 50.000 pessoas. A lotação máxima do estádio não foi informada.

A celebração da plateia, por fim, representa um sinal simbólico para a era do cancelamento. O de que, não importa o quanto a imagem de um ídolo possa ter sido arranhada, seus fãs continuarão a consumir seu trabalho —ainda que, nas redes sociais, possam gritar o contrário.

Folha

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