Quando São Paulo completava seu 4º centenário, o hotel Jaraguá abria suas portas na região meão da cidade. Agora, 71 anos depois, o mesmo prédio modernista aproveita mais uma vez o natalício da capital para inaugurar outro espaço, o Teatro D-Jaraguá.
No sábado (25), o lugar abre as portas com a estreia da peça “Balada Supra do Profundeza”, criada a partir de textos de Clarice Lispector e protagonizada por Maria Fernanda Cândido.
“Ela começou a curso dela cá, amamentou o rebento nas coxias deste teatro. Quis chamá-la para a estreia e ela topou”, afirma Darson Ribeiro, 59, ator, diretor e produtor que comanda o novo teatro.
O espaço cultural dará perpetuidade ao trabalho que começou a ser realizado com o Teatro-D, no Itaim Bibi. Inaugurado no final de 2019 com show de Ney Matogrosso, o lugar foi palco de peças com atores porquê Cássia Kis e Heloísa Périssé, até Ribeiro receber a notícia de que o prédio fora vendido e seria demolido.
Depois de dois anos e meio de trabalho -enfrentando uma pandemia neste período- o Teatro-D teve de fechar as suas atividades em julho de 2022. Desde portanto, Ribeiro procura um novo lugar para continuar o projeto.
Prédio histórico
Recentemente adquirido pela rede brasileira Vernáculo Inn, o tradicional hotel paulistano foi construído porquê sede do jornal O Estado de S. Paulo.
Próximo às estações República e Anhangabaú, o prédio é parcialmente tombado pelo pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), a nível municipal, e pelo Recomendação de Resguardo do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo (Condephaat).
Além da arquitetura franco-brasileiro Jacques Pilon, que também projetou a Livraria Mário de Andrade, o hotel ficou publicado pela riqueza artística que abriga. Na frontaria, há um mural de Di Cavalcanti (1897-1976) e, no saguão de ingressão, é verosímil observar um quadro de Clóvis Graciano (1907-1988).
É muito em frente à obra que ficará a bilheteria do novo teatro, também ao lado do Bar do Clóvis, reaberto para apoiar os frequentadores do espaço. O lugar já está funcionado diariamente a partir das 17h, com opções de cardápio porquê taças de vinho (R$ 28), porções de dadinhos de tapioca (R$ 37) ou de pastel (R$ 47).
O hotel também foi sede de eventos culturais, porquê o 1º Festival Internacional de Cinema. A partir daí, diversas personalidades nacionais e internacionais se hospedaram no lugar. Entre elas, Alain Delon, Ella Fitzgerald, Sophia Loren, Frederico Fellini, Brigitte Bardot, Louis Armstrong, Edith Piaf e rainha Elizabeth 2ª – todos fotografados e expostos em galerias no lobby do hotel.
O novo teatro
O Teatro D-Jaraguá está no caminhar E1 do prédio, um aquém do saguão do hotel. Até o final de 2024, o espaço estava sendo utilizado em eventos corporativos. Para voltar a ser utilizado com fins culturais, Ribeiro realizou uma reforma da plateia ao palco.
Agora, o lugar passa a ter 260 poltronas e o palco, em formato italiano, foi rebaixado alguns centímetros para melhorar a visibilidade que o público tem das encenações. Na ingressão, é verosímil ver pilastras pintadas pelo artista plástico Guilherme Kramer que relembram a estrutura do Teatro-D anterior.
Há também uma obra de Marysia Portinari, sobrinha de Cândido Portinari, encomendada para o hotel por Alaíde Quércia quando ainda era primeira-dama da cidade. A pintura foi encontrada em meio à reforma do teatro e segue exposta na ingressão do lugar.
Além de “Balada Supra do Profundeza”, outras peças passam pelo teatro no primeiro semestre de 2025. “Busquei para a programação peças que já fossem consagradas”, conta Ribeiro. A seguir, confira o que entra em papeleta no novo espaço.
Balada Supra do Profundeza
Dir.: Gonzaga Pedrosa. Com: Maria Fernanda Cândido e Sonia Rubinsky. Livre
Momentos emblemáticos da vida e da obra de Clarice Lispector dialogam com um repertório para piano. Aborda temas porquê a espiritualidade, o feminino, a puerícia, a vocação literária e a paixão pela língua portuguesa da escritora.
De 25/1 a 9/2. Qui. a sáb., às 20h. Dom., às 19h. Ingr.: R$ 150 em Sympla
Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio
Dir.: Luiz Antônio Rocha. Com: Beth Zalcman. 12 anos
Uma mulher está sozinha em seu último dia de vida e reflete sobre sua missão de vida e o conhecimento que adquiriu em diferentes lugares do mundo. O texto da filósofa Lúcia Helena Galvão está em papeleta desde o início de 2023 e faz quatro apresentações no novo teatro da capital paulista.
De 12 a 15/2. Qua. a sáb., às 20h. Ingr.: R$ 150 em Sympla
Parem de Falar Mal da Rotina
Dir.: Geovana Pires. Com: Elisa Lucinda. 14 anos
Em solilóquio, a protagonista convida o testemunha a uma auto-observação da dramaturgia diária, ou seja, da rotina. A comédia tem 22 anos de trajetória e já passou por diversos estados brasileiros.
De 20 a 23/2. Qui. a sáb., às 20h. Dom., às 19h. Ingr.: R$ 150 em Sympla
Outra Revolução dos Bichos
Dir.: Bruce Gomlevsky. Com: Gustavo Damasceno. 14 anos
Inspirado no livro George Orwell, o espetáculo solo faz um paralelo entre os anos 1945 e 2023 para tratar do autoritarismo em diversas partes do mundo.
De 11/3 a 3/4. Ter. a qui., às 20h. Ingr.: R$ 100 em Sympla
Um Tartufo
Dir.: Bruce Gomlevsky. Com: Glauce Guima, Gustavo Damasceno e Yasmin Gomlevsky. 14 anos
Propõe uma releitura do clássico de Molière à luz da cultura brasileira contemporânea. Sem falas, somente com o uso do corpo, a companhia Teatro Esplendor trata de temas porquê a fé cega, o fundamentalismo religioso e a união entre religião e Estado.
De 7 a 30/3. Sex. e sáb., às 20h. Dom., às 19h. Ingr.: R$ 100 em Sympla
Raul Seixas, o Músico
Dir.: Leonardo da Selva. Com: Bruce Gomlevsky. 14 anos
Escrita com base em manuscritos do artista, a peça apresenta sua obra e seu papel no Brasil, tanto na classe artística porquê na sociedade. Sucessos porquê “Gita”, “Maluco Venustidade” e “Mudança Ambulante” fazem segmento do repertório do espetáculo, que já fez sucesso no Rio de Janeiro.
De 9/4 a 29/6. Qui. a sáb., às 20h. Dom., às 19h. Ingr.: R$ 150 em Sympla
Teatro-D-Jaraguá
R. Martins Fontes, 71, Meio, região meão. @teatrodjaragua
