Tempo de guerra incomoda ao mostrar combate em tempo real

Tempo de Guerra incomoda ao mostrar combate em tempo real – 15/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Um grupo celebra efusivamente um tanto que se desenrola numa tela à sua frente. Poderiam ser fãs da A24, entusiasmados com o vestimenta de a produtora queridinha dos cinéfilos estar lançando ela própria, pela primeira vez, um filme no Brasil. Mas a cena pertence aos personagens deste longa, “Tempo de Guerra”, num vasqueiro momento de alegria.

Daí para frente, os rapazes que vibravam com as moças de um vídeo de ginástica aeróbica pegam em armas e escoltam o testemunha por uma hora e meia de agonia, durante a ocupação americana no Iraque em 2006. Corpos mutilados logo ofuscam qualquer expectativa de leveza.

Dirigido por Alex Garland –um ano depois de fazer “Guerra Social” também para a A24–, em parceria com Ray Mendoza, ex-integrante da Marinha dos Estados Unidos que estreia porquê cineasta, “Tempo de Guerra” não é uma experiência deleitável.

Se “Guerra Social”, em que Wagner Moura tenta entrevistar o presidente durante um violento conflito em território americano, era quase um “road movie”, cobrindo vastas quilometragens, “Tempo de Guerra” se desenrola na claustrofobia de um apartamento sitiado pela Al Qaeda.

Dentro, jovens soldados tentam evadir com seus feridos daquele território inimigo, numa missão mostrada ao testemunha em tempo real. Conforme corpos vão sendo dilacerados e militares começam a mourejar com os primeiros sinais de estresse pós-traumático, silêncios se alternam com o estrondo das balas e dos gritos, sem trilha sonora.

“Não foi nossa intenção fazer um filme gráfico, perturbador, mas queríamos ser honestos. A dor de um soldado alvejado não dura um minuto e meio, porquê normalmente é o caso no cinema. Zero do que fizemos foi uma escolha criativa, mas sim uma tentativa de mostrarmos aqueles eventos da forma mais leal provável”, diz Garland.

O roteiro, também compartilhado com Mendoza, foi escrito depois de eles se conhecerem em “Guerra Social”, em que o veterano serviu de consultor. A trama foi costurada a partir de seus relatos e dos colegas que viveram aquela angustiante uma hora e meia, mostrada ao testemunha sem intervalos.

Diferentemente dos delírios hiperbólicos de “Guerra Social”, que incluía até bombardeios à Morada Branca, “Tempo de Guerra” é mais sóbrio e pé no soalho. Não há muito a enquadrar além de paredes cobertas por furos e rostos marcados por pânico, numa trama que avança mais pelas relações construídas entre os personagens, conforme o transe aumenta, do que pela missão em si.

Essa procura pela humanidade, escondida sob o semblante feroz e os trajes pesados, é generalidade ao cinema de Garland, que também escavou os personagens de “Ex Machina”, que dirigiu, e “Não Me Abandone Nunca”, que roteirizou, em procura do que havia de mais cru e ordinário.

Já para Mendoza, testemunha dos horrores da guerra, a missão principal era ser real, dispensando o heroísmo e a romantização comuns ao gênero de guerra para questionar que sacrifício é esse, feito em nome de líderes que decidiram ir ao campo de guerra sem pensar em quem mais tinha um tanto a perder.

“Não é um filme sobre a Guerra do Iraque. O conflito é somente o contexto que nos permitiu dissecar as emoções, o caos, o temor, as idiossincrasias de qualquer guerra. Falamos de traumatismo, de emoções, um tanto que não somos encorajados a fazer enquanto militares”, diz Mendoza.

Encabeçando o elenco, Will Poulter é o mais assertivo, entre a dúzia de jovens atores, quase todos em rápida subida no cinema e na TV, que estão na traço de frente de “Tempo de Guerra”. Para ele, Hollywood sempre foi vidrada em glorificar a guerra, apesar de suas consequências.

Poulter vive o gerente do batalhão que fica recluso, enquanto Charles Melton é seu equivalente na equipe de soldados que tenta se aproximar para resgatá-los. D’Pharaoh Woon-A-Tai ganha mais espaço por viver o próprio Mendoza, e por cuidar das feridas que os personagens de Joseph Quinn e Cosmo Jarvis sofrem.

Kit Connor, Noah Centineo e o brasílico Henrique Zaga completam o batalhão com idade entre os 20 e os 30 anos, numa escolha que, além de refletir a veras, casou com a intenção dos diretores de rejeitar homens mais velhos e de subida patente, que não formam a tamanho de vidas perdidas em campos de guerra mundo afora.

“Sem querer criticar outros filmes de guerra, mas cá a intenção era mostrar a violência sem seguir a silabário de Hollywood, sem manipular o testemunha emocionalmente. Não há trilha sonora que instiga o público a reagir de uma forma ou de outra. As pessoas vão reagir a uma recriação de eventos reais”, diz Poulter.

“Tempo de Guerra” faz bom uso da experiência cinematográfica tradicional, dos alto-falantes que explodem e da telona que esfrega horrores gráficos na face do testemunha. Talvez por isso, com temor de o filme de médio porte ir diretamente para o streaming, a A24 tenha optado por lançá-lo no Brasil com suas próprias mãos.

A Folha apurou que levante primeiro lançamento próprio no território brasílico, porém, é fruto do casualidade e não integra uma estratégia da produtora americana de se fazer presente no mercado sítio. Seus próximos filmes continuam com distribuição de parceiros porquê a Paris Filmes, que lança “A Mito de Ochi” no mês que vem.

Ao contrário desses casos, em que a A24 vende os direitos de distribuição no país, em “Tempo de Guerra” o lançamento é feito com o auxílio de um agente –”booker”, no termo em inglês usado pela indústria–, que faz a intermediação entre a produtora americana e órgãos e exibidores locais.

O início em tom celebratório, pelo visto, foi mesmo uma fantasia enganosa do que estava por vir, falemos da trama de “Tempo de Guerra” ou do experiência de uma novidade relação entre a A24 e o público brasílico.

Folha

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