Preste atenção à sequência de créditos de preâmbulo da terceira temporada da série “The White Lotus”, ambientada em um resort de luxo na ilhota de Koh Samui, na Tailândia.
A câmera passeia sobre desenhos coloridos que ilustram o cenário e a cultura centenária do lugar. Mas as imagens dos santuários budistas e elefantes em meio à vegetação florida logo dão lugar a macacos furiosos e náufragos sendo devorados por criaturas marinhas.
Leste padrão sinistro reflete o roteiro de todas as temporadas de “The White Lotus”.
Mas, ao contrário da preâmbulo e das duas versões anteriores, o restante desta temporada muito arrastada não chega ao vértice com a rapidez ou a intensidade necessárias. Nenhuma série deveria ter um ritmo tão lento, a ponto de só inaugurar a decolar na metade da temporada.
A produção ainda conta com a marca do seu diretor e roteirista Mike White. E, ocasionalmente, com sua iconoclastia e inventividade. Porém, desta vez, o resultado parece fraco, arrastado e com muito menos ironia.
Provocações ‘vazias’
Porquê nos anos anteriores, a terceira temporada começa com um morto não identificado, depois que uma sessão de reflexão com a chamada “mentora de saúde” do resort é interrompida pelo som de tiros.
É o término da calma místico do Oriente que os ricos turistas ocidentais talvez esperassem vivenciar durante a viagem. A história, portanto, volta para uma semana antes, com a chegada dos hóspedes.
A série sempre traz críticas aos ultrarricos enquanto se encaminha para o homicídio. Por isso, faz sentido que os personagens mais interessantes sejam um rico consultor financeiro e sua família, mas as provocações sobre seus privilégios são vazias.
Tim Ratliff enfrenta sérios e previsíveis problemas no seu trabalho, mas o ator Jason Isaacs interpreta o desespero do personagem de forma urgente e visceral.
Sua esposa Victoria, papel de Parker Posey, é uma personagem de uma nota só, sempre sob o efeito da sua medicação contra a sofreguidão.
Mas o inteligente elenco formado por Mike White faz com que a novidade temporada seja melhor do que sugere a história. Os filhos de Ratliff, por exemplo, são muito muito interpretados.
A filha do meio, a séria Piper, personagem de Sarah Catherine Hook, fez a família viajar para a Tailândia, para poder pesquisar para sua monografia para a faculdade, sobre o budismo. Aliás, oriente é um dos poucos pontos do roteiro que, realmente, têm a ver com a Tailândia.
O rebento mais velho, Saxon, é um idiota de boa fisionomia, obcecado por sexo. Patrick Schwarzenegger realmente transmite as características deste sujeito dos quais hedonismo se volta contra ele. E Sam Nivola interpreta o rebento mais jovem, o tímido Lochlan, estudante do ensino médio.
Se você tiver a inquietante sensação de que as fronteiras sexuais desta família são vagas demais, confie nos seus instintos.
Mike White oferece uma viradela chocante, que comprova que o diretor não perdeu totalmente o rumo, nem sua disposição de examinar um pouco a psicologia sombria dos seus personagens.
A escolha dos atores para interpretar os irmãos Ratliff pode parecer motivada pelo nepotismo. Enfim, Patrick é rebento de Arnold Schwarzenegger e Maria Shriver, enquanto os pais de Sam são Alessandro Nivola e Emily Mortimer.
Mas os dois atores são totalmente naturais e convincentes. Eles justificam a escolha por seus próprios méritos.
Em outra escolha inteligente e inesperada, Walton Goggins, da série Fallout, de 2024, interpreta o misterioso Rick. Suas camisas berrantes e fisionomia desgrenhada o deixam deslocado no resort. Ele parece ser uma espécie de vigarista que explora sua namorada mais jovem, vivida por Aimee Lou Wood.
Mas o momento em que Goggins deixa de lado seus sorrisos extravagantes e revela seus motivos ocultos chega a ser comovente, se você conseguir crer naquela história.
Natasha Rothwell retorna uma vez que Belinda, a gerente do spa em Maui, no Havaí, da primeira temporada, lançada em 2021. Agora, ela está na Tailândia em um estágio profissional no setor de bem-estar.
Rothwell sempre faz com que sua personagem seja tocante, com um gulosice sorriso reservado que indica uma vez que ela tem poucas expectativas sobre sua vida. Cá, ela é usada principalmente uma vez que mecanismo de enredo, mas o roteiro em si é inteligente e repleto de referências às temporadas anteriores. Seria spoiler revelar mais detalhes.
A segmento mais fraca do enredo, de longe, envolve três amigas de longa data, em uma viagem só de mulheres.
As personagens de Carrie Coon, Michelle Monaghan e Leslie Bibb são incrivelmente clichês. Suas histórias incluem ciúmes, fofocas e uma proeza amorosa de férias.
Logo no início, Coon engole um taça de vinho inteira, em um tipo de cena que normalmente precede assédios e insinuações dos personagens. Esta sequência pretende ser a mais engraçada de todas, mas parece simplesmente anacrônica.
Com tantas possibilidades, é decepcionante que a série não faça bom uso da sua ambientação. Ela inclui exclusivamente cortes para imagens de macacos ou estátuas de macacos, cá e ali.
Mesmo com todas as diferenças de classes e culturas incluídas no roteiro, os personagens tailandeses são marginais e superficiais.
Lalisa Manoban —mais conhecida uma vez que Lisa, do grupo de K-pop Blackpink—interpreta Mook, funcionária do setor de bem-estar que pouco tem a fazer, a não ser sorrir e flertar com o segurança na ingresso do resort.
Alguns temas importantes vêm à tona, à medida que se desenrolam os oito episódios da temporada— principalmente quando Piper visitante um monastério budista. Mas, no final do sexto incidente —o último enviado para os críticos de TV—, a terceira temporada ainda é exclusivamente um repercussão das duas anteriores.
Já foi confirmada a quarta temporada de “The White Lotus”. A série terá portanto a oportunidade de se emendar, talvez não na Tailândia.
“The White Lotus” está disponível no Brasil no Max e na Prime Video. A terceira temporada tem estreia marcada para 16 de fevereiro.
Leste texto está disponível originalmente cá.