Muito no ritmo frenético de um jovem anos 2010, Tim Bernardes, 33, concilia 50 milénio coisas diferentes ao mesmo tempo. Neste sábado (10), em São Paulo, faz uma das duas únicas apresentações solo no país em 2024 enquanto se prepara para fechar um ciclo primeiro d’O Terno, margem que lidera há mais de 15 anos.
Ainda que o hiato do trio fosse um projecto vetusto que a pandemia adiou, o proclamação da pausa veio em um momento curioso para os fãs, uma vez que o grupo havia terminado de tocar para um grande público por duas noites consecutivas no Espaço Unimed, a mesma morada que receberá Tim neste final de semana.
Não é que não houvesse pistas. Durante esses shows, sempre em clima de comicidade, o baterista Biel Basile, o Bielzinho, e o baixista Guilherme D’Almeida fizeram piadas com a curso solo de Tim e brincaram que ele desconhecia partes da apresentação porque elas foram combinadas num grupo de WhatsApp sem o vocalista, guitarrista, pianista e, ao termo, diretor músico da margem. Todos riram, todos continuam vivos.
“No final de 2019, a gente estava numa bateria incessante de shows, vivendo porquê um grupo havia pouco mais de dez anos”, afirma Tim. “E tínhamos vontade de que O Terno não fosse a coisa principal, para poder focar nossos projetos paralelos. A margem fez segmento da vida enquanto estávamos na fita dos 20 anos, até chegarmos aos 30, logo me parece oriundo ter um momento de querer se apropriar da sua independência.”
O libido de se emancipar já estava presente no último disco do trio, “Detrás/Além
Se muita coisa foi ficando cansativa [com O Terno], a gente se perguntava por que acreditávamos naquilo, por que gostávamos daquilo. Não temos muito essa coisa de tem que fazer mais um disco, tem que fazer show. E não falamos em termo da margem porque se daqui a alguns anos a gente quiser fazer um show, não tem nenhum grande proibitivo
No início, o grupo se calcava em um rock mais clássico, com pegada retrô, e por vezes soava de maneira um tanto genérica. No transcursão dos discos, ganhou musculatura própria, baixou a rotação, e as canções foram ficando mais complexas, com diferentes camadas e arranjos de sopro e cordas. Na curso solo, Tim recorre a uma estrutura similar, só que mais silenciosa, porque grande segmento das canções é baseada em voz e violão —protótipo das apresentações em São Paulo e na capital fluminense, no Vivo Rio, no próximo dia 24.
A jornada dupla também se dá nas letras, já que o último disco solo do paulistano, “Milénio Coisas Invisíveis”, também aborda os dissabores e o fascínio que a passagem de jovem adulto para adulto-adulto oferece. A capacidade para riscar cenas, escolher palavras e fugir de clichês arrebatou público e até gigantes da música brasileira, porquê Gal Costa, Maria Bethânia e Milton Promanação, artistas com quem fez parcerias.
“Quase sempre uso experiências que vivi para criar”, afirma Tim. “Se não vier de uma experiência própria, tenho dificuldade. Nunca inventei um personagem, mas não narrativa histórias de forma literal.” O músico cita “Última Vez”, música faroeste-cabocliana sobre um parelha que, posteriormente se separar, passa por um revival. Ali, o conforto da intimidade convive com cicatrizes ainda expostas, e o narrativa, diz ele, é mais uma reunião de “coisas verdadeiras” do que um relato leal. Seja porquê for, a exatidão para descrever sensações impressiona.
Mesmo quando escreve sobre um paixão mais idealizado, caso de “BB (Garupa de Moto Amarela)”, música que facilmente poderia ser tema de romance, arranca frases que, de tão ingênuas, reproduzem com plenitude a sensação de se gostar abobadamente por alguém. “Você vai tanto para o íntimo que pode conversar com o íntimo das pessoas. É uma experiência de primeira pessoa. Somos a primeira pessoa da nossa vida.”
Enviar-se muito é um tanto que Tim faz além das letras. Uma vez que alguém que cresceu em um envolvente do dedo hostil, usa as redes sociais para vulgarizar shows com posts simples mas elaborados, aproveitando-se do visual hipster marcante e do carisma frente à câmera para fabricar uma conexão direta com seu público.
Assim, prioriza formatos que gostaria de ver nos perfis de artistas que admira, porquê vídeos de músicas em versões diferentes, tomando desvelo, afirma ele, com os riscos do algoritmo. “A gente brinca com o risco, é um negócio que mexe com o libido humano de ser reconhecido”, diz o músico. “Mas também é a instrumento mais potente na construção de uma base. A teoria d’O Terno era fabricar uma comunidade sem intermediários.”
Minha preocupação é exprimir a música da maneira mais potente verosímil e leal a mim mesmo. Quero descobrir o ponto onde dá pra convergir, logo tomo bastante desvelo para não deixar essas métricas me afetarem muito
O público, aliás, cresceu além mar, e os últimos shows do trio antes do hiato serão fora do país, no Japão e em Portugal, em novembro, seguindo a toada da curso solo de Tim —em 2024, ele se apresentou mais vezes no exterior do que cá, e há mais três datas marcadas nos Estados Unidos até o final do ano.
Antes do trecho gringo, a margem vai a Belo Horizonte, no dia 29, e encerra as atividades no Brasil, ao menos por agora, em São Paulo, no Coala Festival, em 6 de setembro, um evento simbólico para o grupo, que tocou na primeira edição da sarau, em 2014. Depois, sabe-se lá quando Tim, Bielzinho e Guilherme se reunirão.
“O Los Hermanos seria uma referência neste ponto. Se eles voltam a tocar, eles estão maiores. E às vezes essas pausas até aumentam a mística da coisa”, diz o músico. “Talvez, se não fossem os únicos shows d’O Terno, não iriam 10 milénio pessoas, mas 5.000, porque talvez ela vá ver a margem em outra oportunidade, sabe?”