O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federalista (STF), determinou, nesta segunda-feira (5), que a Procuradoria-Universal da República (PGR) encaminhe à Galanteio uma série de documentos para apurar a atuação da organização não governamental (ONG) Transparência Internacional no Brasil.
“Tal providência faz-se necessária principalmente para investigar eventual apropriação indevida de recursos públicos por segmento da Transparência Internacional e seus respectivos responsáveis, sejam pessoas públicas ou privadas”, justificou o ministro ao ordenar que a PGR lhe entregue transcrição dos documentos que obteve em investigações que, segundo ele, têm conexões com casos sob sua responsabilidade.
“Muito examinados os autos, verifico que fatos gravíssimos e que não passaram pelo crivo do Poder Judiciário e do Tribunal de Contas da União [TCU] foram descritos na decisão proferida nestes autos pelo ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal de Justiça [STJ]”, acrescentou Toffoli, referindo-se à decisão anterior, na qual Humberto Martins afirma ser “adequada e prudente” a remessa, para Toffoli, do processo instaurado no STJ para apurar a atuação da ONG.
As decisões de Martins e de Toffoli foram motivadas por uma notícia-crime que o deputado federalista Rui Falcão (PT-SP) apresentou contra os procuradores da República que participaram da assinatura do combinação de leniência firmado pela empresa J&F Investimentos, dos empresários Joesley e Wesley Batista e controladora da JBS, entre outras.
Combate à depravação
Em sua petição, o parlamentar sustenta que, desde ao menos 2014, o MPF atuou em parceria com a Transparência Internacional, desenvolvendo ações “genericamente apontadas uma vez que de combate à depravação”. Com base em notícias divulgadas pela prelo, Falcão lembra que, em março de 2018, teve início uma negociação para que segmento do valor das multas que a empresa pagaria fosse repassada à ONG.
“[Falcão] entende que, sob o pretexto de desenvolver ações de combate à depravação, o Ministério Público Federalista, de forma proibido, concedeu à Transparência Internacional poderes de gestão e realização sobre recursos públicos, sem que se submetessem aos órgãos de fiscalização e controle do Estado brasílio de modo que existem circunstâncias a ser esclarecidas sobre a atuação da entidade e de membros do MPF ”, explicou o ministro Humberto Martins na decisão que Toffoli cita para justificar sua própria sentença.
Toffoli também menciona sintoma do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Em 2019, Moraes suspendeu um combinação que a força-tarefa da Operação Lava Jato firmou com o governo dos Estados Unidos. Ao estabelecer o valor que a Petrobras pagaria para ressarcir os prejuízos causados a investidores norte-americanos pelos casos de depravação investigados no contexto da Lava Jato, o combinação previa que segmento da multa – um pouco entre R$ 2,3 bilhões e R$ 2,5 bi – seria administrada por uma instauração de interesse social, a ser criada por procuradores da República que compunham a força-tarefa.
“O ministro Alexandre de Moraes, ao deferir o pedido de tutela provisória […] registrou ser “duvidosa a validade de previsão da geração e constituição de instauração privada para gerir recursos derivados de pagamento de multa às autoridades brasileiras, dos quais valor, ao ingressar nos cofres públicos da União, tornar-se-ia, também, público, e cuja destinação a uma específica ação governamental dependerá de lei orçamentária editada pelo Congresso Vernáculo, em conformidade com os princípios da unidade e universalidade orçamentárias”, comentou Toffoli, destacando que, segundo cláusulas do combinação suspenso por Alexandre de Moraes, uma parcela dos recursos seria destinada à Transparência Internacional “uma instituição privada, ainda mais estrangeiro e com sede em Berlim”.
Pagamento suspenso
Na última quinta-feira (1º), Toffoli suspendeu o pagamento de murado de R$ 8,5 milhões em multas que a empreiteira Novonor (idoso Grupo Odebrecht) se comprometeu a remunerar ao assinar combinação de leniência com o Ministério Público Federalista (MPF), em 2016, também no contexto da Operação Lava Jato. Antes disso, o ministro já tinha suspenso o pagamento de uma multa no valor de R$ 10,3 bilhões que faz segmento do combinação de leniência da J&F.
A Novonor e a J&F pediram chegada integral aos documentos da Operação Spoofing, deflagrada em 2019 para investigar a troca de mensagens que, supostamente, revela que o ex-juiz federalista Sergio Moro e integrantes do MPF combinavam procedimentos investigatórios no contexto da Lava Jato.
Em seu pedido, a Novonor argumentou que “uma simples estudo parcial do material obtido a partir da Spoofing” permite corroborar as suspeitas de que foram praticados excessos em relação a ela pelos membros da Força Tarefa da Operação Lava Jato, os quais visaram a coagi-la para a celebração de um combinação.
Já Toffoli, ao atender o pedido da J&F, afirmou que, a seu ver, “há, [no processo,] no mínimo, incerteza razoável sobre o requisito da voluntariedade da requerente ao firmar o combinação de leniência com o Ministério Público Federalista que lhe impôs obrigações patrimoniais, o que justifica, por ora, a paralisação dos pagamentos, tal uma vez que requerido pela autora”.
A Transparência Internacional se manifestou por meio das redes sociais. Em nota divulgada no X (idoso Twitter), a ONG afirma serem falsas as informações de que receberia ou administraria valores recuperados por meio de acordos de leniência
“A Transparência Internacional não recebeu ou receberia, direta ou indiretamente, qualquer recurso do combinação de leniência do grupo J&F ou de qualquer combinação de leniência no Brasil. A organização tampouco teria – e não pleiteou – qualquer papel de gestão de tais recursos. Através de acordos formais e públicos, que vedavam explicitamente o repasse de recursos à organização, a Transparência Internacional – Brasil produziu e apresentou estudo técnico com princípios, diretrizes e melhores práticas de transparência e governança para a destinação de “recursos compensatórios” (multas e recuperação de ativos) em casos de depravação”, sustenta a organização, destacando que, entre outras coisas, recomendou que o próprio Ministério Público não se envolvesse com a gestão dos recursos.
“O estudo e as recomendações não tiveram e não têm qualquer caráter vinculante ou decisório. O Memorando de Entendimento [2] que estabeleceu esta cooperação expirou em dezembro de 2019 e não foi renovado, encerrando qualquer participação da Transparência Internacional. Tais alegações já foram desmentidas diversas vezes pela própria Transparência Internacional e por autoridades brasileiras, inclusive pelo Ministério Público Federalista. Apesar disso, estas fake news vêm sendo utilizadas há quase cinco anos em graves e crescentes campanhas de maledicência e assédio à organização”, acrescentou a entidade, reafirmando ser fim de “reações hostis ao trabalho anticorrupção”. “Ataques às vozes críticas na sociedade, que denunciam a depravação e a impunidade de poderosos, não podem ser naturalizados. Seguiremos cumprindo nosso papel na promoção da transparência e da integridade no Brasil e no mundo.”
Material ampliada às 17h18 para acréscimo de posicionamento da ONG Transparência Internacional.