Trabalhos de psicólogos são premiados pela luta antimanicomial no df 

Trabalhos de psicólogos são premiados pela luta antimanicomial no DF 

Brasil

No dia Pátrio da Luta Antimanicomial, comemorado neste domingo (18), Marcus Danyel Martins, de 22 anos, é um dos vendedores de artesanatos em bordado, macramê e crochê  produzidos por pacientes dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do Província Federalista (DF), porquê o próprio Danyel.


Brasília (DF), 17/05/2025 - Marcus Martins participa da mostra de cinema antimanicomial, no Cine Brasília. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Brasília (DF), 17/05/2025 - Marcus Martins participa da mostra de cinema antimanicomial, no Cine Brasília. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Marcus Danyel  é aluno do projeto de teatro e cinema da Companhia Atravessa a Porta, no Paranoá Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Filial Brasil

A feira montada no Cine Brasília, neste termo de semana, tem a finalidade de gerar renda para estribar ações porquê o projeto de teatro e cinema da Companhia Atravessa a Porta, executado dentro do Caps do Paranoá, região administrativa a 20 quilômetros do meio de Brasília, onde Marcus Danyel é aluno.

Antes de ser presenciado no Caps, o jovem passou por diversas internações em unidade psiquiátricas para tratar a depressão profunda que o afeta há anos. Ele avalia o impacto das duas experiências em seu bem-estar. 

“No hospital, é muito medicamento e pouca gente conversando com você. Já no Caps, o pessoal é mais atencioso. Dá até para fazer algumas amizades”, conta. 

Para Danyel, a experiência na arte de interpretar representa a porta de saída de manicômios e o ajuda a ter paciência com ele mesmo.

Arte e terapia

A iniciativa Atravessa a Porta, desenvolvida há 13 anos, foi premiada neste sábado (17), em primeiro lugar na Mostra Distrital de Práticas Profissionais que, na edição de 2025, tem o título: “A psicologia na luta pelo desvelo em liberdade: ontem, hoje, sempre!”.

A responsável pelo projeto fundamentado na cultura antimanicomial, a psicóloga Amanda Gayatri, conta que a teoria surgiu de uma pesquisa de mestrado até se transformar em uma companhia cênica e de arte audiovisual. Amanda ressalta as experiências de desvelo e desenvolvimento das pessoas com transtornos mentais. 

“Nessa experiência, percebo que ela é uma ponte entre o que é mais subjetivo, as questões de cada um ali. Mas, quando a gente coloca em movimento para serem inspirações para a geração, também de uma ponte para o mais social”, diz a psicóloga. 


Brasília (DF), 17/05/2025 - Amanda Gayatri participa da mostra de cinema antimanicomial, no Cine Brasília. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Brasília (DF), 17/05/2025 - Amanda Gayatri participa da mostra de cinema antimanicomial, no Cine Brasília. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A psicóloga Amanda Gayatri é responsável pelo projeto fundamentado na cultura antimanicomial Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Filial Brasil

A profissional explica que as encenações não são somente sobre histórias pessoais. A ficção é segmento também.

“O próprio ato de gerar também é integrador: uma ponte para o mundo. E não só isso. Essas pessoas têm muito a contribuir com a sua sensibilidade. É o que a gente entende porquê uma forma de heterogeneidade cultural.”

O grupo Atravessa a Porta é também produtor do longa-metragem independente Capsianos, apresentado na tarde deste domingo no Cine Brasília O filme narra as histórias de pessoas com transtornos mentais que frequentam um Caps no DF e conta com encenação de pacientes da vida real.

Premiação

A lanço distrital da premiação das práticas exitosas em psicologia ocorre dentro da programação da Mostra de Cinema Antimanicomial Raquel França, no Cine Brasília.

O reconhecimento tem a produção do Meio de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas do Recomendação Regional de Psicologia do Província Federalista.

Na cerimônia de premiação, além dos psicólogos, estiveram presentes representantes da rede de base de usuários dos serviços de atenção à saúde mental, porquê familiares e integrantes de equipes multiprofissionais (trabalhadores da assistência social, terapeutas ocupacionais, médicos e enfermeiros).

A presidente do colegiado, Thessa Guimarães, comenta a relevância da premiação com a temática da luta antimanicomial. “São trabalhos de desvelo da saúde mental e do sofrimento psíquico em liberdade, com saudação à distinção humana, com garantia de direitos ao lazer, à cultura, ao transporte, na lógica da atenção psicossocial.”

“Ao contrário do que se pode pensar, a loucura também está associada à produção, à originalidade, à espontaneidade e aos serviços prestados para a sociedade”, destacou a presidente do Recomendação Regional de Psicologia do Província Federalista, Thessa Guimarães.

O segundo lugar na premiação foi o projeto “Maluco volátil: voos entre a saúde mental e cultura popular”, do psicólogo Filipe Willadino Braga. Seguido pelo terceiro premiado: “A quem pertence a cidade?”, de Manuela Silvestre Fernandes Alencar; Laura de Moraes; Raissa Heusi, com o relato de experiência da oficina de Ocupação Urbana de um Meio de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (Caps AD) do tipo III.

Fora das telas


Brasília (DF), 17/05/2025 - Rogério participa da mostra de cinema antimanicomial, no Cine Brasília. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
Brasília (DF), 17/05/2025 - Rogério participa da mostra de cinema antimanicomial, no Cine Brasília. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

No Caps, o paciente Rogério tem pretérito por um processo de ressocialização Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Filial Brasil

Quem também percebe positivamente o tratamento recebido em um Meio de Atenção Psicossocial (Caps) é o paciente Rogério, que prefere não falar o sobrenome e não lembra a idade que tem. Protegido por uma máscara de linhas que ele próprio entrelaça, Rogério justifica a amnésia.  

“Eu esqueço de lembrar e me lembro de olvidar. Esqueço das coisas ruins e me lembro das coisas boas. Só não sou maluco.”

Rogério relata que nunca foi internado porque não era pego ao fugir em momentos de crise. “Era tipo uma faca ali furando o meu pensamento. Eu saía correndo gritando feito doido. Tinha um monstro indo detrás de mim, querendo me trancafiar. Eu só pensava na trato.”

No Caps, Rogério tem pretérito por um processo de ressocialização. “Eu pensava que ninguém ia me ajudar. Mas eu vi que as coisas são diferentes lá. É um querendo ajudar o outro. Antes não tinha convívio com ninguém. Tipo um varão das cavernas. Mas, estou aprendendo”, esclarece.

Políticas públicas

A assistência pública em saúde mental no Brasil é prestada na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS), em cidades das cinco regiões do país, para atender pessoas em sofrimento psíquico e, também, com necessidades geradas pelo uso prejudicial de álcool e outras drogas.

A rede conta, entre outros, com os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) existentes onde o usuário recebe gratuitamente a assistência multiprofissional e o desvelo terapêutico, adequado à situação de cada pessoa.



Fonte EBC

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