Tupinambás E Artistas Circenses Fazem Ritual De Troca De Saberes

Tupinambás e artistas circenses fazem ritual de troca de saberes no RJ

Brasil

Indígenas tupinambás e artistas circenses. Aparentemente, pouco em geral. Um encontro na Quinta da Boa Vista, parque municipal do Rio de Janeiro, mostrou que há muitas convergências. A arte, o lúdrico, o lugar da ancestralidade e da família, o peso da cultura vocal são alguns exemplos. Para aprofundar relações e interseções, eles fizeram nessa quarta-feira (11) apresentações recíprocas, um tipo de ritual para compartilhar saberes.

O circo se tornou, durante alguns dias, a morada de centenas de indígenas. Uma frota com tupinambás veio de Olivença, litoral medial da Bahia, para o Rio de Janeiro na semana passada, para comemorar o retorno do véu sagrado ao Brasil. E encontraram nos periferia das lonas coloridas um espaço para dormir, consumir e cuidar da higiene pessoal. O evento foi um reconhecimento e uma despedida. Nesta quinta-feira (12), depois da cerimônia final de recepção do véu no Museu Vernáculo, os indígenas vão retornar para a terreno natal.

“Nossos ascendentes eram levados daqui para a Europa e eram colocados em praças públicas. Eu não sei se em lugares semelhantes a circos também, mas para serem exibidos porquê objetos. E hoje, nós estamos no circo, mas em irmandade. Porque entendemos que os artistas transcendem. E nós somos povos que transcendemos também. E vocês nos receberam cá, abriram as portas e os corações”, agradeceu Yakuy, uma das lideranças tupinambás, durante o evento.

Na primeira apresentação da noite, trapezistas saltaram e giraram no ar, uma moça fez malabarismo com bambolês e um grupo feminino subiu e deslizou por lenços no picadeiro. A plateia alternou entre aplausos, expressões de espanto e o sacudir de maracás.

Rio de Janeiro (RJ) 11/09/2024 – Artistas circenses do Unicirco fazem apresentação no picadeiro para indígenas do povo tupinambá que vieram receber o Manto Tupinambá no Museu Nacional. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ) 11/09/2024 – Artistas circenses do Unicirco fazem apresentação no picadeiro para indígenas do povo tupinambá que vieram receber o Manto Tupinambá no Museu Nacional. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Rio de Janeiro – Artistas circenses do Unicirco fazem apresentação no picadeiro para indígenas do povo tupinambá no Museu Vernáculo – Foto Fernando Frazão/Dependência Brasil

“Nós ficamos muito felizes com a apresentação, muito maravilhoso. A gente tem dificuldade na nossa região de ir ao circo. É muito longe para transpor da nossa povoado e ir até Ilhéus. A gente não vê e quase não leva nossas crianças. Às vezes, não temos verba para remunerar. Ficamos felizes com esse momento”, disse a líder tupinambá, a cacica Jamopoty.

Na segunda apresentação, dezenas de tupinambás subiram no picadeiro para repercutir danças e cânticos religiosos, convidando os demais a participarem do ritual. Luís Frota, uma das lideranças do projeto social Unicirco, se emocionou com o que viu.

Para ele, além da interação afetiva e artística, houve muito tirocínio durante o período de guarida aos indígenas.

Rio de Janeiro (RJ) 11/09/2024 – Cacica Jamopoty Tupinambá, que veio receber o Manto Tupinambá no Museu Nacional, assiste apresentação de artistas circenses do Unicirco e os convida para ritual no picadeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ) 11/09/2024 – Cacica Jamopoty Tupinambá, que veio receber o Manto Tupinambá no Museu Nacional, assiste apresentação de artistas circenses do Unicirco e os convida para ritual no picadeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Rio de Janeiro – Cacica Jamopoty Tupinambá e representantes do seu povo assistem apresentação de artistas circenses do Unicirco – Foto Fernando Frazão/Dependência Brasil

“Esse diálogo, que usa a arte e a ensino porquê plataforma, é muito potente e muito necessário no momento que a humanidade está vivendo”, disse Luís.

“A Baía de Guanabara era dominada pelos tupinambás antes da chegada dos ibéricos. Se os ibéricos não tivessem naquele momento, o Brasil poderia ser uma grande região tupinambá. Lúdica, brincalhona, que valoriza muito a cultura, a moçoilo que existe em cada um, guerreira, afirmativa, liderada por grandes caciques”.

Celebração solene

A cerimônia desta quinta-feira (12) vai comemorar, em frente ao Museu Vernáculo, o retorno do Véu Tupinambá. O evento vai ter a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi organizado pelos ministérios dos Povos Indígenas, da Ensino e da Cultura, com a colaboração do Ministério das Relações Exteriores e participação de lideranças do povo Tupinambá.

Rio de Janeiro (RJ) 11/09/2024 – Indígenas do povo tupinambá que vieram receber o Manto Tupinambá no Museu Nacional assistem apresentação de artistas circenses do Unicirco e os convidam para ritual no picadeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ) 11/09/2024 – Indígenas do povo tupinambá que vieram receber o Manto Tupinambá no Museu Nacional assistem apresentação de artistas circenses do Unicirco e os convidam para ritual no picadeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Rio de Janeiro – Indígenas do povo tupinambá que vieram receber o Véu Tupinambá no Museu Vernáculo assistem apresentação de artistas circenses do Unicirco – Foto Fernando Frazão/Dependência Brasil

O véu retornou do Museu Vernáculo da Dinamarca no dia 11 de julho. E está instalado na Livraria Medial do Museu Vernáculo. A restituição teve articulações entre instituições de Brasil e Dinamarca, porquê o Ministério das Relações Exteriores, por meio da Embaixada do Brasil na Dinamarca, museus dos dois países e representantes tupinambás.

Véu tupinambá

O véu tupinambá tem 1,80m de profundeza e milhares de penas vermelhas de pássaros guará. Estava guardado ao lado de outros quatro mantos no Museu Vernáculo da Dinamarca. Chegou a Copenhague em 1689, mas foi provavelmente produzido quase um século antes.

Artefatos tupis foram levados à Europa desde a primeira viagem portuguesa ao Brasil e o processo continuou ao longo das décadas seguintes, porquê evidências da “invenção” do novo território e porquê itens valiosos para coleções europeias.

Manto Tupinambá. Foto: Museu Nacional da Dinamarca
Manto Tupinambá. Foto: Museu Nacional da Dinamarca

Véu Tupinambá. Divulgação/Museu Vernáculo da Dinamarca

Além do valor estético e histórico para o Brasil, a doação da peça representa o resgate de uma memória transcendental para o povo tupinambá, já que eles consideram o véu um material vivo, capaz de conectá-los diretamente com os ancestrais e as práticas culturais do pretérito.

Acredita-se que o povo tupinambá não confeccione esse véu há alguns séculos, já que ele só aparece nas imagens dos cronistas do século 16.

Instituto Unicirco

O Instituto Unicirco foi fundado em 1995 pelo ator Marcos Frota, pensado porquê um lugar para desenvolver as artes circenses e oferecer oportunidades para pessoas em situação de vulnerabilidade social. Por isso, se considera também um sistema franco de ensino para crianças, adolescentes e jovens.

A organização defende o circo porquê instrumento de promoção de cidadania. Nesse sentido, oferece projetos de capacitação, profissionalização, pesquisa e produção de espetáculos. A sede do Unicirco fica no Parque Municipal da Quinta da Boa Vista desde 2010.

Fonte EBC

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