Turismo De Base Comunitária Transforma Terras Indígenas

Turismo de base comunitária transforma terras indígenas

Brasil

Diante da emergência climática, o debate sobre formas de promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia ganha força nos diversos setores econômicos, dentre os quais o turismo. Nas terras indígenas,  um padrão de gestão tem se mostrado uma selecção para os povos que querem receber visitantes e, ao mesmo tempo, manter a floresta em pé: o turismo de base comunitária.


Brasília 07/12-2024 Turismo de base Indígina.  ⁠cacique Tekavainy Shanenawa, da Aldeia Shanenawa, em Feijó, no Acre 
Foto Alyton Sotero/ Instituto Samaúma.
Brasília 07/12-2024 Turismo de base Indígina.  ⁠cacique Tekavainy Shanenawa, da Aldeia Shanenawa, em Feijó, no Acre 
Foto Alyton Sotero/ Instituto Samaúma.

O cacique Tekavainy Shanenawa, diz que o turismo chegou a sua lugarejo há três anos – Alyton Sotero/Instituto Samaúma

No município de Feijó, no Acre, o povo da Povoação Shanenawa vive a experiência de receber visitantes interessados na mergulho junto aos povos originários e no estágio sobre a convívio harmônica com a floresta. “No pretérito, a gente já vinha fazendo a nossa solenidade, quando os nossos parentes vinham de outras regiões, outras etnias vinham, e nós tínhamos a nossa sarau cultural, mas a gente ainda não tinha essa experiência com o turismo. O turismo chegou mesmo na lugarejo há três anos”, relembra o cacique Tekavainy Shanenawa.

Segundo o líder indígena, além da solenidade, visitantes brasileiros e estrangeiros começaram a chegar à Terreno Indígena (TI) Katukina Kaxinawa em procura do conhecimento ascendente da medicina da floresta, com o uso da ayahuasca, que permaneceu guardado por 30 anos durante um período em que a prática era proibida. “Os antigos guardaram a sabedoria da medicina durante todo esse tempo. A gente pôde voltar a devotar quando eu já estava adulto e com filhos, a praticar o que meu avô me ensinou”, conta.

Antes da chegada do turismo, os Shanenawa tinham porquê base econômica a lavra de subsistência, cultivando principalmente banana e mandioca, a caça e a pesca e a produção de artesanato.Antes da chegada do turismo, os Shanenawa tinham porquê base econômica a lavra de subsistência, cultivando principalmente banana e mandioca, a caça e a pesca e a produção de artesanato.ta o feijoeiro, o milho e a mandioca”.

De pacto com o cacique, o transacção desses produtos passou a financiar a compra de proteína bicho e de outros bens necessários adquiridos na cidade. A chegada do turismo foi bem-aceita pelos integrantes da lugarejo, que perceberam a possibilidade de associar valor à produção e também de fortalecer a cultura e os ensinamentos para as próximas gerações.

“Quando consagramos a medicina, ela nos fortalece cada vez mais, principalmente a juventude, que está nesse estágio. Quando o visitante vem, a gente tem o prazer de mostrar porquê vive e porquê é consagrada a medicina. E, cada vez que nós consagramos, mais vamos nos aperfeiçoando”, diz Maya Shanenawa, filha mais velha do cacique.

Tradição

 


Brasília 07/12-2024 Turismo de base Indígina. Maya Shanenawa, vice cacique. Foto Alyton Sotero/ Instituto Samaúma.
Brasília 07/12-2024 Turismo de base Indígina. Maya Shanenawa, vice cacique. Foto Alyton Sotero/ Instituto Samaúma.

Maya Shanenawa, vice-cacique da Povoação Shanenawa, fala sobre estágio dos turistas – Alyton Sotero/ Instituto Samaúma

No povo Shanenawa, quem nasce primeiro dá ininterrupção ao cacicado, independentemente de ser fruto varão ou mulher. A e a vocação também prevalece. Além de Maya, que aos 29 anos já é reconhecida porquê vice cacique, a segunda filha, Maspã Shanenawa teve a vocação reconhecida pela comunidade e já comanda o ritual de glorificação da medicina.

Para os Shanenawa, toda essa tradição se fortalece com o turismo: os jovens escolhem permanecer na floresta e dar ininterrupção à cultura, e os indígenas conduzem as próprias narrativas.

“Eu falo que o povo sempre via no livro, que contava a história mal contada. E hoje eu tenho essa oportunidade de cada pessoa que vem na vivência do turismo cá na minha lugarejo, tem oportunidade de levar essa história contada mesmo pela a gente, a história que eu ouvi do meu avô”, diz o cacique Teka.

Parcerias

Participação ativa da lugarejo e secretaria justa dos benefícios são princípios básicos para que o turismo de base comunitária aconteça nas terras indígenas, mas nem sempre ocorre dessa forma. Um diagnóstico traçado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Transacção e Serviços mostrou que, em muitos casos, a parceria ofertada aos povos indígenas desfavorece a comunidade.

O Povo Shanenawa está cauteloso a essa questão e procura parcerias que fortaleçam o turismo na TI. Uma das empresas que atuam diretamente com os indígenas escolheu representantes da própria comunidade.

Tuwe Shanenawa, um dos que trabalham diretamente com os viajantes, diz que sente orgulho em mostrar a floresta e conduzir quem chega de fora pelos saberes ancestrais. “Eu sempre falo que ninguém chega cá por possibilidade e, em privativo, eu cito os viajantes. De alguma forma, é um chamado para a sua vida. Ou da medicina, ou só para o dia a dia mesmo da convívio. Mas ninguém chega cá por possibilidade, não. Evidente que vem com esse objetivo de turismo, de saber, mas vai muito além do que às vezes as pessoas estão esperando, por pretexto da conexão místico.”

Além de Tuwe, todos os que trabalham com o turismo na lugarejo se esforçam para melhorar a experiência de quem chega, seja na sustento proveniente colhida e cuidada ali na floresta, seja no passeio para saber as belezas da Amazônia e a majestosa samaúma, árvore que pode chegar até a 70 metros de profundidade e a 120 anos de vida, ou nos banhos de ervas e greda que preparam o espírito para a glorificação da medicina.

Desafios


Brasília 07/12-2024 Turismo de base Indígina.  Pedro Gayotto, da empresa de turismo social Vivalá 
Foto Alyton Sotero/ Instituto Samaúma.
Brasília 07/12-2024 Turismo de base Indígina.  Pedro Gayotto, da empresa de turismo social Vivalá 
Foto Alyton Sotero/ Instituto Samaúma.

Pedro Gayotto, cofundador da empresa de turismo social Vivalá – Alyton Sotero/Instituto Samaúma

Na avaliação de Pedro Gayotto, cofundador da empresa de turismo social que desenvolve as atividades com o povo Shanenawa, ainda há uma demanda reprimida de turistas que buscam o etnoturismo, mas não sabem porquê chegar até ele.

“A grande maioria dos viajantes que fazem roteiros em terras indígenas com a gente, sempre chega com: ‘Eu estava procurando há muito tempo fazer uma viagem indígena e não sabia porquê, eu não sabia por onde inaugurar, e achei vocês por indicação de alguém, achei vocês no Google’, enfim. Logo assim, isso já demonstra que existe a procura e [que] as pessoas não estão sabendo porquê chegar lá”, destaca Pedro Gayotto.

Além do repto de levar os viajantes a seus destinos, há muitos outros obstáculos a serem vencidos. As realidades de cada terreno indígena são distintas, porém, existem questões coletivas que alcançam a maioria das aldeias. Um exemplo é o próprio resíduo gerado pela atividade turística. “A gente entende que queimar o lixo não é o melhor caminho e também não quer levar para outro lugar. Logo, precisamos de ajuda para encontrar uma solução”, alerta Tuwe.

Força-tarefa


Brasília 07/12-2024 Turismo de base Indígina.  ⁠Carolina Fávero, do Ministério do Turismo. Foto Alyton Sotero/ Instituto Samaúma.
Brasília 07/12-2024 Turismo de base Indígina.  ⁠Carolina Fávero, do Ministério do Turismo. Foto Alyton Sotero/ Instituto Samaúma.

Carolina Fávero, do Ministério do Turismo, aponta urgência de cursos e capacitações – Alyton Sotero/Instituto Samaúma.

A questão foi um dos desafios apresentados durante o lançamento do diagnóstico encomendado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Transacção e Serviços e desenvolvido pelo Instituto Samauma, que ocorreu na Povoação Shanenawa sob os olhares de representantes dos ministérios da Cultura e do Turismo, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Pátrio (Iphan) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Durante a força-tarefa de quase cinco dias, entre os dias 2 e 6 de dezembro, os Shanenawa puderam apresentar suas demandas e dar encaminhamento junto às instituições de processos para regularização da atividade de turismo de base comunitária.

Orientado pela Instrução Normativa 3/2015, da Instauração Pátrio dos Povos Indígenas, o turismo em TIs ainda é pouco documentado pelos órgãos federais. Unicamente 39 roteiros são regularizados em todo o território pátrio e, desse totalidade, 14 com foco em pesca esportiva.

De pacto com a condenadora universal de Turismo Sustentável e Responsável no Ministério do Turismo, Carolina Fávero, essa deficiência de informação já foi identificada pelo órgão, que atualmente trabalha em um mapeamento dessas iniciativas. Com o trabalho ainda em curso, mas de 150 aldeias com atividades turísticas já se cadastraram, destaca Carolina.

“A gente criou um projeto em parceria com a Universidade Federalista do Rio Grande do Setentrião, que é o Brasil Turismo Responsável, focado nas comunidades indígenas. E aí vai trabalhar exatamente na capacitação em turismo responsável, em turismo de base comunitária, concordar nas comunidades o desenvolvimento do Projecto de Visitação e, aliás, fazer cursos, capacitações, produzir materiais e o mapeamento, que já está em curso”, conclui.

*A repórter viajou a invitação do Instituto Samaúma e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Transacção e Serviços

Fonte EBC

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *