U2: bono disseca sua trajetória em histórias de surrender

U2: Bono disseca sua trajetória em Histórias de Surrender – 01/06/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Não é unicamente o vocalista do U2 que sobe ao palco da turnê “Stories of Surrender: An Evening of Words, Music and Some Mischief…”. Bono se apresenta ao seu público, no show recém-transformado em filme, porquê músico, simples, mas também porquê um ativista, um irlandês patriótico, um religioso, um pai, um rebento e um fã da cerveja Guinness.

Foi querendo se despir da pose de estrela do rock que o irlandês embarcou na turnê em paralelo ao lançamento do livro “Surrender: 40 Músicas, Uma História” e das gravações do filme “Bono: Histórias de Surrender”, que estreia agora no Apple TV+.

Dirigido por Andrew Dominik, da cinebiografia de Marilyn Monroe “Blonde”, o título é uma mistura de filme-concerto, stand-up e documentário. Por uma hora e meia, Bono conversa com a câmera e canta os hits óbvios do U2, porquê “I Still Haven’t Found What I’m Looking For”, “Pride” e “With or Without You”.

“Com esse filme, eu quero que as pessoas ouçam essas músicas de forma dissemelhante, que entendam o significado por trás delas. Essas canções se transformaram ao longo dos anos. Simples que as escolhemos porque elas são conhecidas, mas mais importante, elas contam uma história”, diz Bono a um grupo de jornalistas num quarto de hotel de Cannes.

O músico passou a véspera de seu natalício de 65 anos no festival de cinema mais importante do mundo, onde “Histórias de Surrender” fez sua estreia mundial em sessão próprio. Com jaqueta estilosa e os característicos óculos redondos, de lentes coloridas, Bono muito que tentou se ater à música, mas invariavelmente abria parênteses para retomar as discussões políticas e humanitárias que propôs ao longo de toda a vida pública.

“A termo ‘surrender’ [rendição, em inglês], soa absurda num momento em que o mundo parece estar pronto para atear lume a si mesmo. Estamos mais perto de uma guerra mundial que em qualquer outro momento da minha vida, e cá estamos nós levantando uma bandeira branca no tapete vermelho de Cannes”, diz Bono, dias antes de levar militares ucranianos à première do filme no festival.

Ele sabe que a imagem parece ridícula diante da sisudez dos problemas na Ucrânia e no resto do mundo, mas diz que com “Sunday Bloody Sunday” também foi assim –um singelo gesto pela silêncio que se tornou hino da não violência durante os conflitos que opuseram protestantes, pró-governo britânico, e católicos na Irlanda do Setentrião, entre os anos 1960 e 1990.

Bono ainda cita John Lennon e Martin Luther King, figuras que “sussurram” em seu ouvido desde o início da curso, porquê ídolos e figuras que o inspiraram na autobiografia de agora, tanto a literária, quanto a cinematográfica.

“Todas as grandes fés, o cristianismo, o judaísmo, o islamismo, se baseiam na teoria de rendição. Precisamos superar a violência, e essa é a opinião que eu defendo desde os meus 20 e poucos anos”, afirma ele, que é católico, antes de criticar Elon Musk e Donald Trump pelos cortes a programas de ajuda humanitária que presidentes americanos, democratas e republicanos, mantiveram de pé por anos.

Cita, em próprio, o programa de combate à Aids no continente africano, que ele ajudou a viabilizar durante o governo de George W. Bush, nos anos 2000. “Agora vem um imperador para trinchar esse base, sem aviso prévio”, disse sobre o termo do financiamento por segmento do novo Departamento de Eficiência Governamental, chefiado por Musk.

“Um africano branco e rico é o responsável pelo veste de os africanos pretos e pobres não estarem mais recebendo seus remédios retrovirais. Eu digo que é um tipo de apartheid retornando”, diz.

“Histórias de Surrender”, porém, não é unicamente um manifesto político. O filme abre enquadrando Bono num solilóquio sincero, em que o músico se despe das vaidades e da pose de estrela do rock para se mostrar alguém tão vulnerável quanto seus fãs. Nele, lembra de quando ficou entre a vida e a morte devido a um derrame na aorta, há quase dez anos. Tudo é relatado porquê numa conversa entre amigos no bar.

Sem uma ordem muito lógica, Bono vai dissecando passagens da autobiografia “Surrender: 40 Músicas, Uma História”, dando mais atenção à puerícia e à figura dos pais do que à própria trajetória de U2. Mas simples que os parceiros The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. estão lá, embora não fisicamente.

Três cadeiras iluminadas por um holofote fazem as vezes dos colegas de filarmónica, quando convém a Bono convocá-los. Já uma poltrona, ao lado de uma mesa sobre a qual repousa um “pint” da cerveja Guinness, simboliza o pai, Bob Hewson. Experimentado de música erudita e de ópera, sua influência sobre o U2 também ganha próprio atenção.

Para Bono, falar de seu pai, e também da mãe, morta quando ele ainda era gaiato, é imprescindível para entender seu caminho. Em “Histórias de Surrender”, ele sugere que a escolha pela curso músico surgiu porquê uma provocação, uma tentativa de provar alguma coisa aos genitores.

Numa das cenas mais tocantes do filme, ele se despede de Bob Hewson, recriando seu leito de morte num hospital, há 24 anos. Mas o pai é a estrela também de uma das cenas mais engraçadas, quando Bono relembra o incômodo do ultranacionalista irlandês em saber a princesa Diana, nos anos 1990. Acabou se apaixonando pela personalidade dela.

São passagens extremamente íntimas que Bono decidiu compartilhar com seu público pela primeira vez, no que labareda de um repto pessoal e também de uma tentativa de romper com a imagem caricata à qual, invariavelmente, celebridades são coladas ao longo da vida. Principalmente para uma de seu tamanho.

O apelo de “Histórias de Surrender” no Festival de Cannes mostra que Bono, e o U2, conseguiram manter sua popularidade e relevância mesmo depois de tantos anos. Músico e filarmónica se consolidaram no mainstream, apesar das transformações e trocas geracionais que testemunharam desde 1976.

Não à toa, são ventilados porquê atração músico nas areias de Copacabana no ano que vem, porquê segmento de uma agenda do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, de levar milhões de pessoas à cidade para shows de grandes estrelas da música mundial.

No filme, Bono reflete sobre leste pertencimento à cena mainstream. Ele e os colegas rejeitavam o rótulo –queriam enfrentar o sistema, e não serem assimilados por ele. Com a maturidade de hoje, a história é outra, e o irlandês já não vê problema na popularidade.

“É curioso, porque muitas das nossas músicas têm construções incomuns, mas deu claro. Agora a noção de mainstream é outra. Antes tínhamos um rio, enquanto hoje há uma opulência de ondas”, diz, em referência ao significado de “stream”, um fluxo de chuva, em inglês.

“Eu fico emocionado quando as pessoas se apegam a uma cantiga nossa, mas no contexto atual é improvável que uma música do U2 toque na rádio porquê antigamente”, continua. “Mas a instabilidade… ah, ela é o melhor combustível para um artista.”

Folha

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