Ucrânia: Ópera Resiste Aos Alarmes Das Ofensivas Russas 15/04/2024

Ucrânia: Ópera resiste aos alarmes das ofensivas russas – 15/04/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

No palco, Dom Quixote mirava orgulhoso um parelha enamorado rodopiar em passos de dança. Já haviam se pretérito 25 minutos do início do balé, e o cavaleiro da triste figura ainda nem saíra em sua proeza, quando o rebate soou no ar anunciando o ataque desatento.

Não fazia segmento da peça. A performance acontecia na Ópera de Odessa, no sul da Ucrânia, em meio à guerra que o país trava com a Rússia. Se a cidade fica longe da risco de frente, os alertas de bombardeio são diários.

Isso não quer expor que todos os dias há de traje um ataque contra Odessa, um dos polos culturais da terreno de Volodimir Zelenski —o último aconteceu na quarta-feira, sem vítimas. Mas os alertas servem de prevenção, pondo a vida sob tensão jacente —a qualquer prenúncio, a orientação é se esconder num abrigo.

As luzes se acenderam de supetão, os dançarinos se interromperam. Em poucos segundos, as cortinas desceram e lanterninhas —quase todas mulheres mais velhas— começaram a encaminhar a plateia de tapume de 300 pessoas para o subsolo do prédio.

Segundo os funcionários, tapume de metade das performances sofrem a mesma interrupção que a reportagem testemunhou no sábado à tarde.

Quando o período de rebate dura menos de uma hora, caso daquele dia, a apresentação continua normalmente depois. Quando é mais demorado, o público pode usar o ingresso para comparecer à sessão de outro dia.

Ao sinal de emergência, a plateia é conduzida a uma ingresso pela lateral do palco e desce quatro lances de escada, até chegar a uma rede de corredores subterrâneos com pé recta supino, mas temperaturas baixas, que foi adaptada do velho sistema de ventilação do lugar. Ali há algumas dezenas de cadeiras, galões de chuva e um Wi-Fi capenga.

O abrigo comporta até 2.000 pessoas, segundo a organização do lugar, mais que a capacidade de 1.500 assentos do teatro. Isso porque deve incorporar também a equipe de bastidores, os funcionários da bilheteria e, outrossim, pode ser usado por transeuntes que estejam passando por perto na hora do susto.

Ali, enfim, é uma região turística. O Teatro Vernáculo de Ópera e Balé de Odessa, decorado em estilo rococó e enfeitado com espelhos de bronze e lustres dourados, é um coração daquela metrópole. Em atividade desde 1810, a ópera só parou durante um incêndio no século 19, uma reforma de 11 anos na viradela deste século e poucos meses em 2022.

A suspensão depois a invasão russa foi muito breve. Menos de dois meses depois do primórdio da guerra, com a investida de Vladimir Putin sobre o flanco oriental da ex-nação soviética, o espaço resolveu retomar os seus ensaios.

A volta foi com uma montagem que incluía trechos de “Romeu e Julieta” e uma peça do compositor ucraniano Kostiantin Dankevich, em junho daquele mesmo ano. Antes, houve uma apresentação emocionada do hino pátrio em meio a uma terreiro ainda circundada por pilhas de sacos de areia.

“Não só as operações militares são importantes numa guerra. Corações e mentes também são”, diz Tamara Forsiuk, de 30 anos, diretora no teatro há cinco. “É mais fácil sobreviver a conflitos com a arte. Quando você vê um ator porquê um herói, pode se identificar com ele.”

Desde portanto é toda semana, infalível, ao menos de sexta a domingo. A escolha de repertório varia. Se há performances relacionadas a tempos de guerra e óperas clássicas de autores europeus, com privilégio confesso aos ucranianos, “às vezes as pessoas só querem ver uma comédia”, afirma Forsiuk.

Com a montagem de peças infantis, a ópera também virou protecção para famílias com crianças em procura de distração da tragédia, que chegou a vitimar um dançarino da trupe e um engenheiro de bastidor, ambos recrutados para lutar no front.

Um tema ainda mal resolvido é a apresentação de compositores russos, que ainda não aconteceu desde a reabertura. Se o teatro se orgulha nos seus panfletos de propaganda de ter recebido visitas de Tchaikóvski no século 19, há pouca propensão a apresentar um responsável tão ligado ao imaginário russo.

Outro ponto frágil é o poeta Alexandre Púchkin, pai da literatura russa que morou em Odessa, onde se ostenta um monumento e uma rua em sua homenagem. Houve um movimento para mudar o nome da via depois que a Rússia passou a ser vista porquê país de “ogros colonizadores”.

Esse xingamento, aliás, é geral entre ucranianos. A reportagem ouviu diversas vezes os militares russos serem definidos porquê “orcs” pelos locais —inclusive de um historiador que ilustrou com uma foto no celular dos vilões asquerosos da franquia “O Senhor dos Anéis”.

Guerras, enfim, também disputam imaginários, e o cenário mais espargido de Odessa se celebrizou justamente assim: a hoje chamada Escadaria de Potemkin se tornou mundialmente famosa porquê estrela do filme de Sergei Eisenstein, lançado em 1925.

Numa cena seminal, os soldados do czar assassinam dezenas de pessoas que descem correndo os 192 degraus da escada para festejar os revolucionários do Encouraçado Potemkin, num incidente que entrou para a história do cinema, com tintas carregadas de idealismo bolchevista.

A ofensiva das forças russas hoje tem alvos e motivos distintos —agora, avança sobre as fontes de força da Ucrânia, tentando minar fontes básicas de aproximação a chuva e eletricidade.

No caso da Ópera de Odessa, a investida não deve ter muito efeito, já que os músicos contam com um gerador de força próprio, que não deu defeito desde o início da guerra. E assim Dom Quixote pode continuar enfrentando seus moinhos de vento.

O jornalista viajou a invitação do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unificado

Folha

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