Uma Casa Em Coimbra Aberta Para O Mundo Que Fala

Uma casa em Coimbra aberta para o mundo que fala português – 10/12/2024 – Rede Social

Celebridades Cultura

As placas sinalizam Moradia da Escrita, ao indicar seguir na direção que leva à Sé Velha e à Universidade de Coimbra.

Localizado em um idoso casarão na Subida de Coimbra, o núcleo cultural, que também abriga uma residência artística, foi rebatizado em 2023 porquê Moradia da Cidadania da Língua.

É o início de um novo capítulo de uma moradia enxurrada de história. Uma das propriedades dos Viscondes do Espinhal, a vivenda pertenceu também ao bisavô do plumitivo e poeta João José Cochofel (1919-1982), que fez dali um ponto de encontro das letras e de resistência.

Uma ingressão lateral leva aos aposentos privativos destinados a artistas, escritores e jornalistas residentes, porquê foi o meu caso no período de 18 a 31 de novembro.

Desembarquei em Coimbra para fazer um projeto de pesquisa intitulado “Nos passos de Camões no Século 21”. Durante duas semanas, fiz um mergulho no universo camoniano a partir da cidade onde o poeta maior da língua portuguesa viveu os seus anos de formação.

Uma experiência que começa por desbravar a história do meu endereço na cidade: o número 8 da rua João Jacintho, nome do médico que adquiriu o imóvel onde o porvir plumitivo Cochofel viveu desde a meninice.

“Esta vivenda em que vivi segmento de uma puerícia triste, ensombrada por doenças, as deslumbrantes descobertas da juventude, as certezas e entusiasmos da juventude…”, diz um trecho de um texto poeta, que enfeita um dos corredores.

Fotos, livros, louças e até o piano da família dão um ar doméstico ao casarão típico português, datado do final do século 19, com sete janelões, varandas e um belo jardim e seus laranjais.

Imagens captadas pela DJ Do dedo durante minha residência artística na vivenda, em vídeo que ilustra esse texto.

Em meados do século 20, a bela propriedade foi o refúgio da primeira geração de escritores do Neorrealismo em Portugal.

“É um espaço que tem história de décadas na cultura de Coimbra e na literatura portuguesa”, explica João Réptil, poeta e funcionário do município.

Cochofel, seu penúltimo proprietário antes de a vivenda ser adquirida pela Câmara Municipal de Coimbra, foi ponta de lança da geração que encabeçou o movimento neorrealista nos anos 30 e 40 do século pretérito.

“Cá se reunia grande segmento da intelectualidade cultural, literária e também política, mas sobretudo de oposição no contextura do Estado Novo”, prossegue Réptil, referindo-se à ditadura que durou 48 anos em Portugal.

No final dos anos 1990, Coimbra foi a única cidade em Portugal que aderiu ao projeto Cidades de Refúgio, liderado pelo filósofo argelino de origem judaica Jacques Derrida com o objetivo de produzir uma rede para protecção a escritores perseguidos.

Naquela fundura desabitada, a residência começa a amparar escritores de passagem por Coimbra. Em 2010, é inaugurada oficialmente porquê Moradia da Escrita. Treze anos depois, passa a ter curadoria da Associação Brasil Portugal 200 anos.





É inspirador invocar Moradia da Cidadania da Língua, numa perspectiva mais ampla de união de todos os falantes da língua portuguesa

“É inspirador invocar Moradia da Cidadania da Língua, numa perspectiva mais ampla de união de todos os falantes da língua portuguesa”, diz José Manuel Silva, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, que reinaugurou o espaço em outubro do ano pretérito, ao lado do presidente do Senado brasílio, Rodrigo Pacheco.

Silva destaca a preço histórica do núcleo de cidadania, arte e cultura. E expressa fascínio pelo Brasil, destacando a influência histórica da Universidade de Coimbra na formação de intelectuais brasileiros.

“A Moradia da Cidadania da Língua quer ser um espaço de reflexão e ação para a construção de um porvir mais promissor para Portugal, Brasil e outros países de língua portuguesa”, afirma José Manuel Diogo, presidente da Associação Brasil Portugal 200 anos.

É sobretudo um reduto da lusofonia, ressalta. “Um espaço sem fronteiras, descolonizado e inovador, que possa promover a cooperação e a troca de ideias.”

Nessa novidade curadoria que leva para Coimbra um olhar contemporâneo sobre a língua e a produção cultural em torno dela, Diogo destaca a existência de uma programação contínua feita com esse olhar.

Um exemplo é o ciclo de oito encontros de Slam, uma visão descolonizada da língua em que Camões é recitado por poetas de rua. “O que provavelmente ele seria se vivesse nos dias de hoje”, afirma o curador.

Diogo tem atuado para ressignificar a lusofonia porquê espaço de troca entre culturas, buscando integrar vozes africanas, brasileiras e asiáticas.

Nomes consagrados da literatura em língua portuguesa, porquê o moçambicano Mia Couto e o português Gonçalo M. Tavares, passaram pela vivenda, inclusive em residência artística.

Em um dos seus salões, participei de um bate-papo com a professora Maria Bochicchio, do Meio Interuniversitário de Estudos Camonianos.

“Embora não tenhamos nenhum documento ou assinatura de Luís de Camões, sabemos através da sua obra que terá pretérito por Coimbra”, afirma a professora. “É provável que tenha frequentado a livraria do mosteiro de Santa Cruz e a própria universidade, os grandes centros da cultura e do saber no seu tempo.”

A conversa se desenrola na Moradia da Cidadania da Língua, uma vivenda portuguesa, com certeza, encravada nas vizinhanças da Sé Velha, monumento do século 12, símbolo do promanação de Portugal porquê país pelas mãos do primeiro rei, Dom Afonso Henriques, o Conquistador.

A igreja em estilo românico ganhou várias intervenções ao longo dos séculos, que lhe agregou um belo retábulo gótico.

Preciosidades que atraem turistas e estudantes que passam por ali a caminho do campus secular da Universidade de Coimbra, uma das mais antigas do mundo. Com suas capas pretas, segmento da indumentária acadêmica, eles sobem e descem as ladeiras do núcleo histórico.

No burburinho em frente ao idoso paço real, que abriga a reitoria e leva à esplêndida livraria Joaquina, ouve-se cada vez mais o sotaque brasílio. Há dez anos, estudantes vindos de todas as partes do Brasil formam o maior passageiro entre os 6.000 estrangeiros ali matriculados.

Além de completar 734 anos, a Universidade de Coimbra celebra em 2024 os 10 anos do trajo de ter sido a primeira instituição de ensino superior em Portugal a concordar a nota do Inspecção Pátrio do Ensino Médio (Enem) para chegada de brasileiros.

Múltiplos sotaques de uma língua portuguesa plural, nascida com Camões que, naquele mesmo cenário, adquiriu seus notáveis conhecimentos traduzidos em “Os Lusíadas”.

Folha

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