Vasco Pede à 777 Garantia De Aporte De R$ 270

Vasco pede à 777 garantia de aporte de R$ 270 milhões – 10/05/2024 – Esporte

Esporte

Não há experiência mais disfuncional na lei das sociedades anônimas (SAF) no futebol brasílio do que a relação entre Vasco da Gama e 777 Partners. Clube associativo e investidor não se entendem em zero.

Para alguns dirigentes da governo atual vascaína, a companhia sediada em Miami é aventureira. A 777 vê tentativas de fechar um contrato na marra, sem que qualquer cláusula tenha sido quebrada.

A 777 Partners tem 70% do futebol da 777 Carioca, empresa criada para comandar o futebol do Vasco. O próprio clube associativo ficou com 30%.

Um dos passos mais recentes na disputa ocorreu em 5 de abril, quando o Vasco enviou à 777 uma notificação, assinada por seu vice-presidente jurídico, Felipe Carregal Sztajnbok. Pediu uma garantia, válida no Brasil, de que o aporte de R$ 270 milhões, previsto em contrato para setembro deste ano, será feito.

Documento de auditoria externa e parecer da percentagem fiscal do clube colocam em incerteza a sobrevivência do SAF no caso de o aporte não ser feito.

“Cônscio de que se trata de valor significativo e considerando que, em setembro de 2023, quando do repositório da segunda parcela, a 777 deixou de realizar o pagamento de forma pontual, forçando o CRVG [Clube de Regatas Vasco da Gama] a praticar o bônus de subscrição, o CRVG se encontra justificada e legitimamente preocupado a saudação de fatos levados a público pela mídia, relacionados à solvibilidade e capacidade de pagamento do grupo econômico a que pertencem V.Sas”, diz o texto do documento obtido pela Folha.

Por contrato, a 777 deve fazer aportes anuais. No ano pretérito, foram R$ 140 milhões. Há um prazo para isso, com carência de 30 dias. O numerário foi depositado dentro desse período extra.

Dirigentes do Vasco reclamam que o numerário só entrou perto da data limite e que foram feitos vários depósitos a partir de diferentes contas do grupo. Para a empresa, o contrato foi cumprido.

A 777 deu sua resposta ao clube por meio de Steven Pasko, um dos seus fundadores. Em versões escritas em inglês e português, ele afirmou ter ficado “surpreso” com o pedido feito pelo Vasco. E negou a solicitação de apresentação de garantias.

“Posteriormente consulta aos nossos advogados, entendemos que a garantia da terceira parcela de concordância de investimento se reflete no recta do clube de praticar o bônus de subscrição que, se exercido, diluiria a participação percentual de 777 no clube, sendo totalmente desnecessária qualquer garantia suplementar”, diz a missiva.

Por contrato, se o aporte não é feito dentro do prazo, o Vasco tem recta a diluir a participação societária da 777, pegando de volta a porcentagem correspondente ao valor em ações da empresa que cuida do futebol.

“Isso não é garantia de coisa nenhuma. É consequência do inadimplemento. Se a 777 não aportar os R$ 270 milhões, as ações não vão valer zero. O patrimônio do Vasco será reduzido a pó. A garantia é justamente para impedir a concretização desse pior cenário”, reclamou Sztajnbok, à Folha.

Consultada pela reportagem, a 777 não se manifestou.

Seus representantes, no entanto, consideram absurda a asseveração de Sztajnbok. Para eles, falar em “reduzir o patrimônio do Vasco a pó” equivale a expor que a camisa, a imagem e a torcida do clube (4% da população brasileira, segundo a última pesquisa do Datafolha sobre o tema) não valem zero.

O contrato foi assinado em setembro de 2022, com a 777 comprando 70% do futebol da sociedade por R$ 700 milhões. A 777 assumiu esse valor da dívida vascaína, estimada em R$ 1 bilhão, e fez aporte inopino de R$ 120 milhões.

O clube reclama que dias depois a acionista majoritária pegou um empréstimo de R$ 50 milhões desse mesmo numerário para colocar em outras empresas do grupo. A 777 considera uma operação normal, feita em outros clubes. Sztajnbok diz que a quantia não foi devolvida ainda integralmente.

“Os empréstimos entre empresas do mesmo grupo econômico, mormente de pequeno prazo, são instrumentos comuns de gestão de saldos. Pagamos integralmente o empréstimo ao clube depois de um período pequeno de tempo usando uma taxa de juros superior às taxas do mercado sítio”, afirmou Pasko, em sua resposta à notificação.

Relatório extrínseco feito pela Grant Thorton fala em capital circulante líquido (a diferença entre ativo e passivo circulante) negativo em R$ 196,8 milhões, prejuízo em 2023 de R$ 123,5 milhões e passivo a revelado (quando o passivo supera o ativo) de R$ 601,7 milhões.

“Em 31 de dezembro de 2023, esses eventos e condições indicam a existência de incerteza relevante que pode levantar incerteza significativa quanto à capacidade de ininterrupção operacional da companhia”, diz a Grant Thorton.

Em parecer, a percentagem fiscal do clube afirma que “segue a incerteza sobre a ininterrupção operacional do Vasco SAF”.

“Das duas, uma: a 777 vive uma profunda crise de liquidez, ainda não justificada, ou realmente não tem numerário. Os dois cenários são péssimos para o Vasco SAF”, observou o vice-presidente jurídico.

Nos bastidores, a empresa afirma não ver motivos para que se duvide da sua saúde financeira porque proporcionou ao futebol do Vasco um pouco inédito nos últimos anos: os salários do departamento profissional foram mantidos em dia mesmo com resultados ruins em campo e sem patrocínio máster na camisa.

Mas a imagem da empresa tem sido atingida por notícias de dívidas do grupo no exterior. A 777 também é dona de Genoa (ITA), Standard Liège (BEL), Red Star (FRA) e Hertha Berlin (ALE). É ainda acionista minoritária do Sevilla (ESP) e do Melbourne Victory (AUS).

A filial Bloomberg publicou que a companhia é meta de processo por fraude, por ter supostamente feito um empréstimo de US$ 350 milhões (R$ 1,8 bilhão pela cotação atual) e oferecido porquê garantia fundos que não existem ou que não lhe pertencem. Segundo o site The Athletic, tribunal de Novidade York revelou que a 777 é meta de outros 16 processos que chegam a US$ 377 milhões (R$ 1,9 bilhão).

Em seu transmitido ao Vasco, a 777 diz que as publicações são de “canais de mídia especulativa e sensacionalista”.

“Infelizmente, não podemos controlar o que é publicado na mídia sobre a nossa empresa. No entanto, levamos as falsas acusações muito a sério e tomamos todas as medidas cabíveis para responder às publicações caluniosas”, diz o texto.

O tecido de fundo da desavença é o desempenho do time em campo. Apesar dos investimentos, o Vasco patina. Livrou-se do rebaixamento na última rodada do Campeonato Brasílico do ano pretérito. Foi eliminado pelo Novidade Iguaçu no Campeonato Carioca deste ano. Está na zona de rebaixamento do Vernáculo deste ano, com uma vitória em cinco rodadas.

No último ano, as receitas cresceram, segundo o juízo fiscal. Chegaram a R$ 364 milhões, recorde na história do clube. Mas as despesas também subiram e bateram em R$ 414 milhões.

No mês pretérito, a SAF demitiu de forma desastrada, via X (o idoso Twitter), o técnico prateado Ramón Díaz. Sua multa prevista em contrato era de R$ 30 milhões. A folha salarial é de R$ 20 milhões por mês, com contratações questionadas por conselheiros e torcedores. O veterano meia galicismo Dimitri Payet, 37, recebe tapume de R$ 1,5 milhão a cada 30 dias.

O vice jurídico vascaíno afirmou que, apesar de ter 30% das ações, o clube não é ouvido para zero e que a 777 toma as decisões de forma autocrática. Inclusive para escalar jogadores.

“Em tese, a SAF deveria ser independente, mas não é o que acontece na prática. O acionista majoritário interfere, graduação jogador, dá ordem direta ao CEO. O Vasco, que tem participação de 30% no negócio, não é informado de zero. Nem sequer é consultado”, reclamou.

Para a empresa, tomar as decisões é um pouco proveniente porque ela é acionista majoritária e tem maior número de integrantes no juízo de governo. Para a 777, se o Vasco quisesse tanto participar das decisões, deveria comparecer às reuniões do juízo, o que não tem sucedido.

O último título de sentença do Vasco foi o Carioca de 2016.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *