Veja Filmes Imperdíveis Da Mostra De Cinema Tcheco Em Sp

Veja filmes imperdíveis da mostra de cinema tcheco em SP – 28/02/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

De vez em quando, a Cinemateca Brasileira se empenha em alguma mostra realmente possante. No lusco-fusco de fevereiro, temos a mostra “O Mundo Fantástico da Tchéquia”, começa nesta quinta-feira (29) e segue até 10 de março.

São curtas e longas fantásticos da antiga Tchecoslováquia, em animação ou live action, realizados entre os anos 1930 e os anos 1980. A curadoria é de Leonardo Bomfim, originalmente para a Cinemateca Capitólio, de Porto Satisfeito.

O cinema tcheco sempre foi marcado por uma tendência ao fantástico, que se acentuou com o fortalecimento gradual da indústria cinematográfica do país, primeiro com a geração dos estúdios Barrandov, de Praga, em 1931, depois com o surgimento da prestigiosa escola de cinema FAMU, em 1946, e do Festival de Karlovy Vary, em 1948.

Os anos 1950 ficaram marcados por muitos filmes impactantes, que abriram o caminho, na dez seguinte, para a geração da nouvelle vague tcheca, de Vera Chytilová e Milos Forman.

Dois grandes filmes, realizados por diretores que fizeram secção desse movimento, estão entre os imperdíveis da mostra: “A Pomba Branca”, de Frantisek Vlácil, de 1960, obra-prima da concisão e da verso, e “Caso para um Carrasco Novato”, de Pavel Juracek, 1969, mais um passeio do diretor pelo paradoxal da quesito humana.

No primeiro caso, temos uma antecipação da nouvelle vague tcheca por um dos maiores diretores do país, acompanhando a curiosa amizade de um menino que resgata um pombo-correio que caiu em Praga. Mas a história importa menos que a formação do seus belos planos em preto e branco.

No segundo, um diretor, Juracek, que não aceitou as condições do regime e foi forçado ao ostracismo logo depois deste filme —repleto de alusões absurdas à increpação e regimes autoritários—, quando o término da Primavera de Praga começou a incidir com maior força nas produções de cinema.

Já Jiri Weiss começou nos anos 1930, foi um diretor importante no pós-guerra, fez a ponte com a geração da nouvelle vague e realizou o incrível “A Vegetal Dourada”, em 1963, ano que costuma ser considerado o marco inicial do movimento com sua trama sobre uma misteriosa vegetal que vira uma pequena.

O longa mais idoso na programação é “A Doença Branca”, de Hugo Haas. Filmado em 1937, fica fácil perceber para qual transe o filme alerta. O fantástico entra também na forma porquê o país imaginário da trama remete à Alemanha da estação. Há um diálogo com o mundo de 2024, quando quem pede sossego é massacrado porque todos ao volta querem guerra.

O mais recente é “A Lar Maldita dos Hajn”, assinado por Jiri Svoboda e lançado em 1989. Mais curioso do que realmente bom, é de uma período estranha do cinema tcheco, em que os melhores filmes eram os que estavam banidos desde o final dos anos 1960, lançados com murado de 20 anos de detido graças ao relaxamento do regime e a ulterior Revolução de Veludo de 1989.

Não é o caso de “O Chalé do Lobo”, 1987, de Vera Chytilová. A diretora foi uma das maiores do país até os anos 1970, tornando-se irregular a partir de logo. Levante filme surpreende pelo estranhamento, mas cansa pela falta de solidez no estilo. Tem, porém, admiradores de saudação.

Nos anos 1970, alguns diretores tchecos começaram a fazer filmes mais enigmáticos para evadir da increpação do regime socialista. Dentro dessa estratégia, apelavam para os retratos de um pretérito distante ou para a fantasia, pois qualquer investida em realismo era vigiada pelo governo.

Alguns desses filmes são injustamente esquecidos, porquê o belíssimo “A Bela e a Fera”, 1978, melhor trabalho de Juraj Herz, diretor eslovaco que filmava em Praga. Essa espantosa versão do clássico narrativa de fadas lembra, em verso e formosura, a período setentista do prateado Leonardo Favio.

Outro belo filme tcheco dos anos 1970 é o subestimado “A Pequena Ninfa do Mar”, 1976, de Karel Kachyna, músico em sintonia formal com o cinema soviético da estação, realizado pelo cineasta que ganhou notoriedade no meio cinéfilo com “A Carroça”, de 1966.

Ainda nos anos 1970, “Os Magníficos Homens da Manivela”, de 1979, é uma bela homenagem aos pioneiros do cinema, ainda que seu diretor Jiri Menzel, famoso por “Trens Estritamente Vigiados”, de 1966, carregue demais no sentimentalismo.

O cinema zombeteiro de Oldrich Lipsky não é para todos os gostos, mas quem embarca em seus filmes não pode perder “Eu Matei Einstein, Cavalheiros”, comédia de ficção científica de 1970. É um tipo de humor porquê só se fazia na Tchecoslováquia. E Lipsky capricha no visual de seus filmes, o que garante ao menos um tipo de maravilhamento.

Também no campo da ficção científica, “Viagem ao Termo do Universo” é um filme de 1963, de Jindrich Polák, que se tornou famoso porquê referência para “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick. Ver o filme tem essa curiosidade, além da prova evidente de que existe autoria em cinema.

Outra ficção científica, desta vez apocalíptica, é “Final de Agosto no Hotel Ozone”, 1967, de Jan Schmidt, diretor menos comemorado da nouvelle vague tcheca, com roteiro do ótimo Pavel Juracek, sobre um grupo de mulheres em procura de outros sobreviventes a um colapso. Curiosamente, é um filme esquecido, que vale ser renovado.

No lado do humor, o testemunha não irá se arrepender se escolher a comédia clássica “O Imperador e o Golem”, 1952, de Martin Fric. Quando menos se espera, o veterano diretor nos surpreende com qualquer movimento que quebra a encenação teatral. E o boneco que representa o Golem é um descoberta de economia e perdão.

Uma faceta muito celebrada do cinema tcheco é o da animação, com pelo menos quatro grandes diretores: o mais publicado Jan Svankmajer, o respeitado Jiri Trnka, a injustiçada e pioneira Hermína Tyrlová e o genial Karel Zeman.

Levante último tem porquê obra-prima “O Barão Fanfarrão”, presente na mostra, em que animação e live action se fundem num efeito de incrível formosura. Os filmes de Zeman costumam ser plasticamente muito ricos, mas neste longa de 1962 ele se superou.

Tyrlová tem uma sessão de curtas em que se destaca “A Revolta dos Brinquedos”, de 1947. Svankmajer, publicado pelo stop-motion surrealista com toda sorte de materiais, terá também uma sessão de curtas só para ele, com destaque para “O Apartamento”, de 1968.

Jiri Trnka, rabino da animação com bonecos, teve longas muito celebrados na curso, dos quais a mostra exibe “Velhas Lendas Tchecas”, de 1953. Exibe também seu curta-metragem, “Mão”, de 1965.

Completam a mostra alguns curtas infanto-juvenis e longas menos conhecidos, mas não desprovidos de interesse, porquê a comédia músico com trilha do músico de jazz progressivo Jan Hammer, “A Princesa Terrivelmente Triste”, 1968, de Borivoj Zeman; e “Três Avelãs para Cinderela”, 1973, de Václav Vorlicek.

A riqueza da filmografia tcheca não se esgota cá. Ela possibilita a realização de uma mostra destas por ano.

Folha

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