A fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparando as ações militares de Israel na Fita de Gaza ao Imolação contra judeus da 2ª Guerra Mundial teve ampla repercussão no Brasil e no exterior. O glosa fez o governo de Israel declarar Lula persona non grata no país. Em resposta, o governo brasílio convocou de volta ao país o mensageiro de Tel Aviv “para consultas”.
No Brasil, movimentos sociais, sindicatos, lideranças políticas e entidades que representam israelenses, judeus e palestinos se manifestaram sobre o tema, criticando ou defendendo o texto do glosa. Veículos de prelo nacionais também dedicaram ampla cobertura sobre a enunciação do presidente.
Em resposta às críticas recebidas por Lula, o Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) expressou “totalidade solidariedade” ao presidente brasílio e afirmou que é apropriada a confrontação entre a ação de Israel em Gaza e a de Adolf Hitler na Alemanha nazista.
“Enquanto a intenção de Hitler era a eliminação dos judeus, a de ‘Israel’ consiste na aniquilação do povo palestino, em uma operação de limpeza étnica. Nesse sentido, os nazistas e os sionistas podem ser considerados entidades irmãs siamesas”, afirmou, em nota, Ahmed Shehada, presidente da Ibraspal.
O sionismo é o movimento político, surgido na Europa no século 19, que deu origem ao Estado de Israel.
O Instituto Brasil-Palestina defendeu que a ação de Israel em Gaza não é “recta de resguardo”, porquê diz o governo israelense, e argumentou que o recta internacional não autoriza “bombardeios contra escolas, hospitais, mesquitas, igrejas e residências de civis desarmados, tampouco permite o sequestro e tortura de milhares de palestinos. No entanto, ‘Israel’ persiste em tais práticas”.
Em posição oposta ficou a Confederação Israelita no Brasil (Conib). A organização condenou a fala de Lula e chamou a confrontação de “distorção perversa da verdade” que ofenderia a memória das vítimas do Imolação.
“Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país”, afirmou.
A Confederação Israelita completou que “o governo brasílio vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de estabilidade e procura de diálogo da política externa brasileira”.
Outra organização judaica do Brasil, o Judeus Pela Democracia, disse que a fala é uma “vergonha histórica sobre todos os pontos de vista” e que ela estimula o antissemitismo, ou seja, a discriminação contra os povos semitas, entre os quais, estão os judeus. Para essa entidade, o que acontece em Gaza é uma tragédia humanitária, “mas a guerra de hoje não é remotamente parecida com o Imolação”.
Por outro lado, a Pronunciação Judaica de Esquerda saiu em resguardo do presidente Lula.
“As semelhanças são insuportáveis. São dolorosas e desconfortáveis. Mas é impossível, conhecendo os antecedentes e as medidas adotadas pelos nazistas, não confrontar com a situação dos palestinos vivendo há 55 anos em requisito apátrida e sob pogmons (avalizados e estimulados pelas autoridades israelenses)”.
Pogmon é um termo usado historicamente para denominar atos de violência em volume contra um grupo étnico ou religioso.
“Quando se menciona isso não se banaliza o Imolação. Faz-se memória e justiça, restabelece-se a verdade e honram-se aqueles que lutaram e sobreviveram”, afirmou o grupo.
Outro coletivo judaico que saiu em resguardo do presidente Lula foi o Vozes Judaicas Por Libertação. Em epístola, o grupo argumentou que “a confrontação entre genocídios é sempre delicada pois a experiência vivenciada por cada povo afetado é inigualável”.
Mesmo assim, o coletivo acredita que as palavras do presidente foram necessárias. “A incongruência de o povo judaico ser ora vítima e agora carrasco é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós”, afirmou.
O Vozes Judaicas Por Libertação pediu que o governo vá ainda mais longe, rompendo relações diplomáticas e comerciais com Israel.
“As palavras têm poder. Se a forma porquê Lula se expressou na ocasião foi pouco cuidadosa – tropeçando justamente neste ninho de comparações forçadas – sua fala tem o objetivo de atingir a imaginação e provocar uma crise moral sobre Israel”, acrescentou, em nota, a organização.
Oposição
A fala do presidente Lula gerou possante reação na oposição ao governo no Congresso Vernáculo. Alguns deputados tentam colher assinatura para protocolar um pedido de impeachment na Câmara dos Deputados.
A deputada federalista Bia Kicis (PL-DF) disse que o presidente cometeu delito de responsabilidade sob o argumento de a fala expor o Brasil ao transe de guerra e citou o Item 5ª da Lei do Impeachment (1.079/1950). “É inadmissível o vexame a que Lula está submetendo o Brasil, país que tanto contribuiu para a instalação do Estado de Israel”, afirmou a parlamentar.
A presidenta do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, rebateu a oposição. “Golpistas querendo impeachment de Lula só pode ser piada”, comentou a deputada federalista por São Paulo.
Sobre a reação do governo de Israel, Gleisi disse que “Netanyahu devia se preocupar com a repudiação que desperta no mundo e em seu próprio país, antes de tentar repreender quem denuncia sua política de extermínio do povo palestino”.
Comissões de Relações Exteriores
A fala de Lula sobre a guerra em Gaza e o Imolação também repercutiu entre os presidentes da Comissões de Relações Exteriores do Congresso Vernáculo
Na Câmara, o presidente da percentagem que fiscaliza a política externa do governo, o deputado federalista Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), repudiou a confrontação entre as ações de Israel em Gaza e o Imolação.
“É lastimoso, injusto e desrespeitoso confrontar o Imolação à dolorosa guerra na Fita de Gaza, motivada por atos do grupo terrorista Hamas. Os povos israelense e palestino vivem um momento triste, de luta contra o terrorismo, e não devemos produzir mais pontos de tensão sobre esse traje, mas nos unir para combater práticas violentas porquê as exercidas pelo Hamas”, destacou.
Já o presidente da Percentagem de Relações Exteriores do Senado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), não comentou o texto da fala do presidente, mas convidou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a ir à percentagem para discutir o tema.
“O ministro, porquê sempre, se prontificou a ir já na primeira semana de março, em virtude das agendas do G-20 e outros compromissos internacionais”, informou o parlamentar.
Prensa
Segmento da prelo brasileira condenou a fala do presidente Lula por meio de editoriais – textos que representam a opinião dos donos dos veículos.
Para O Mundo, Lula “agride a História” ao confrontar Israel aos nazistas. Já a Folha de São Paulo disse que a “banalização do Imolação não deveria estar no repertório de um dirigente de Estado”. Por sua vez, o Estado de S. Paulo afirmou que Lula “aviltou a História, a memória dos judeus assassinados pelos nazistas e os interesses do Brasil”.
Coube à Gleisi Hoffmann trespassar em resguardo de Lula. Para ela, Lula se colocou ao lado da maioria dos países, que condenam as ações de Israel em Gaza.
“Quem ficou isolada nesse incidente foi a grande mídia do Brasil, cega pelo preconceito contra a política externa soberana de Lula. Enxergou banalização do Imolação onde Lula criticou o governo de extrema-direita de Netanyahu e sua política de extermínio, condenada pelo mundo inteiro. Manipular a fala de Lula, isto sim, é banalizar o genocídio do povo palestino”, respondeu em uma rede social.
CUT e MST
Movimentos sociais e sindicais que historicamente apoiam os governos do PT também saíram em resguardo do presidente Lula.
A Médio Única dos Trabalhadores (CUT) se solidarizou com Lula contra o que chamou de duros e injustos ataques “que está sofrendo da extrema direita, do sionismo e da grande prelo, cúmplices dos crimes que o governo de Israel comete contra o povo palestino e a humanidade”.
Para a CUT, “é preciso coragem para desmascarar a indústria internacional do susto patrocinada pelo governo de Israel que tenta inclusive silenciar jornalistas no Brasil com ameaças e processos”. No início do ano, o jornalista Breno Altman foi notificado para responder a um questionário da Polícia Federalista (PF) por críticas ao Estado de Israel.
Já o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terreno (MST) publicou epístola em suporte ao presidente assinada pelos movimentos sociais do Campo Unitário. “Lula foi corajoso em reprovar a prática de extermínio na qual mais de 12 milénio crianças já foram cruelmente assassinadas”, diz o documento.
Entenda o caso
Em entrevista coletiva durante viagem solene à Etiópia, o presidente brasílio classificou as mortes de civis em Gaza porquê genocídio, criticou países desenvolvidos por reduzirem ou cortarem a ajuda humanitária na região e disse que “o que está acontecendo na Fita de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.
“Não é uma guerra entre soldados e soldados. É uma guerra entre um Tropa altamente prestes e mulheres e crianças”, disse Lula.
A enunciação gerou fortes reações do governo israelense. O primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, disse que a fala “banaliza o Imolação e tenta prejudicar o povo judeu e o recta de Israel se tutorar”.
Guerra
Um ataque do Hamas, no dia 7 de outubro, desencadeou a graduação do conflito na Fita de Gaza e deu início a mais um capítulo de um conflito que se arrasta há décadas. Homens armados mataram 1,2 milénio israelenses e levaram murado de 250 reféns. Israel declarou guerra aos agressores e mobilizou o tropa para uma resposta. As autoridades de saúde de Gaza, que é controlada pelo Hamas, estimam que murado de 28 milénio palestinos, em sua maioria civis, tenham sido mortos na região desde o início do conflito em outubro.