Violeiros homenageiam inezita barroso em shows 06/03/2025 música

Violeiros homenageiam Inezita Barroso em shows – 06/03/2025 – Música em Letras

Celebridades Cultura

São Paulo terá uma série de shows homenageando os 100 anos da cantora, atriz, instrumentista e apresentadora de TV e rádio Inezita Barroso (1925-2015).

Entre eles figura o espetáculo “Inezita Barroso, a voz de nossa terreno” que reunirá, às 21h desta sexta-feira (7), no palco do Sesc Pinheiros, os violeiros Paulo Freire, Adriana Farias e Orquestra Paulistana de Viola Caipira.

No repertório do espetáculo há um “causo” que mostra a angústia do compositor e onde ele procura suas forças. “É o ‘Causo do Angelino’, que narrativa emendando com a música ‘Tristeza do Jeca’, conta em entrevista exclusiva ao blog o talentoso compositor e violeiro Paulo Freire. “A última vez que me apresentei no programa da Inezita, o ‘Viola minha viola’, da TV Cultura, contei esse causo escoltado pela viola do Levi Ramiro. Agora vai ser com a viola do Rui Tornese, da Orquestra Paulistana de Viola Caipira, ou com seu rebento, o Lucas, que é fera no instrumento”, disse Paulo Freire, que no “Viola minha Viola” teve a própria Inezita Barroso entrando em seguida a apresentação do “causo”, cantando “Tristeza do Jeca”. No espetáculo de sexta-feira será a vez da violeira Adriana Farias mostrar seu talento. Foi ela quem continuou a apresentar o “Viola minha Viola” depois da morte de Inezita.

Outra música garantida no show é “Ser Mãe é Rijeza”, constituição de Billy Blanco. “Tive entrada a muitas gravações da Inezita, pois ouvi mais de 80 discos”, disse Freire. “Dia desses encontrei esta e achei perfeita para mostrar uma vez que a Inezita enfrentou o mundo, com seus questionamentos e firmeza. Pouca gente conhece, é muito divertida.”

É óbvio que a clássica “Voga da Pinga” também está no repertório e trazendo uma polêmica. “Eu me divertia um pedaço com a Inezita, em shows, camarins e tomando umazinha. Ela era uma pessoa muito firme. Quando gostava de alguém era um paixão, mas se desconfiava da pessoa, sai debaixo. Ela ficava muito brava quanto aos supostos autores dessa música. Na verdade, eram aqueles versos inventados em rodas de viola. Tinha o mote e cada um inventava um verso. Inezita ouvia a ‘Voga da Pinga’ desde moçoila, nas fazendas de São Paulo. Simples que depois, com o sucesso de suas gravações, foram aparecendo supostos autores. O Paulo Vanzolini era muito colega dela, né? Para uma gravação, o Vanzolini criou um verso novo e não colocaram o crédito. Pois não é que apareceu gente dizendo que tinha formado esse verso?”.

Outro show que irá homenagear com propriedade Inezita Barroso é gratuito e acontecerá na próxima terça-feira (11), às 20h, na dimensão de convívio do Sesc Pinheiros, com Carol da Viola e o expert em viola caipira, professor, compositor e exímio instrumentista Ivan Vilela.

O Música em Letras entrevistou o músico Ivan Vilela e obteve várias informações relevantes sobre o espetáculo, incluindo as afinações utilizadas pelo instrumentista, que serão explicadas durante a apresentação.

Leia, a seguir, a entrevista concedida com exclusividade pelo artista ao blog.

Quais são as músicas do repertório do espetáculo e uma vez que elas serão apresentadas?

O repertório passeia por diversas fases da curso de Inezita, desde gravações da dez de 1950, uma vez que “Viola Quebrada”, de Mário de Andrade, gravada por Inezita, em 1955, em seu primeiro disco. Mário, em seu livro “Correspondências com Manuel Bandeira”, escreveu que compôs essa música (aliás, sua única constituição) “arremedando” o estilo de Catulo da Paixão Cearense. No remendo são citados elementos sonoros presentes nas músicas de Villa-Lobos, uma vez que o uso de terças maiores cromáticas descendentes e um contraponto rebuscado, que dão à viola uma dimensão orquestral. Nesta música utilizo a afinação chamada de “Cebolão”, em ré.

Outra música que marcou a curso de Inezita foi “Voga da Pinga”, de Ochelsis Laureano (Sorocaba, 1909-1996). Esta música havia sido gravada, em 1937, por Raul Torres com o nome de “Festança no Tietê”. Inezita a gravou em 1958. Esta música, a partir de sua versão, tornou-se nacionalmente conhecida e, de alguma forma, tornou-se indissociável da cantora, fazendo com que todo o público associasse Inezita à “Voga da Pinga”. A música é um cururu e possui oito estrofes. Em nosso remendo, à segmento da viola de seguimento harmônico, a outra viola (solo) traz um figura músico dissemelhante para cada estrofe cantada por Carol Viola. A afinação utilizada será a “Cebolão”, em mi.

Em 1958, Inezita gravou dois discos. No segundo, só gravou compositoras mulheres (veja aí a consciência de gênero que ela sempre teve). Foram elas: Babi de Andrade, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade. Desse disco selecionamos “Cateretê”, de Edvina de Andrade, e utilizaremos a afinação “Rio Inferior”.

Em 1961, Inezita gravou o disco “Danças do Sul”. Seu olhar se voltou às danças do fandango, várias delas, recolhidas por Luiz Carlos Barbosa Lessa e João Carlos D’Ávila Paixão Cortes, dois gigantes gaúchos que voltaram seu lume criativo à compreensão e valorização da cultura popular do Rio Grande do Sul. Desse disco separamos “Chimarrita-Balão”, utilizando novamente a afinação “Cebolão”, em mi.

“Tamba Tajá”, outra música do show, é uma constituição de Waldemar Henrique, gravada por Inezita em 1960, e mostra uma vez que a tradutor olhava para o Brasil todo. Nesse remendo, a viola passeia melodicamente sob a voz de Carol Viola enquanto uso novamente uma afinação “Rio Inferior”.

No repertório haverá outras canções uma vez que “Tristezas do Jeca”, de Angelino de Oliveira, constituição de 1918, gravada por Paraguassu [nome artístico do cantor, compositor e violonista Roque Ricciardi, 1894 -1976], em 1924, ou seja, cinco anos antes das primeiras gravações de Cornélio Pires.

“Lampião de Gás”, música de Zica Bérgami eternizada na voz de Inezita; “Ronda”, de Paulo Vanzolini estabelecendo a relação dos dois, Inezita e Vanzolini, no olhar para a cultura popular; cá, no caso, para a cultura paulistana, além de “Uirapuru”, de Waldemar Henrique, “Luar do Sertão”, de Catulo da Paixão Cearense, “Nhapopé”, de responsável incógnito, porém com recolha atribuída a Julio Casado, a Villa-Lobos e a Alberto Deodato. Seu primeiro registro em um cancioneiro data de 1935 (“Modinhas e Canções”, atribuído a Villa-Lobos), “Talento Novo”, de Hekel Tavares, gravada por Inezita, em 1958. “Luá Luá”, de Catulo da Paixão Cearense e, por termo, “Viola e Baralho”, de Raul Torres, também estão no espetáculo.

O que será explorado em termos de sonoridade no espetáculo?

Porquê citei anteriormente, trabalharemos com quatro afinações: “Cebolão” em ré e em mi, “Boiadeira” e “Rio Inferior”. A viola de Carol é construída mais sobre a linguagem caipira. Seus solos delineados em terças e sextas demarcam o território caipira. Já a minha passeia por outras paisagens sonoras tendo o contraponto uma vez que base principal de construção. Daí, a junção resulta numa sonoridade multifacetada e, de certa forma, multicultural.

Qual a prestígio de Inezita Barroso para a música brasileira?

Inezita talvez tenha sido a tradutor que mais valorizou a música dos interiores do Brasil, no período que compreende as décadas de 1950 a 1970. Seu repertório é vasto e foi cuidadosamente construído dentro de sonoridades representativas das várias regiões do nosso país. Ao lado da goiana Ely Camargo, Inezita talvez seja a grande voz dedicada ao registro fonográfico de um Brasil de dentro, no que toca à volubilidade de repertório. Gonzagão gravou também músicas de outras regiões do Brasil, mas o seu foco sempre se centrou na música do Nordeste.

Em tempos onde a misoginia e o racismo perdem o seu espaço, graças a Deus, Inezita foi uma mulher que desde os anos 1950 se preocupou em mostrar no seu repertório mulheres compositoras, no caso dedicando até um disco próprio para isso. Foi uma defensora da autêntica música sertaneja diante das mudanças impostas pelo mercado fonográfico desde os anos 1970 uma vez que as vertentes romântica e universitária. Sempre teve um posicionamento demarcado em seu programa televisivo -como o Rolando Boldrin- diante das imposições da mídia. Se, por um lado, uma vertente da chamada música regional (termo que não assumo e não sabor) teve sua instalação calcada no cancioneiro camponês latino-americano, nos anos 1950, representado no Brasil pela melodia de protesto e por artistas uma vez que Dércio Marques e turma, Inezita manteve viva uma outra risco que vinha das antigas composições sertanejas de autores do início do século 20 e que não eram propriamente caipiras. Sua preocupação, uma vez que folclorista que foi, em percorrer de carruagem o Brasil para saber de perto as músicas e manifestações que representava a apresentam uma vez que um exemplo a ser seguido, uma guiança [ação de orientar], longe da xenofobia e da xenofilia.

SHOW IVAN VILELA E CAROL VIOLA HOMENAGEM A INEZITA BARROSO

ARTISTAS Ivan Vilela e Carol Viola

QUANDO Terça-feira (11), às 20h

ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 3095-9400

QUANTO Gratuito

SHOW INEZITA BARROSO A VOZ DE NOSSA TERRA

ARTISTAS Paulo Freire, Adriana Farias e Orquestra Paulistana de Viola Caipira

QUANDO Sexta-feira (07), às 21h

ONDE Teatro Paulo Autran, Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, Pinheiros, São Paulo, tel. (11) 3095-9400

QUANTO De R$ 21 a R$ 70

Folha

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