Virada Cultural Vai De Referência Internacional A Fiasco 20/05/2024

Virada Cultural vai de referência internacional a fiasco – 20/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

É noite de sábado, em maio de 2014, e passeio ao lado dos meus pais e irmãs pelo meio de São Paulo. Nas imediações da Pinacoteca, entre os vãos do museu, um grupo de rap canta suas rimas, marcando aquela que seria uma das experiências mais marcantes para a história da minha família em uma Viradela Cultural.

Uma dez depois, o cintilação do evento foi ofuscado por violência, desleixo com os artistas e o público e um sentimento de tristeza com o potencial esperdiçado.

O ponto de inflexão ocorreu em 2017, durante a gestão de João Doria, que introduziu uma política de descentralização do evento. A teoria era dissipar as atividades por toda a cidade, afastando-se do protótipo concentrado que havia sido cuidadosamente esmerado desde a sua geração em 2005, sob José Serra.

Essa mudança resultou em uma série de palcos vazios em locais porquê o Sambódromo do Anhembi e o Autódromo de Interlagos, com artistas notáveis porquê Fagner e Alcione destacando a falta de público e infraestrutura adequada.

Levar shows para as periferias não é o problema. Em 2022 e 2023, esses palcos, que apresentavam três ou quatro espetáculos, foram os mais seguros e atraíram um público diverso, desde bebês de pescoço até idosos. Mas esse formato foge do objetivo principal da Viradela, que, além de ser um evento com 24 horas de programação contínua, visa ocupar o meio.

O meio de São Paulo, historicamente frequentado exclusivamente para trabalho pela grande maioria da população dos extremos, perde a oportunidade de ser redescoberto porquê um espaço de cultura e convívio.

Uma primeira sequela que temos pelo município ao apostar na ampliação do território dos shows, além dos altos cachês dos artistas, é o dispêndio estrutural final do evento. Levante ano, a Viradela custou quase R$ 60 milhões aos cofres públicos, 30% a mais do que no ano pretérito.

Em paralelo a isso, as 20 Casas de Cultura da cidade, incertas se serão ou não privatizadas, receberam no ano pretérito R$ 19,28 milhões para manutenção e operação e R$ 8,86 milhões para programação de atividades. E são nestes espaços culturais que a periferia tem contato com a cultura durante o ano.

Esse formato não diminuiu a violência no meio de São Paulo. Em 2022, vimos um apocalipse ocorrer —gritos de arrastões, agressões, relatos de esfaqueamentos e uma sucessão de roubos e furtos assombram o vale do Anhangabaú. Apresentações foram interrompidas pelas brigas e pessoas desmaiaram, tudo aos olhos da segurança pública, que teve uma ação questionável.

Para não reviver o traumatismo, a Viradela de 2023, com o orçamento até portanto recorde, de R$ 40 milhões, apostou ainda mais nos extremos da capital e nos espaços de cultura fechados. No meio, cercou toda a espaço do vale do Anhangabaú, instalando câmeras e destacando policiais em torres, transformando o lugar em uma espécie de festival privado, onde não houve nenhuma ocorrência de latrocínio ou violência.

O resultado foi um evento ainda mais esvaziado, e o clima de terror, herdado do ano anterior, provocou uma debandada noturna, deixando uma sensação de vazio.

O povo paulistano já viu um dia a Viradela Cultural porquê o principal evento do ano. Imaginar uma cidade porquê São Paulo virando a noite com shows de artistas consagrados internacionalmente, onde você pode manducar comidas típicas de diversos lugares do país, comprar utensílios e ainda usar o metrô para voltar para vivenda, deveria ser o principal resultado turístico do município.

O que acompanhamos, porém, é o evento se transformar em um grande elefante branco, onde nenhum dos secretários de cultura nos últimos dez anos conseguiu domar.

O line-up zero proeminente, com artistas porquê Léo Santana, Leonardo e Pabllo Vittar, recorrentes em apresentações abertas no Carnaval de São Paulo, só nos faz sentir nostalgia dos tempos áureos do evento, quando assistimos a ícones porquê Caetano Veloso e Racionais MC’s. Estamos contentando com uma versão diluída do nosso potencial cultural.

Essas reflexões trazem uma espécie de ceticismo sobre o que esperar da próxima edição da Viradela Cultural, que terá comemorado 20 anos. Uma vez que esse evento vai evoluir ou se reinventar diante dos desafios atuais, e sob uma novidade direção municipal, é um mistério. Enquanto isso, continuamos vivendo à sombra do que um dia foi esse evento de referência mundial.

Folha

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