Viradouro Aposta Na História De Malunguinho Para Tentar Bicampeonato

Viradouro aposta na história de Malunguinho para tentar bicampeonato

Brasil

Neste ano, em procura do bicampeonato, a escola de samba Viradouro mantém-se na traço de buscar temas de prestígio na história, ou de religiosidade, para falar de uma segmento da cultura brasileira que é pouco conhecida. O enredo Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos, homenageia uma entidade que tem representações uma vez que mestiço indígena, rabi e Exu. O carnavalesco Tarcísio Zanon escolheu o enredo depois uma extensa pesquisa, que teve origem ainda no período da pandemia de covid-19, quando precisou permanecer mais retraído em moradia.


Rio de Janeiro (RJ), 05/02/2025 - Tarcísio Zanon, carnavalesco e Alessandra Reis, diretora de Ateliê da Unidos do Viradouro, no barracão da escola, na Cidade do Samba, zona portuária. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 05/02/2025 - Tarcísio Zanon, carnavalesco e Alessandra Reis, diretora de Ateliê da Unidos do Viradouro, no barracão da escola, na Cidade do Samba, zona portuária. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Carnavalesco Tarcísio Zanon e Alessandra Reis, diretora de Ateliê, preparam desfile em que a Viradouro tentará o bicampeonato – Tânia Rêgo/Dependência Brasil

 

“É um tema muito importante, porque a gente está falando de reparação cultural, de um personagem pouquíssimo sabido do grande público. Até mesmo em Pernambuco, os pernambucanos não conhecem a força desse varão, um dos maiores líderes quilombolas do Brasil”, disse o carnavalesco à Dependência Brasil.

“Quando penso em enredo, penso principalmente em pautas atuais que dialoguem com a escola e que proporcionem a fantasia. Um enredo bom precisa proporcionar a fantasia, precisa tirar o componente do lugar-comum. Essa traço de enredo tem sido muito importante, e eu vejo um marco quando a gente consegue com o enredo uma vez que a Rosa Maria Egipcíaca levar essa material para as escolas públicas. A escola de samba tem essa função de ser também um lugar, de ser um espaço de instrução”, afirmou Zanon, ao recordar que, nos anos 60, o carnavalesco Fernando Pamplona, do Salgueiro, desenvolveu enredos sobre Zumbi dos Palmares, Chica da Silva e colocou esses personagens em um lugar de conhecimento que não era aprendido na escola normal.

“É um caminho que eu sabor muito, inclusive é um dos maiores valores dentro de uma escola de samba, ser esse espaço de transformação, de instrução, de reconhecimento enquanto pátria e de desconstruir esse imaginário brasílico”, destacou.

De conformidade com o carnavalesco, a representatividade de Malunguinho aumenta quando se analisa a extensão territorial em que o personagem atuava. “É o maior líder quilombola, porque o quilombo [dele] corta desde Pernambuco até a Paraíba, toda a Zona da Mata. É um quilombo itinerante, dissemelhante, até porque ele aprendeu com os indígenas a técnica de fazer e desfazer ocas, de fazer armadilhas, que lá eles chamam de estrepes, para os algozes não os encontrarem. É um personagem que sobrevive dentro da oralidade do povo, dos cânticos cantados dentro do Catimbó.”

A escolha tem também um toque místico. Segundo Zanon, o enredo Malunguinho veio da pesquisa que já tinha feito no período pandêmico sobre o Catimbó e sobre a Jurema, a vegetal Acácia, usada em uma tradição religiosa de tomar o chá, que começou sendo usada por indígenas das regiões Setentrião e Nordeste. Quando a equipe da escola fazia a comemoração pelo título de campeã de 2024 em um sítio em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, contornado por uma mata, do zero começou a surgir uma fumaça muito densa. “O meu pai de santo falou que era qualquer sinal. Eu me lembrei da pesquisa e que Catimbó que significa fumaça de mato, não fumaça no mato”, contou, revelando uma vez que foi a opção pelo enredo.

“Me lembrei da pesquisa e falei que levante ano a gente tinha que falar na Jurema e em Catimbó. Sou um carnavalesco muito místico, sou sempre prudente aos sinais”, disse Zanon, lembrando que isso também ocorreu com o enredo Rosa Maria Egipcíaca, quando a escola foi vice-campeã em 2023. “Sempre tem um sinal. Leste foi um sinal. Apresentei o enredo junto à escola e eles gostaram”, afirmou, referindo-se à escolha para 2025.

A história de Malunguinho tem ainda outra segmento interessante. Na dezena de 80, o professor Marcos Roble descobriu um indumentária histórico da existência do líder: era um registro policial da morte de Malunguinho. “Logo, tem um personagem que sobrevive dentro da oralidade e agora está na historiografia pátrio. A gente pretende enaltecer ele dentro desse panteão dos grandes heróis nacionais”, indicou.

Na representação terrena do varão encarnado, o líder quilombola se chamava João Batista e será apresentado no início do desfile. “Ele viveu cá enquanto João Batista, que é o nosso primeiro setor. Essa figura quilombola, líder revoltoso com aquela sociedade, o líder político que lutou pelo povo dele, que tacava incêndio nos canaviais e era o pavor dos tiranos”, destacou.


Rio de Janeiro (RJ), 05/02/2025 - Detalhe de carro alegórico, no barracão da Escola de Samba Unidos do Viradouro, na Cidade do Samba, zona portuária. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 05/02/2025 - Detalhe de carro alegórico, no barracão da Escola de Samba Unidos do Viradouro, na Cidade do Samba, zona portuária. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Pormenor de carruagem emblemático da Viradouro, que contará a história de Malunguinho, um líder quilombola ainda pouco sabido – Tânia Rêgo/Dependência Brasil

Na sequência, a Viradouro passa a mostrar os três mundos, que é quando João Batista se transforma em ser seduzido, uma entidade místico. “Ele sobrevive nesses três mundos. Tem a capacidade de ser um curandeiro, quando passa a ser um mestiço, porque aprendeu com os indígenas o sigilo das ervas. Rabi, quando conhece essa relva que é a Jurema sagrada e Exu Trunqueiro, quando tem a chave, enquanto em vida, para terebrar as senzalas. Agora, enquanto seduzido, é a entidade que fecha os corpos e abre o caminho”, disse Zanon, ao apresentar as evoluções do personagem.

E, quando se pergunta se ele vai terebrar o caminho para o campeonato, a resposta de Zanon é imediata: “Com certeza. A chave já está na mão dele, e a gente está fazendo de tudo. É um trabalho muito sério. A gente está conversando quase diariamente, trabalhando com as casas de Pernambuco, fez uma pesquisa muito séria e um trabalho místico também muito sério. Eu falo que esse enredo está contornado de todos os lados. Historicamente, porque a gente tem os registros, e espiritualmente, porque a gente está indo na natividade para fazer todos os trabalhos”, detalhou o carnavalesco, ao explicar a procura da segurança, que demonstra reverência pela história. E a questão místico é importante para o resultado da escola, acrescentou.

A diretora de ateliê, Alessandra Reis, revelou que segmento da segurança místico que a Viradouro buscou está presente no barracão. “Hoje tem a presença do Malunguinho no barracão. Ele está sentado cá e vai ser desvelo diariamente, uma vez que foi ensinado lá em Recife para a gente dentro de um juremeiro. A posição em que ele está no barracão, o Tarcísio parou para ouvir. ‘Quero permanecer na esquerda’, logo ele está lá na esquerda, onde pediu. Essa é uma das formas que têm oferecido evidente e são de muito reverência. Acaba todo o barracão respeitando e seguindo”, disse Alessandra.

“A gente está falando do sagrado, e essa entidade existe mesmo. A gente sente que ela está conduzindo. Ela se comunica, se manifesta, sopra nos nossos ouvidos, em sonhos, a equipe toda e quem é sensível, evidente que a gente respeita quem não tem crença, mas quem é sensível sente essa força, a gente precisa respeitar e tentar ao supremo entender porque é ele o homenageado”, concluiu Zanon.

Reação dos componentes

O enredo foi muito recebido pelos componentes da Viradouro, que têm se empolgado com as histórias contadas pela escola. “Isso também é uma forma de se pensar a escola. Todo ano, quando termina o carnaval, recebemos uma série de mensagens do que o público e a escola querem. Você já começa a saber qual é o clima do que eles estão esperando. Faço essa avaliação e já se sabe se é por um caminho mais místico ou mais histórico.”

É a partir dessa estudo que o enredo é definido. “A escola precisa estar preparada para vestir aquele personagem daquele ano. Eles serão os artistas que vão encenar aquele papel na avenida. Se eles não se sentirem confortáveis ou defendendo aquela teoria, eles não vão trespassar muito nesse papel”, completou Alessandra.

“A jurema é uma árvore sagrada, um pau de ciência, uma vez que eles chamam. É uma [planta] acácia. Eles extraem dessa árvore o chá sagrado do toré dos pajés. Segundo a tribo Funiô, que é a nossa referência mor, no sentido da nossa pesquisa, cada tribo tem as suas lendas, ela era uma moçoila, uma jovem predestinada ao dom de trato, curava as pessoas dentro da tribo. Um dia ela foge para a mata, e aí o pajé vai ao encontro dela e ela se transforma em uma árvore de onde se extrai esse chá que é uma espécie de princípio ativo, uma vez que a auasca, e que a gente tomou e também nesse processo.”

Manter o barracão com o trabalho esgotante que costuma ter durante a preparação do carnaval é uma tarefa difícil que é desempenhada pela Alessandra. Ainda mais quando o enredo do ano anterior insiste em se manter potente na memorandum. Segundo ela, levante ano, a equipe está mais séria, talvez em função do reverência ao personagem homenageado. “Eles estão uma vez que se fossem operários de um trabalho que não tem essa alegria que o carnaval tem.”

Ainda assim, apesar do trabalho intenso, foi mais fácil do que os outros carnavais, acrescentou Alessandra. “Ele [Zanon] tem uma equipe inteira que o ouve. Isso é graças ao indumentária de ele  ser um carnavalesco que tem o dom da audição. Ele para para ouvir, mesmo que não tenha a ver com o enredo.”

Para fora do barracão, a equipe de carnaval preparou também um vocabulário músico com pontos do Malunguinho, músicas entoadas para a entidade. Disponível nos serviços de streaming de música, podcast e vídeo, a lista costuma ser ouvida pelos profissionais que trabalham no barracão. Tarcísio disse que muitos desses pontos ele ouviu de senhorinhas que transmitem a cultura oralmente. A escola fez uma seleção entre mais de 100 pontos e gravou com o seu carruagem de som.

Fonte EBC

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