Volta Do Oasis é Farsa? Definitivamente. Vale? Talvez 27/08/2024

Volta do Oasis é farsa? Definitivamente. Vale? Talvez – 27/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Tudo o que se lê na chamada deste texto é farsesco. Para principiar, seu enunciado principal é uma adaptação livre, eufemismo para traslado descarada, do título oferecido para um cláusula escrito pelo lendário jornalista britânico Alexis Petridis, do The Guardian, acerca da volta do Oasis para uma turnê de reunião em 2025.

Eu roubei do colega a farra com o nome do primeiro e mais pomposo álbum da margem britânica, “Definitely Maybe” (definitivamente talvez), lançado há oh-meu-Deus 30 anos. Não funciona tanto em português, mas “Nevermind” (tanto faz) —sim, repeti a gracinha com o disco do Nirvana que “todo mundo” ouvia antes da emergência do britpop.

Se obviamente sua audiência não era global, por que qualificar as malcriações dos irmãos Gallagher de inescapáveis? Porque sem excesso e arrogância juvenil é impossível narrar para a geração (Z? já me perdi) o que foi viver no planeta Terreno de 1994 a 1998, mais ou menos.

Tudo isso, farsa e teatralidade, é Oasis. Para quem tivemos o privilégio de frequentar e morar no Reino Unificado por um tempo naqueles anos, o som da margem não trazia a urgência do grunge de Seattle, e sim uma certa privança: pegue uma base de Beatles, adicione um naco de Sex Pistols, tempere com o glam do Slade e toques diversos.

Quando explodiu no festival de Glastonbury em 1994, o Oasis era mais uma “melhor margem de todos os tempos” daquela safra do semanário NME —sim, revistas de música traziam consigo cassetes e, depois, CDs para provar o que escreviam.

Dois anos depois, 250 milénio pessoas ouviram o grito de Noel Gallagher na rombo de um termo de semana com dois shows em Knebworth, perto de Londres: “Vocês sabem que estão fazendo história”, disse o insuportável cérebro da margem, enquanto dedilhava a rombo de “Columbia”.

Um em cada 24 britânicos fez a fatídica relação para a “hotline” que vendia os ingressos numa excruciante espera. No ano anterior, o segundo e também genial álbum do Oasis, (What’s the Story) Morning Glory?, vendeu porquê pão quente à razão de dois CDs por minuto nos templos da rede de lojas HMV.

O britpop, assim porquê o grunge mastigado e cuspido pela MTV, era um resultado mercantil de seu tempo, mas não só. Uma vez que dissecou em 2003 John Harris no seu livro “A Última Sarau”, a emergência de Oasis, Blur, Suede e outros foi casada com a geração de uma marca, Cool Britannia, a tentativa de ressuscitar a Swinging London dos anos 1960.

Era um projeto político adoptado pela volta dos trabalhistas ao poder em 1997. Foi a tempestade perfeita, e evidentemente uma farsa —seja no fracasso artístico do terceiro disco do Oasis, daquele mesmo ano, ou no transmutação do premiê Tony Blair de messias da esquerda light para poodle de George W. Bush.

Tudo o que está descrito cá pode tanger porquê passadismo: álbum, discos, loja de CD, traço telefônica. São reminiscências de um mundo que deixou de viver. Mas isso seria simplificador demais.

Fãs de rock são seres ancorados em alguns pontos da historia, portanto não me entenda mal quando digo que não há zero parecido ao britpop para quem respirou aquele ar. Se essa síndrome de era dourada é uma bobagem, a atomização da vida cultural em um streaming interminável por óbvio não facilita a vida do eventual leitor neste 2024 para definir onde ele se situa nessa timeline.

Pesa também a perenidade do Oasis. Duvida? Vá a um desses karaokês bacanas de São Paulo, porquê o Donchan, e veja em quanto tempo alguém irá pedir “Wonderwall”. Ah, mas tocou em romance nos 1990, alguém vai manifestar, para a questão óbvia: e você lá assistiu?

Ou por outra, o grupo tem peculiaridades que ajudam a trazê-lo vivo a 2024. A margem mobiliza sua base de fãs porquê um time de futebol —e não é preciso ir muito longe para identificar na sua origem a raiz que levou a coisas menos nobres, porquê o brexit. As tretas de Liam e Noel não estariam deslocadas do mundo das redes sociais.

Fechando o círculo, voltemos à deliciosa farsa da volta do Oasis. Ela o é, definitivamente, não menos porque parece motivada pelo espeto de R$ 145 milhões que Noel levou no processo de seu segundo divórcio, em 2023.

Toda reunião de margem é oportunismo anacrônico. Valerá a pena para alguém além dos contadores dos irmãos Gallagher? Musicalmente, o Oasis produziu pérolas cá e ali ao longo até a implosão, e sua formação final era mais afiada do que a original. Mas o cintilação dos dois primeiros álbuns já havia terminado.

Uma vez que o retorno só promete o caça-níquel, e não um pouco novo, estamos no terreno seguro de um mercado que entrega quase todo ano octogenários para consumo autofágico.

Se não promoverem um espetáculo decadente, Liam e Noel no palco têm tudo para fazer feliz uma legião de celacantos órfãos de uma margem que prometia vida eterna com cigarros e álcool. Com sorte, qualquer jovem poderá sentir o gostinho. Talvez.

Folha

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