A pouco mais de seis meses do início dos Jogos de Paris, a gestão do skate olímpico brasílio deixará de ser feita pela CBSk (Confederação Brasileira de Skate) e ficará com o COB (Comitê Olímpico do Brasil), determinou nesta quarta-feira (10) a World Skate, a federação internacional da modalidade.
Depois a edição olímpica em solo francesismo, ainda conforme indicou o órgão, a gestão do skate brasílio passará a ser feita pela CBHP (Confederação Brasileira de Hóquei e Patins), que terá até abril deste ano para executar algumas exigências, uma vez que conceder autonomia técnica e financeira para cada esporte sob seu comando e rebatizar seu nome para Skate Brasil.
“É uma pena para a World Skate que as duas federações reconhecidas do Brasil (a CBHP e a CBSk) não tenham conseguido chegar a uma solução em conformidade com o regime da World Skate, apesar de terem recebido todas as oportunidades e repetidos prazos para fazê-lo”, afirmou a World Skate.
A World Skate havia determinado um prazo até o último dia 31 de dezembro para que as duas federações fizessem um negócio sobre qual entidade representaria o esporte em Olimpíadas, mas não houve consenso.
A federação internacional exigia que, em países com duas confederações ou mais filiadas, elas teriam de se fundir em uma única, ainda que mantivessem gestões independentes.
A teoria, porém, nunca foi muito vista pelos skatistas brasileiros. A CBSk, que esteve junto com os skatistas nos Jogos de Tóquio, chegou a fazer duas assembleias para debater o tema. Em ambas, foi rejeitada uma fusão com a CBHP.
Em nota, a CBSk criticou a federação internacional. “A decisão [da World Skate] foi tomada de maneira arbitrária, sendo carregada de texto político e cercada por irregularidades.”
A confederação brasileira diz, ainda, que “seguirá trabalhando pela gestão do skateboarding em solo brasílio, já que a World Skate não pode interferir na autonomia pátrio sobre qual entidade deve gerir o esporte” e diz crer que “o Ministério do Esporte e o COB não seguirão essa decisão”.
A maior secção dos principais skatistas de tá rendimento do Brasil, incluindo os medalhistas olímpicos Rayssa Leal e Pedro Barros, é contra a decisão. Durante as assembleias feitas pela CBSk, eles fizeram repetir nas redes sociais uma campanha com o slogan em inglês “no merge”, que em português significa “sem fusão”, a exemplo do que fizeram esportistas de outras nacionalidades.
“Nós, skatistas, entendemos que a CBSk é a entidade que nos representa desde sempre. E não faz sentido para a gente ter outra federação para cuidar da nossa modalidade. É exclusivamente a CBSk que nos representa”, declarou Rayssa Leal em um vídeo.
A federação internacional, porém, informou às entidades que “consultaria a domínio esportiva do país” antes de tomar uma decisão sobre a entidade designada.
Nesse ponto, surgiu uma novidade divergência. Para a CBSk, a domínio seria o Ministério do Esporte, que deu parecer favorável à entidade para mantê-la uma vez que representantes da modalidade.
Para a CBHP, isso caberia ao COB (Comitê Olímpico do Brasil). “Em países democráticos, os governos não podem interferir nos comitês olímpicos”, diz o presidente da CBHP, Moacyr Junior. “O COB e uma federação internacional só respondem para o COI (Comitê Olímpico Internacional)”, acrescenta.
A posição da CBHP foi endossada recentemente pelo COB por meio de uma nota. “O Comitê Olímpico do Brasil informa ser uma exigência da Epístola Olímpica que exclusivamente uma entidade por país trate de todas as modalidades sob a responsabilidade da federação internacional correspondente. Ou seja, cabe à World Skate definir qual confederação será a responsável pela representação do skate no Brasil”, diz a entidade.
Na Epístola Olímpica, no entanto, não se encontra uma mandamento específica sobre qual deve ser a confederação a assumir os esportes sobre rodas em um país.
A discussão, que existe desde que o skate se tornou olímpico, virou disputa política quando o presidente da CBSk, Eduardo Musa, indispôs-se com o comando do COB, colocando-se uma vez que uma oposição ao grupo do presidente Paulo Wanderley, e com a World Skate, que é administrada por dirigentes oriundos da patinação.
O cartola brasílio chegou a ser suspenso pela World Skate depois de reclamar publicamente da retirada de um campeonato mundial do Rio de Janeiro. No caminho contrário, Moacyr Junior, presidente da CBHP, tem ótima relação tanto com o COB quanto com a World Skate.
“A World Skate não pode determinar pelo país quem é que toca, porque senão fica uma decisão extremamente política”, critica o presidente da CBSk.
Musa questiona, ainda, uma vez que a CBHP fará para receber a verba pública destinada ao skate sem os certificados 18 e 18-A, do Ministério do Esporte, que, segundo ele, a confederação não possui atualmente. O certificado garante que as entidades do Sistema Pátrio do Desporto (SND) recebam recursos públicos.
O mandatário da CBHP afirma que a entidade que preside desde 2014 está em processo para comprar os certificados. Mas também assegura que isso não vai prejudicar os atletas na preparação para Paris uma vez que, segundo ele, o próprio COB pode fazer a gestão dos recursos.
“Esse avião não vai tombar”, diz ele. “É o COB que repassa o verba para a realização do planejamento dos atletas na preparação para Paris. Esse avião já está voando e vai continuar assim, seja qual for a entidade que vai gerir”, acrescenta.
Para Musa, “essa situação já prejudicou” os atletas. “Dá para manifestar seguramente que janeiro é um mês perdido nessa preparação para os Jogos de Paris”, afirma. “Mas podemos remediar e seguir em frente.”