Zé Do Caixão Chega A São Paulo Com 10 Filmes

Zé do Caixão chega a São Paulo com 10 filmes no IMS – 08/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Nuvens escuras e tenebrosas gravitam sobre a avenida Paulista, mais exatamente em cima do Instituto Moreira Salles (IMS), neste mês de dezembro. É que a entidade vai exibir, pela primeira vez em São Paulo, as nove obras restauradas, produzidas entre 1964 e 1978, que trazem o melhor do cinema cru e potente de José Mojica Marins, morto em 2020.

Além desses nove títulos, o filme de 2008, “Encarnação do Demônio”, que fecha a trilogia do personagem Zé do Caixão, completa a mostra. Antes, as novas versões foram exibidas em Madrid, na Espanha, e em Belo Horizonte.

O restauro foi feito no ano pretérito para a distribuidora norte-americana Arrow Films, que lançou os filmes em uma caixa. Aliás, o responsável pelo serviço, o cineasta Paulo Sacramento, dará palestra gratuita dentro da mostra sobre o trabalho no dia 18/12.

Acompanha o festival maldito uma pequena seleção de filmes de terror mexicanos que antecederam a geração do personagem Zé do Caixão, em 1963. É a mostra México Macabro 1958-1961, com quatro filmes exibidos alternadamente até 21/12.

Quanto às obras muito famosas, mas pouco assistidas de Mojica, eis um pequeno guia do que buscar em cada filme e três imagens que mostram cenas dos filmes antes e depois dos restauro.

Antes e depois

Zé do Caixão em cena de “À Meia-Noite Levarei Sua Psique”, de 1964, antes e depois do restauro

Divulgação

À Meia-Noite Levarei Sua Psique“, 1964. Com um orçamento ridículo em mãos, Mojica inventa efeitos especiais porquê colocar um trecho de negativo no meio dos positivos para simular almas penadas ou grudar purpurina em volta de um espírito, quadro por quadro. Para montar a floresta, os alunos da escola de cinema de Mojica desbastaram o Largo de Arouche, durante uma madrugada paulistana.

Antes e depois

Aranhas em cena de “Esta Noite Encarnarei no Teu Sucumbido”, de 1967, antes e depois do restauro

Divulgação

“Esta Noite Encarnarei no Teu Sucumbido”, 1967. Com a descida de Zé do Caixão ao reino de Satanás, o cineasta Mojica teve que fabricar um inferno. Incapaz de fazê-lo com queima, decidiu pelo gelo. Foram construídas paredes de gesso, de onde saíam braços e pernas dos alunos de Mojica. Para a cena do imperador romano, criou um efeito próprio expondo duas vezes o mesmo negativo, mas desmontando a lente e colocando um pedaço de papelão em metade dela. A neve que cai é pipoca animada por ventiladores. De preto e branco, o filme deslumbra a plateia ao permanecer tingido nas cenas do inferno. Outro ponto sobranceiro: mulheres de camisola transparente enfrentam cobras —emprestadas do Butantã— e caranguejeiras —de um pesquisador maluco de Cosmópolis (115 km de São Paulo).

Antes e depois

Cena de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, de 1968, antes e depois do restauro

Divulgação

“O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, 1968. Depois o filme anterior, Mojica vendeu a um produtor os direitos dos próximos filmes de Zé do Caixão —o que o impossibilitou de poder fazer os filmes ele mesmo. Por isso, no terceiro incidente desse filme de três partes, Mojica interpreta o professor Oaxiac Odez (leia esse nome num espelho). O pescoço esfaqueado e o sangue escorrendo que vemos no final é um pescoço verdadeiro, mas de porco —o bicho foi levado ao estúdio para ser sangrado e morrer em cena.

“O Despertar da Besta”, 1969. Exibido pela primeira vez somente em 1983, o filme esteve proibido pela increpação da ditadura militar durante 14 anos. Psiquiatra administra LSD em quatro pessoas para estudar os efeitos da droga. Mojica dizia que um dos policiais que aparece espancando um varão é Sérgio Paranhos Fleury, seu fã, além de ser solicitador do Dops —onde teria sido torturador do regime militar e pai de um esquadrão da morte. Outro policial que atua nesse filme sobre drogas é o varão obeso que come macarrão.

“Finis Hominis”, 1971, e “Quando os Deuses Adormecem”, 1972. Díptico com uma espécie de guru e vidente que anda pela cidade dando lições de moral e pregando sua filosofia. No primeiro filme, Mojica recria uma cena que ele contava ter presenciado na puerícia: um varão com catalepsia se levanta do caixão durante seu próprio velório.

“A Estranha Hospedaria dos Prazeres”, 1975, e “Inferno Lúbrico”, 1976. No primeiro, de chapéu-coco, Mojica recebe viajantes em sua hospedaria durante uma noite tempestuosa. O segundo é a refilmagem de um dos episódios da segunda série de TV de Mojica, “O Estranho Mundo de Zé do caixão”, de 1968, na Tupi. A primeira havia sido na Bandeirantes.

“Delírios de um Irregular”, 1978. Abusando da metalinguagem, Mojica interpreta Mojica, um cineasta de sucesso que explica para um psiquiatra que Zé do Caixão não existe na vida real. Só que o Mojica na tela é um milionário, que mora numa mansão, fuma charutos e beberica scotch, enquanto seus alunos se refrescam na piscina. Na vida real, Mojica não tinha onde tombar morto, vendia o almoço para remunerar o jantar, fumava um estoura-peito sem filtro e caía de bêbado quase toda noite. Quase metade do filme é formado de delírios dos personagens, todas eles cenas reaproveitadas de suas obras anteriores com Zé do Caixão.

“Encarnação do Demônio”, 2008. Depois 40 anos, Mojica conseguiu realizar o terceiro filme da planejada trilogia com a história de Zé do Caixão, iniciada em suas duas primeiras obras. Para essa filmagem. o porco já chegou morto.

Folha

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