Zé Do Caixão Reencarna Em Caixa Com Filmes Restaurados

Zé do Caixão reencarna em caixa com filmes restaurados – 13/01/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A empresa americana Arrow Films lança nesta segunda (15), nos mercados americano e britânico, uma caixa com nove filmes restaurados de José Mojica Marins, morto em 2020, estrelados pela sua maior geração, o Zé do Caixão, e outros personagens do gênero do terror.

Antes e depois

Zé do Caixão em cena de “À Meia-Noite Levarei Sua Psique”, de 1964, antes e depois do restauro

Divulgação

Com seis discos no formato Blu-ray, em definição HD, “Inside the Mind of Coffin Joe” —dentro na mente de Zé do Caixão— traz dezenas de extras, uma vez que documentários e os trailers de cinema originais dos anos 1960 e 1970.

A caixa abrange 44 anos do cinema de Mojica, começando com “À Meia-Noite Levarei Sua Psique”, de 1964, e terminando com “Encarnação do Demônio”, de 2008, todos com legendas em inglês e a maioria com comentários do próprio diretor, gravados há alguns anos quando houve o lançamento de sua obra em DVD.

Completam o lançamento “Esta Noite Encarnarei no Teu Morto” (1967), “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968), “O Despertar da Besta” (1969), “Finis Hominis” (1970), “Quando os Deuses Adormecem” (1972), “A Estranha Hospedaria dos Prazeres” (1976) e “Inferno Devasso” (1977).

O restauro —em 4K, definição melhor que o HD, para futuras comercializações e exibições em TV ou cinema— foi feito do zero, graças à Cinemateca Brasileira, que mantinha várias latas de filmes antigos em suas geladeiras.

Durou um ano e meio e custou muro de R$ 1 milhão —bancado pela Arrow Films, mas realizado no Brasil, nos laboratórios da Cinecolor, sob a coordenação de Paulo Sacramento, produtor e montador do último filme do Zé do Caixão, “A Encarnação do Demônio”.

“Foram usadas diversas fontes, sempre as melhores possíveis, para resgatar cada um dos filmes. Usamos negativos originais, positivos e interpositivos [cópias especiais para armazenamento] e conseguimos reconstruir cenas e diálogos inteiros perdidos. Em um caso, ‘Quando os Deuses Adormecem’, o jeito foi usar o único positivo encontrado, já bastante avariado”, conta Sacramento.

Pode-se relatar nos dedos de uma mão o número de filmes brasileiros já restaurados em 4K, uma vez que “Deus e o Diabo na Terreno do Sol”, de Glauber Rocha, filme de 1964, coincidentemente o mesmo ano em que Zé do Caixão viu pela primeira vez a luz de um projetor.

Ter nove obras recuperadas assim, de uma vez, é, portanto, um pouco inédito para o cinema brasiliano. E, uma vez que já é geral no caso de Mojica, o interesse vem de uma empresa forasteira e para o mercado internacional. Nos últimos dias, a caixa já foi objeto de reportagens em pelos menos oito revistas estrangeiras especializadas em terror.

“Os filmes de Zé do Caixão representam uma das coleções mais selvagens e criativas do cinema mundial, e seu cineasta, José Mojica Marins, é um verdadeiro visionário do gênero terror. Por muitos anos, no entanto, foi difícil ver esses filmes em qualidade decente ou mesmo em versões completas”, afirmou à Folha o director do departamento técnico e de restauro da Arrow, James White.

“A Arrow colaborou com Betina Goldman, da One-Eyed Films [representante da obra de Mojica no exterior], para restaurar esses clássicos notórios a partir dos materiais originais, todos os quais agora podem ser vistos no novo lançamento.”

Antes e depois

Aranhas em cena de “Esta Noite Encarnarei no Teu Morto”, de 1967, antes e depois do restauro

Divulgação

Os filmes de Mojica, de indumento, estão uma vez que nunca estiveram. Detalhes escurecidos, quadros riscados, abrasões, tudo isso foi limpo de uma forma que parece ter sido filmado agora. O resultado impressiona, uma vez que se pode ver nas fotos antes e depois que acompanham esse texto.

Impressionou até mesmo Crounel Marins, fruto do cineasta que —ao lado de sua mana Liz Marins— é guardião da obra do pai. “Fui ver o restauro de ‘À Meia-Noite Levarei Sua Psique’ e tem uma cena em que o Zé do Caixão aparece falando com a personagem Terezinha”, diz ele.

“Ele está de lado e, quando sorri, vi pela primeira vez que falta um dente lateral na boca do meu pai! Eu já vi esse filme dezenas de vezes, em cinemas ou TVs, e nunca havia reparado nesse pormenor. Porque não estava visível”, conta Marins.

Antes e depois

Cena de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, de 1968, antes e depois do restauro

Divulgação

Para a família, mais do que o lançamento dessa caixa, importa o restauro dos filmes e o harmonia feito com a Arrow. Os herdeiros têm agora os direitos do novo material para vender em todo o mundo, com exceção de Estados Unidos e Reino Unificado.

E, mesmo nesses dois locais, recuperarão os direitos dentro de sete anos. Segundo Crounel e Liz Marins, conversas já estão em curso para um verosímil lançamento vernáculo de uma caixa semelhante.

Um dos profissionais envolvidos no resgate foi o pesquisador de cinema brasiliano Carlos Primati. Ao lado de Sacramento, Primati conseguiu refazer o trailer perdido de “À Meia-Noite Levarei Sua Psique”. Nenhuma transcrição em filme, seja em negativo ou positivo, foi encontrada. Havia somente uma versão em VHS em posse de Primati.

Sacramento capturou as cenas do filme que apareciam no trailer e remontou a peça, enquanto Primati conseguiu, com a ajuda de um colega, recriar as animações tipográficas que apareciam aplicadas em cima das imagens, uma vez que “violência” e “sadismo”.

Entre os extras, há novas entrevistas com uma série de especialistas estrangeiros e brasileiros, uma vez que o cineasta Dennison Ramalho, falando a reverência da obra do diretor e ainda um libreto com textos inéditos sobre os filmes e o restauro.

Está também o documentário “Maldito: O Estranho Mundo de José Mojica Marins”, dirigido por André Barcinski e por leste repórter, com base na biografia homônima lançada pelos mesmos autores em 1998. Em 2001, com a presença de Mojica, o filme foi premiado no festival de Sundance, nos EUA.

E, pela primeira vez, as aventuras do cineasta naquela viagem para a gelada Park City, em Utah, há 23 anos, estão disponíveis no curta-metragem rememorativo “Mojica na Neve – Esta Noite Encarnarei em Sundance” (2001).

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *