10 Livros Para Crianças Largarem O Celular Também Em Casa

10 livros para crianças largarem o celular também em casa – 24/02/2025 – Era Outra Vez

Celebridades Cultura

Há mais ou menos um mês, desde que as aulas voltaram nas escolas, muita coisa mudou dentro das salas de lição brasileiras. Com a aprovação da lei 15.100/2025, que restringe o uso dos celulares por secção dos alunos nos colégios, um velho debate se tornou um novo duelo para crianças, adolescentes, pais e educadores —enfim, uma vez que distanciar os estudantes desses aparelhos?

Até uma novidade termo começou a circunvalar por aí: nomofobia, aglutinação da sentença inglesa “no mobile phone phobia”, ou seja, a sofreguidão ou o desespero surgidos quando nos afastamos do celular.

É óbvio que a tecnologia e o mundo do dedo são inseparáveis da vida contemporânea, mas, ao mesmo tempo, especialistas em saúde mental e em ensino parecem concordar com a premência de restringir os estímulos digitais e de diminuir o tempo de exposição às telas, sobretudo entre crianças e adolescentes.

Para que essa separação não seja feita de supetão, causando uma nomofobia ainda mais acentuada, algumas mudanças de hábito são recomendadas. Em item publicado neste jornal, por exemplo, o psicólogo Daniel Guanaes propõe evitar o celular durante as refeições e desligá-lo antes de dormir.

Mas há uma instrumento que pode ser ainda mais eficiente nesse processo: o livro. A leitura —sim, aquela mesma, feita nos velhos e folhosos objetos de papel— maquinalmente cria uma fossa entre o leitor e o mundo do dedo. É uma vez que uma vacina contra a nomofobia. Um escudo diante da luz azul das telas.

Inferior, há dez opções lançamentos para crianças e adultos lerem juntos, mergulharem em outros universos e se esquecerem da existência do celular, ao menos por um tempo.

Origem

Levante livro fez fragor na última Feira de Bolonha, o principal evento mundial da literatura infantojuvenil, e chega agora ao Brasil. Nele, a artista franco-uruguaia Nat Cardozo convida crianças e adultos para uma viagem literária, etnográfica, artística, epistemológica e linguística por 22 povos originários de diversas partes do mundo. Entre a literatura e o livro informativo, “Origem” apresenta, por exemplo, o povo orang rimba, da Indonésia; o inuit, do Ártico; o bijagó, da Guiné-Bissau; o bribri, da Costa Rica e do Panamá; e muitos outros, entre eles também os yanomamis, que vivem entre o Brasil e a Venezuela. Cada sociedade tem seus saberes, organizações e tradições contadas por uma moço dessa etnia, o que faz tudo ser ilustrado com rostos de meninas e meninos que se misturam à geografia na qual vivem —lugares onde a terreno e o espírito se entrelaçam, onde varão e natureza muitas vezes são um só.


Kaaliawiri

Contam os piapocos da Amazônia colombiana que houve um tempo em que homens e bichos viviam juntos, falavam a mesma língua e não precisavam trabalhar nem plantar, pois Kuwaiseiri, o instituidor, fornecia comida para todos. Só que um dia ele decidiu esconder esses provisões. Com edição muito cuidada, levante livro reconta a história tradicional do povo indígena da Colômbia e apresenta a jornada fantástica dos personagens em procura da kaaliawiri, a árvore mágica que contém todas as comidas: pupunha, pimenta, banana, cará, mandioca, abacaxi, tabaco, cabaça e vários outros. Escrita pelo etnógrafo colombiano Francisco Ortiz, que ouviu o narrativa ser narrado pelo próprio líder piapoco Freddy Rojas, e ilustrada por Ciça Fittipaldi, artista brasileira que há décadas desenvolve um trabalho visual ligado a povos indígenas da Amazônia, a história transporta o leitor para um tempo em que antas guardavam pupunhas, jacarés comiam incêndio e todos vibravam no mesmo ritmo da natureza.


Converseiro da Natureza

“Eu queria aprender o linguagem das árvores.” O verso de Manoel de Barros ecoa silenciosamente pelas páginas deste livro e pelo íntimo das palavras de André Gravatá. “Esteja à escuta”, recomenda a obra logo no início, antes de costurar poeticamente o linguagem das lagartixas, a fala das lesmas, a língua pintada das onças e outras vozes que “se encontram, se esbarram, […] bailam e se embaralham”, mas que quase ninguém anda ouvindo nos últimos tempos. Enfim, tudo no mundo fala. Mas, para escutar, “é preciso entrar em estado de árvore/ é preciso entrar em estado de termo”, já escreveu o mesmo Manoel de Barros em outros versos que também ecoam pelas entrelinhas de “Converseiro da Natureza”. Não à toa, Kammal João assina as ilustrações deste livro —o artista é o mesmo que deu cores e traços às novas edições da obra de Barros publicadas pela Companhia das Letrinhas.


Saudade

Segundo livro de uma trilogia da dupla Alessandra Roscoe e Odilon Moraes, que teve início com “Quando as Coisas Desacontecem” (conheça cá), “Saudade” vai ainda mais fundo e faz o leitor reprofundar no próprio formato do livro ilustrado. No texto, Roscoe escreve poeticamente sobre uma vivenda que sonha em transpor do lugar e saber a extremo do mar. Já Odilon compõe as páginas e as imagens com alguns dos elementos que costumam formar a sua obra: janelas, silêncios e uma certa melancolia. Enquanto a casa-narradora pede ajuda para lagartas, pulgas e caracóis para tentar chegar ao litoral, nós acompanhamos a narrativa com o livro posicionado na vertical. Mas portanto tudo muda. Não vou recontar o final, mas até a direção da leitura se transforma. Para saber uma vez que a trama termina, é preciso rodopiar o livro e posicioná-lo na nivelado —é aí que texto, imagem e projeto gráfico se abraçam, mostrando que tudo é uma questão de ponto de vista.


Eu, Eu

Repare no sonido que existe ao nosso volta. Na barulheira. Na quantidade de notificações que apitam no celular. Na avalanche de novidades descartáveis que nos soterram. Em “Eu, Eu”, Yuri de Francco e Marcelo Tolentino propõem uma pausa. Mais do que isso, eles assinassem um manifesto em texto e imagem contra as invisibilidades geradas pelo zum-zum-zum do nosso dia a dia. Tudo começa com personagens que propagandeiam as próprias inteligências e a quantidade de informações que têm. “A baleia-azul é o maior bicho do planeta Terreno”, diz um. “Algumas nuvens podem tarar toneladas”, afirma outro. Até que essas frases se sobrepõem e criam uma espécie de chiado visual, mostrando que informações infinitas e desordenadas são ótimas para também fazer bagunça e desinformar —aliás, basta entrar nas redes sociais para perceber isso. Quando tudo se torna um caos, o livro muda de direção. O leitor precisa rodopiar o objeto 90 graus para continuar a leitura. Portanto o texto desaparece, os ruídos se aquietam e começamos a enxergar a venustidade que nos rodeia.


Meu Pai Saiu para Fazer Barcos

É com enorme delicadeza que Pablo Morenno e Lumina Pirilampus contam uma história brutal: a saga de uma moça das quais pai foi recluso e levado pela polícia muito na sua frente. Antes de entrar no coche dos policiais, o varão faz uma promessa para a filha. Diz que um dia vai levá-la para saber o mar, erigir um navio, comprar uma ilhota e fazer uma colmado, onde vão morar ao lado da mãe. Usando esses elementos uma vez que metáforas para simbolizar a liberdade e a privação dela, a obra espalha pelas páginas barquinhos de papel e navios presos em garrafas de vidro que funcionam uma vez que cortinas para o olhar infantil que vê delicadeza até nas situações mais duras. A narrativa coloca o leitor na pele de uma moço que se equilibra entre a esperança e a saudade —um ponto de vista valioso, sobretudo em tempos de encarceramento em tamanho e no qual presídios são vendidos uma vez que soluções para qualquer problema social.


Um Peixe Boiando no Ar

Um novo livro de Ricardo Azevedo já é motivo de sobra para comemorações. Mas “Um Peixe Boiando no Ar” é mais do que um lançamento com poemas e ilustrações inéditas de um dos principais autores brasileiros —a obra promove também a retomada da coleção Para Gostar de Ler, que se tornou um marco da história editorial do país. Em “Um Peixe Boiando no Ar”, Azevedo cria um mosaico de versos e imagens que, ao mesmo tempo, dialogam e se contradizem. Isso porque nenhum dos desenhos se limita a ilustrar os textos. É o contrário. Na verdade, eles são independentes e criam faíscas que ajudam a ampliar e a mudar as interpretações. “Não fique feliz/ nem triste./ Viemos ao mundo/ para produzir/ o que ainda não/ existe.”, afirma um dos textos. Vale a pena ler todos, mas destaco mais um, que tem tudo a ver com esta lista. Deixo só uma das estrofes: “Prisioneiros da telinha/ já não sabem olhar em volta,/ nem percebem a diferença/ entre a silêncio e a revolta”.


O Livro dos Limeriques

Limerique é um tipo de poema de forma fixa, com unicamente cinco versos, que nasceu na Europa e foi popularizado no século 19 pelo inglês Edward Lear, a ponto de se tornar um dos tipos de trova mais importantes da língua inglesa. Mas foi no Brasil que ele ganhou ziriguidum e borogodó. Além das traduções de Lear feitas por cá, Tatiana Belinky era uma grande entusiasta desses poemas e lançou diversas coletâneas de limeriques. Agora é a vez de Fabrício Corsaletti, poeta que recebeu o prêmio Jabuti de melhor livro do ano em 2023 por “Engenheiro Fantasma”, reprofundar na forma e lançar “O Livro dos Limeriques”, selecta com 30 poemetos amalucados e ilustrados por Yara Kono. Neles, tudo é provável, de um jeito que só a trova consegue fazer. Quer ver? “vi um pato de patins/ com bojo de pudim/ nadando no lago/ por obséquio, um mago!/ quero resvalar assim…”.


Sabor Paciência

Depois de se solidificar uma vez que um dos nomes incensados da literatura contemporânea brasileira, Mariana Salomão Carrara faz sua estreia na literatura infantojuvenil em “Sabor Paciência”, história com um nonsense salpicado de sorvete. Nele, conhecemos Gabriel, que entra na fileira infinita de uma sorveteria durante o seu natalício de cinco anos. A partir daí, Carrara manipula a risco do tempo para folgar com a impaciência do menino diante da vagar para fazer o pedido —de repente, ele já é jovem, entrou na faculdade, virou designer de pijamas, professor universitário e até inventou um sapato que cresce junto com o pé, tudo ilustrado pelas canetinhas do italiano Giovanni Colaneri. O efeito é um livro recreativo, que tem ao mesmo tempo sabor de paciência, sorvete e também de puerícia.


Outra Coisa

“Toda tarde, depois da escola, eu adoro desmontar meus brinquedos para ver o que eles escondem dentro.” Assim começa “Outra Coisa”, obra da peruana Katya Adaui e da argentina Cecilia Codoni, que apresentam uma moça curiosa que adora procurar tudo quanto é bugiganga e velar punhados de pecinhas soltas e outras quinquilharias. Para quê? Ela também não sabe, mas diz que um dia vai desvendar. Até que, com a ajuda do pai, os dois começam a colocar a mão na tamanho e a dar forma à sucata. “Quando usamos as mãos, a imaginação voa”, diz o varão. Para desvendar o que a dupla vai erigir, é preciso ler o livro. Mas não custa já ir pensando no que crianças e adultos podem montar juntos na vida real com latas, madeiras, fios, papelões e outros materiais descartáveis —enquanto celulares e telas ficam muito longe, é evidente.

Folha

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