Agnieszka szpila escreve livro sobre 'sexo com a terra'

Agnieszka Szpila escreve livro sobre ‘sexo com a Terra’ – 18/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A polonesa Agnieszka Szpila está brava. Brava, não, na verdade está “emputecida”, uma vez que escreve no início de seu novo “Feitiços”. Na ficção, é a empresária Anna Szabel quem encarna a bravura da autora, revoltada com o ativismo ambiental e tudo que a afaste da rica e asséptica Podkowa, a 30 quilômetros de Varsóvia.

Na vida real, Szpila fala por si própria e não se acanha em solevar a voz, mesmo diante do primeiro-ministro polonês Donald Tusk.

Szpila é a mãe orgulhosa de três meninas. As duas primogênitas, gêmeas de 18 anos, nasceram com proporção proeminente de autismo e demandam cuidados intensivos 24 horas por dia. Para conceder entrevistas ou redigir, ela aproveita a janela enxuta de tempo que sobra enquanto as filhas vão à escola, porque não há quem, além de Szpila e do marido, assuma a missão sem cobrar por isso.

Foi justamente pedindo por mais auxílio do governo às famílias com pessoas com deficiência que Szpila acabou filmada e apareceu na internet, a voz carregada de indignação, diante de Tusk.

“Quando eu fico nervosa, posso ser perigosa para os políticos. Já os ouvi manifestar ‘Szpila pode se emputecer, logo é melhor não chateá-la’. E isso é uma estupidez, eu me sinto uma vez que uma mafiosa”, diz à Folha, por chamada de vídeo.

Vez ou outra, Szpila pode relatar com a ajuda de bons amigos. Auxílios luxuosos já vieram, por exemplo, da Nobel de Literatura Olga Tokarczuk, também polonesa, que entre outras gentilezas acelerou filas de exames pelos quais as gêmeas de Szpila esperavam havia anos.

“Olga diz que nossos últimos livros [“Feitiços” e “The Empusium: A Health Resort Horror Story”, sem tradução em português] conversam entre si. Ela é minha rabi, principalmente em relação ao realismo mágico”, afirma.

Em “Feitiços”, o recurso literário que confere ares fantásticos ao texto está por todo esquina. “É a única forma de lutar contra a crise da imaginação. E não acho que possamos mudar zero no mundo sem a imaginação, que não é muito usada pelas pessoas que estão no poder”, provoca Szpila.

“Elon Musk sabe usar a imaginação, mas não faz isso para o muito. E penso que a única resposta que podemos dar ao que ele e [Donald] Trump fazem é reconfigurar nossa imaginação, uma vez que se faz no realismo mágico. Ali, os personagens sofrem um momento de disrupção por meio de um tanto que não é real, e atingem uma novidade exigência.”

“Feitiços” traz duas histórias, uma dentro da outra, começando por aquela da empresária Anna Szabel, irritada “pelos três pês”: pênis, política e patriarcado. Frustrada em lar, é pelo trabalho numa companhia de petróleo que Szabel se realiza —odeia o Greenpeace e adora a boa vida que o gordo salário lhe proporciona.

Uma noite, a empresária entra em “transe sonambúlico” e sua vida vira de cabeça para plebeu. É quando o realismo mágico se aprofunda e a verve ecofeminista do livro se revela pela história de mulheres que fazem paixão com a Terreno, deixando-se sugar pelas suas fendas.

“Isso não é piada, sabe? Há pessoas que se definem uma vez que ecossexuais. Você conhece Annie Sprinkle?”, pergunta Szpila, se referindo à sexóloga americana que cunhou o termo.

“Em resumo, é pensar no planeta uma vez que a Amante Terreno, e não a Mãe Terreno. Mães são pessoas que você pensa que devem tudo a você por pretexto dos seus traumas de puerícia, logo você acha ok perfurar essa mãe em procura de petróleo e pujança. Quando ela é uma amante, a relação fica mais equilibrada, suave e gentil. Cá, você não tem mais recta de trazer sofrimento para o planeta.”

A história da segunda protagonista de “Feitiços”, Mathilde Spalt, que mistura feiticeiras e mulheres que gostam de montar com as pernas escarrapachadas em tudo que agrade seu corpo —principalmente tocos de árvores, rizomas e musgos— não desagradou à Igreja sítio, diz a autora.

“Mas minhas falas são citadas por homens de direita, que me ameaçam e me chamam de inimiga pública da Polônia. Evidente que senti terror deles, mas também fico muito orgulhosa”, afirma.

“Ao fabricar essa história, me senti conectada a uma sociedade de espíritos ancestrais. Agora, quando participo de protestos feministas, ou pelos direitos das pessoas com deficiência, não vou mais uma vez que Agnieszka Szpila. Vou junto com todas elas, os fantasmas das mulheres que terminaram suas vidas queimadas em fogueiras ao longo da história.”

Folha

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