Um ditado popular diz que não se deve falar de política, futebol e religião. Para o redactor Ariano Suassuna, não era muito assim. Católico assumido, torcedor do Sport e progressista ligado à esquerda, o paraibano que também está no coração dos pernambucanos deixou marcas em diversos gêneros da literatura e das artes.
A morte do redactor completa dez anos nesta terça-feira (23). Ele morreu em 23 de julho de 2014, dias em seguida tolerar um AVC (Acidente Vascular Cerebral).
O redactor nasceu na Paraíba em 1927 e foi para Pernambuco por decisão da família em seguida seu pai ser assassinado no Rio de Janeiro, quando era deputado federalista pela Paraíba, por motivos políticos. João Pessoa foi sucessor do pai de Ariano, João Suassuna, porquê presidente da Paraíba, função equivalente hoje ao de governador. As obras de Ariano se passam na Paraíba majoritariamente.
Com a chegada ao Recife, a família teve maior liberdade, incluindo Ariano, que perdeu o pai aos três anos de idade.
Para João Suassuna, neto do redactor, o avô não morreu, ele se encantou, porquê dizia Guimarães Rosa, que era colega de Ariano. O neto mais velho do redactor é responsável por coordenar as ações de preservação e disseminação do seu legado.
“Geralmente, quando um artista morre, a gente vê diminuir a intensidade, Ariano está cada vez mais vivo, atuante, nas diversas personalidades dele”, diz.
Ariano é responsável de tradicionais clássicos da literatura pátrio, porquê “O Auto da Compadecida”, “O Sedutor do Sertão” e o “Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”.
As obras de Ariano eram separadas, mas tinham fios condutores para conectá-las. Isso porque há similaridade entre alguns personagens e resgates de histórias e relações sociais, econômicas e políticas entre elas.
“No ‘Auto da Compadecida’, por exemplo, temos a exploração do varão pelo varão, prevaricação, a Igreja, senhor de terras, padeiro e mulher do padeiro são burgueses que exploram os trabalhadores. É uma obra supratemporal”, diz o professor Carlos Newton Júnior, do departamento de Artes da Universidade Federalista de Pernambuco.
Carlos Newton conviveu por mais de 30 anos com Ariano Suassuna e é responsável por reimprimir suas obras e produzir lançamentos de novos itens, porquê materiais completos somente com poesias —oriente a ser lançado ainda. Em 2017, por exemplo, foi lançado o livro “o Jumento Sedutor”, obra que Ariano tinha escrito antes de morrer.
Para isso, o educador fez um vasto trabalho de coleta envolvendo pesquisas em jornais e revistas, além de materiais que Ariano tinha oferecido a Carlos Newton, que foi seu aluno no curso de Arquitetura na UFPE. Ele lecionava uma disciplina sobre estética.
Aliás, recentemente, foi lançada uma edição comemorativa sobre o romance “A Pedra do Reino”, livro que possui mais de milénio páginas.
“A obra de Ariano sempre teve um nível de qualidade muito saliente. Ele conseguia mourejar com maestria em vários gêneros, era o diferencial dele para outros escritores”, diz Newton.
Um dos focos tem sido ampliar a presença das obras de Ariano junto ao público infantojuvenil. Recentemente, a editora Novidade Fronteira publicou uma obra somente com produções de Ariano que se encaixam no perfil voltado a crianças e jovens. Reedições de obras, porquê a de “O Sedutor do Sertão” em 2020, também fazem segmento da estratégia de resgatar as suas produções literárias.
Outro ponto de aproximação com o público é o filme “O Auto da Compadecida 2”, que será lançado no dia 25 de dezembro deste ano, porquê um presente de Natal para o público brasílio.
“Não é refilmagem, é uma prosseguimento 25 anos depois. O livro foi escrito em 1955 sobre a dezena de 1930. O filme de Guel Arraes saiu em 1999 e agora o segundo será em 2024, sobre a dezena de 1950. Ou seja, são 25 anos tanto do livro quanto do filme. Isso foi uma escolha nossa porque os atores envelheceram e o lapso temporal será respeitado”, explica João.
O neto de Ariano também deu pistas do que terá no novo filme. “João Grilo e Chicó se separam, por um motivo que não posso proferir. João Grilo é o faceta que ressuscitou, se torna um mito, um milagreiro, e a ação começa a partir daí com os dois fazendo uso dessa questão de João Grilo ser um faceta que ressuscitou.”
No sábado (27), um trecho do filme será revelado em primeira mão durante uma feira cultural realizada no Teatro Pedra do Reino, na capital paraibana.
“Não é fundamentado num livro, mas Ariano começou essa teoria em vida com Guel, mas é baseada no universo de Suassuna em uma grande homenagem”, diz João.
Com “O Auto da Compadecida”, o redactor ganhou a medalha de ouro do Festival de Amadores Nacionais em 1957. Daí em diante, passou a ser requisitado para grafar obras de teatro na cena cultural de São Paulo e do Rio de Janeiro. O livro já foi traduzido e publicado em países porquê Estados Unidos e França.
Ariano também era um patriótico, uma particularidade que também fez segmento do Movimento Armorial, fundado pelo redactor anos anos 1970 com o objetivo de impulsionar ações culturais com raízes brasileiras.
Atualmente, “O Museu Ariano Suassuna, Sonho e sEperança” é uma exposição imersiva sobre a vida do cantor na capital da Paraíba —redactor não chamava de João Pessoa. Em dezembro, deve suceder no Recife.
“É com o Ariano incógnito de pessoas comuns, o fruto, o marido, pai, avô e o Ariano cidadão, aí vem Ariano pessoa pública, professor, redactor, palestrante, secretário de Cultura”, conta João Suassuna.
A família do redactor planeja fazer um instituto na própria residência onde ele morava, mas não há previsão para que isso aconteça. Sua esposa, Zélia Suassuna, mora na lar, no Poço da Panela, zona setentrião do Recife.
Ariano exerceu cargos de secretário de Cultura de Pernambuco e de assessor próprio do governo estadual, nas gestões de Miguel Arraes e de Eduardo Campos, ambos do PSB. Uma das principais ações foi transformar espaços com manifestações culturais em anfiteatros, além de promover aulas-espetáculo com diversas manifestações artísticas nos municípios.
Os vínculos também foram para o campo familiar. O pai de Eduardo, o também redactor Maximiano Campos, morava próximo à lar de Ariano, enquanto Miguel Arraes se aproximou do redactor em seguida voltar do exílio na Argélia, nos final dos anos 1970.
Durante a ditadura militar, Ariano Suassuna escondeu amigos que eram perseguidos pelo regime na sua lar. No período, ele também participou do Parecer Vernáculo de Cultura em seguida ter o aval de Dom Hélder Câmara, padre de Olinda e Recife que era contra a ditadura.
Uma das últimas aparições públicas de Ariano foi durante uma aula-espetáculo no Festival de Inverno de Garanhuns, no interno de Pernambuco. Dias depois, passou mal e morreu em seguida a internação.
Quase um ano antes, Ariano se recuperava de um infarto e conversou com o professor Carlos Newton Júnior. Ele disse ao educador que não tinha temor da morte. “Ele disse que só queria uma morte sem grandes traumas”, afirmou.
No futebol, Ariano era torcedor do Sport Club Recife —e costumava vestir vermelho e preto. Em homenagem, o time lançou em 2023 a camisa Sport fino, em referência ao dramaturgo, uma das mais vendidas do clube.
Dez anos em seguida sua partida, Ariano Suassuna está presente nas redes sociais, também para aproximar a memória dele do público das plataformas digitais. O perfil @arianosuassunamestre tem 714 milénio seguidores e vídeos que superam 7 milhões de visualizações. Um dos mais conhecidos é um em que Ariano fala sobre viagens de avião. “As viagens de avião se dividem entre as tediosas e as fatais”, disse.